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EUA vão soltar de avião moscas criadas em ‘fábrica’ para combater parasita mortal

Plano inédito prevê lançamento aéreo de milhões de insetos estéreis para proteger rebanhos e evitar prejuízo bilionário no campo

Internacional|Do R7

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Moscas modificadas combatem o avanço da berne no rebanho americano Michael Miller/Texas A&M AgriLife

Uma estratégia inusitada está sendo preparada pelos Estados Unidos para enfrentar um risco crescente à pecuária nacional: a criação de uma “fábrica de moscas” próxima à fronteira com o México, com o objetivo de produzir e liberar milhões de insetos estéreis sobre áreas rurais.

A iniciativa busca conter o avanço da miíase - também conhecida como berne ou bicheira - que é causada pela infestação pela larva da mosca-da-bicheira que se alimenta de tecido vivo e já causou mais de 35 mil casos de infecção em animais na América Central desde 2023.


A larva da espécie Cochliomyia hominivorax ataca principalmente mamíferos de sangue quente, como bovinos, cavalos e até animais domésticos e humanos, em casos raros. As fêmeas depositam centenas de ovos em feridas abertas; ao eclodirem, as larvas rapidamente passam a devorar o tecido vivo, abrindo feridas graves que podem matar um animal em poucas semanas se não forem tratadas.


Após décadas sem registro de surtos, países da América Central voltaram a registrar a praga em 2023, e ela já chegou ao sul do México. Isso provocou o fechamento temporário de portos de comércio de gado e outros animais entre México e Estados Unidos, e levou a alertas no setor agropecuário americano sobre o risco de danos econômicos em larga escala.


O método escolhido para tentar barrar o avanço da larva consiste em criar milhões de moscas estéreis em laboratório. Os machos são expostos a radiação gama, que danifica seus cromossomos sexuais, tornando-os incapazes de fertilizar ovos. Ao serem soltos e acasalarem com fêmeas selvagens, estas acabam depositando ovos que não se desenvolvem, levando à queda gradual da população do parasita ao longo dos meses.


Atualmente, só há uma instalação no Panamá capaz de produzir e liberar semanalmente cerca de 100 milhões de moscas estéreis, número insuficiente para deter a expansão do parasita em direção ao território americano. Por isso, o Departamento de Agricultura dos EUA anunciou a construção de uma nova fábrica, possivelmente próxima à base aérea de Moore, no Texas.

Segundo especialistas, não existem vacinas nem repelentes eficazes contra a larva. Por isso, durante os meses mais quentes, recomenda-se evitar práticas que causem feridas em rebanhos, como marcação ou colocação de brincos. O monitoramento deve ser diário, já que o tratamento envolve limpeza, desinfecção e proteção dos ferimentos, o que exige mão de obra e eleva os custos de produção.

A dispersão aérea das moscas ocorre geralmente em áreas rurais pouco povoadas, pois o inseto não sobrevive nem se interessa por ambientes urbanos. Além disso, parte dos esforços também será direcionada à renovação de uma antiga fábrica de moscas no México, para aumentar a capacidade de resposta.

Embora a implementação do plano seja cara, representantes do setor rural argumentam que o investimento é justificável diante da possibilidade de perdas de até US$ 10 bilhões (cerca de R$ 55,4 bilhões) para a agropecuária americana caso a infestação não seja controlada. O governo também começou a reabrir portos de comércio em regiões antes afetadas, sinalizando que as medidas iniciais de controle já mostram resultados positivos.

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