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EUA e Cuba anunciam reaproximação histórica

Países haviam cortado relações diplomáticas há mais de 50 anos

Internacional|Do R7

Proposta de Obama ainda depende da aprovação do Congresso norte-americano
Proposta de Obama ainda depende da aprovação do Congresso norte-americano

Os presidentes dos EUA e de Cuba, Barack Obama e Raúl Castro, respectivamente, deram um passo histórico e anunciaram no dia 17 de dezembro a retomada das relações diplomáticas entre os dois países, congeladas há 53 anos.

Os planos de reaproximação incluem a abertura de uma embaixada americana em Havana nos próximos meses, o relaxamento da proibição de remessas de dinheiro entre familiares e a permissão para a comercialização de itens privados na ilha, como carros e propriedades, e a criação de lojas privadas.

A medida foi elogiada por diversas autoridades mundiais, como representantes das Nações Unidas, do Mercosul e de vários países.

No entanto, a proposta de Obama ainda depende da aprovação do Congresso norte-americano.


Como o Partido Republicano, rival do presidente americano, detém a maioria das cadeiras tanto no Senado quanto na Casa dos Representantes (Câmara dos Deputados) e defende uma postura dura contra Cuba, analistas consideram improvável que o Congresso apoie fazer com que as relações se normalizem.

A decisão do presidente dos EUA de iniciar um diálogo imediato com Cuba para restabelecer os vínculos diplomáticos entre os dois países inaugurou um novo capítulo na tensa relação entre os países.


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O anúncio coincidiu com a libertação "por razões humanitárias" do prestador de serviços americano Alan Gross, preso em Havana há cinco anos e que retornou na quarta-feira aos EUA.

A histórica aproximação chega após seis décadas de tensão e enfrentamentos que tiveram o ápice em 1962 com a "crise dos mísseis".

Os EUA, que logo depois da revolução cubana de 1959 reconheceram, em um primeiro momento, Fidel Castro como o novo líder da ilha, demoraram pouco a reconsiderar essa postura.

A reforma agrária cubana e a nacionalização de indústrias americanas dispararam os alarmes nos EUA, que decretaram a imposição gradual de restrições comerciais sobre a ilha.

As tentativas de estrangulamento econômico do regime de Fidel, oficializadas em 1961 com o embargo das relações comerciais e empresariais dos EUA à ilha, foram combinadas a planos para derrubar o líder revolucionário.

O embargo, que durante décadas foi executado por decretos presidenciais, foi reforçado em 1996 com a aprovação da Lei Helms-Burton, mas nem essa nem o resto das estratégias alcançaram o efeito desejado: tirar Fidel Castro do mapa político mundial.

As dificuldades econômicas, fruto do embargo, levaram o regime castrista a estreitar vínculos com a União Soviética, considerada pelos EUA na época, auge da Guerra Fria, como "a grande ameaça vermelha".

Essa aproximação foi ainda mais intensificada a partir de 1961, depois de 1.500 exilados cubanos treinados pela CIA tentarem invadir — sem sucesso — a ilha pela Baía dos Porcos.

A operação fazia parte de uma iniciativa mais ampla que os serviços de inteligência americanos batizaram como "Operação Mongoose" e que pretendia desestabilizar o governo de Fidel.

A estratégia incluiu vários complôs para matar o líder cubano, como revelou uma investigação independente do Senado americano. Mas o pior ainda estava para chegar.

Convencido que os EUA planejavam invadir seu país, Fidel começou uma agressiva militarização de Cuba, que conduziu ao desdobramento de mísseis soviéticos na ilha.

Essa decisão desencadeou a "crise dos mísseis", que colocou o mundo à beira de uma guerra nuclear. A crise começou em 15 de outubro de 1962, quando aviões americanos de espionagem U-2 detectaram mísseis nucleares na ilha caribenha capazes de alcançar os EUA. A tensão durou até 28 de outubro.

Nesse dia, o líder soviético Nikita Kruschev decidiu desmantelar todos os mísseis russos em Cuba e levá-los de volta à União Soviética.

Os EUA, embora em segredo, se comprometeram a retirar suas ogivas nucleares da Turquia.

Após esse momento, o auge da Guerra Fria, segundo alguns historiadores, veio uma etapa de degelo que começou durante a Presidência de Lyndon Johnson (1963-1969) e se prolongou durante mais de uma década.

Em 1964, Fidel enviou uma carta a Johnson que assinalava que a hostilidade entre os dois países vizinhos era "desnecessária" e poderia acabar.

A chegada de Jimmy Carter (1977-1981) à Casa Branca foi outro passo adiante nessa direção e se traduziu na abertura simultânea de escritórios de negócios em Washington e Havana, ambos localizados na Embaixada da Suíça.

A não reeleição de Carter acabou com a lua de mel, pois Ronald Reagan (1981-1989) retornou aos velhos tempos endurecendo o embargo e encorajando a hostilidade entre os países.

Foi sob seu comando que foi criada a Rádio Martí, uma emissora com base em Miami para transmitir notícias em espanhol para Cuba.

O novo milênio trouxe ares conciliadores, simbolizados no aperto de mãos entre Fidel e o presidente Bill Clinton (1993-2001) durante a cúpula do Milênio das Nações Unidas em setembro de 2000.

Em 1994, aconteceu outro marco importante, com a assinatura de um acordo entre EUA e Cuba em que Washington se comprometia a admitir 20 mil cubanos ao ano em troca de Cuba deter o êxodo de refugiados para os EUA.

A visita de Carter a Cuba em 2002 foi outro momento histórico que parecia pressagiar uma aproximação que não se materializou.

As afirmações do então secretário de Estado adjunto contra a Proliferação Nuclear, John Bolton, de que Cuba tinha um programa de armas biológicas e o fato de o governo do presidente George W. Bush incluir Cuba entre os países do "eixo do mal" despertaram velhos rancores.

Obama fez gestos de aproximação à ilha em sua chegada ao poder em 2009, pouco depois de Fidel ceder o cargo ao seu irmão, Raúl.

A flexibilização em abril de 2009 das viagens e do envio de remessas e pacotes humanitários de cubano-americanos foi seguida em 2011 pela facilitação de viagens acadêmicas, culturais e religiosas.

Mas essa abertura em breve encontrou um obstáculo com a condenação, no final de 2009, do funcionário terceirizado americano Alan Gross em Cuba e os desacordos sobre o destino de "Os Cinco" cubanos condenados por espionagem nos EUA.

O ano de 2013 foi de tênue aproximação, marcado por prudentes diálogos sobre migração e sobre a possibilidade de retomar o correio postal direto.

Foi arrematado por um aperto de mãos entre Obama e Raúl no funeral de Nelson Mandela, em dezembro, que alguns viram como algo mais que um mero gesto de civilidade.

A libertação hoje de Gross e de três “d'Os Cinco" e os planos para restabelecer as relações diplomáticas e flexibilizar mais as viagens, o comércio e o envio de remessas desde os EUA abrem um novo e histórico capítulo na turbulenta relação entre Washington e Havana.

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