EUA buscam 'estabilidade possível' no caldeirão do Oriente Médio
Autor de obra lançada em fevereiro diz que região continua prioritária para Trump, que tem mantido discurso hostil ao Irã, em viagem ao Reino Unido
Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7
Seja em momentos de maior turbulência ou não, a presença dos Estados Unidos no Oriente Médio é constante. Mas, desde a Primeira Guerra Mundial, muda de características de acordo com a situação.
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Nestes últimos meses, em que a efervescência da Guerra da Síria, a pressão sobre a ditadura da Arábia Saudita e a retórica belicista da Turquia diminuíram de intensidade, pelo menos no noticiário, os Estados Unidos não desviaram a atenção sobre a região. E mantêm uma postura hostil ao governo do Irã.
Em sua primeira viagem como presidente ao Reino Unido, Donald Trump tem como um dos objetivos deixar clara a importância do apoio logístico à região, para onde o país enviou um porta-aviões e uma frota de bombardeiros B52, no último dia 6. Segundo o governo americano, a intenção é se precaver de ameaças iranianas.
Trump, que chegou a Londres nesta segunda-feira (3), impôs, desde o início de seu governo, um tom ameaçador ao Irã, na tentativa de conter um suposto programa nuclear voltado à construção de armamento pelo país asiático.
Já o Reino Unido e a cúpula da União Europeia, defendem a manutenção do acordo nuclear assinado em 2015.
Por trás do discurso duro dos Estados Unidos, está o objetivo de manter a influência em todas as vertentes possíveis, mantendo uma espécie de "Guerra Fria" local, para que, ao mesmo tempo que a ameaça de um conflito não desapareça, possibilitando a venda de armamentos, o "caldeirão" da região não descambe para uma situação sem controle.
Para o professor Danilo Porfírio de Castro Vieira, professor de Relações Internacionais e Direito do Uniceub (Centro Universitário de Brasília), apesar de diferenças de estilo entre administrações democratas e republicanas, o interesse americano tem uma essência básica:
"A preocupação central dos norte-americanos é manter uma estabilidade possível no Oriente Médio, viabilizando seu acesso ao petróleo na região, recurso necessário para a manutenção de sua supremacia. Digo estabilidade possível, pois impasses históricos continuam, como o drama palestino, reivindicações curdas, insurgências de cunho religioso, tensões entre potências regionais."
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A região continua sendo prioritária para qualquer governo americano, na opinião de Castro Vieira, que em fevereiro último lançou o livro "Política Externa Norte-Americana no Oriente Médio e o Jihadismo".
Mesmo que, para isso, ao contrário dos tempos da autêntica Guerra Fria, com a União Soviética, os Estados Unidos agora sejam obrigados a demonstrar um certo conformismo em dividir com a Rússia a influência local.
Castro Vieira considera essa uma nova realidade, que não deverá se alterar nos próximos anos. Primeiro, porque o poderio bélico da Rússia ainda preocupa. E segundo, porque fustigar o Irã é uma maneira de fortalecer um importante parceiro comercial, a Arábia Saudita. Em outras palavras, a ideia é "ser firme, pero no mucho."
"Outra pioridade americana é conservar as alianças com os sauditas, fornecedor prioritário de petróleo aos norte-americanos. Isso pressupõe enfraquecer o arco xiita, em especial o Irã. A Síria, no entanto, ainda ficará sob influência russa."
O professor considera que, neste contexto, Israel segue exercendo um papel fundamental para os interesses dos Estados Unidos.
"A ação dos Estados Unidos é para a manutenção de seus interesses e proteção de seus aliados estratégicos. Isso passa por manter Israel como seu aliado prioritário, já que o país é representante do modo de vida ocidental no Oriente Médio."
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