Europa discute sanções a Belarus após prisão de opositor
Jornalista estava em voo, que teve pouso forçado após ser interceptado por caças; país alega que havia bomba no avião
Internacional|Do R7, com Reuters e AFP
Líderes europeus ameaçaram nesta segunda-feira (24) limitar o tráfego aéreo internacional de Belarus e possivelmente também o transporte terrestre do país, depois que um avião da Ryanair foi forçado a pousar em um incidente denunciado por países ocidentais como "pirataria estatal".
No domingo, um avião de guerra bielorrusso interceptou um voo da Ryanair com caças durante uma viagem entre Grécia e Lituânia e o forçou a pousar em Minsk, onde um jornalista dissidente foi preso.
As autoridades de Belarus prenderam Roman Protasevich, passageiro de 26 anos cujo feed de redes sociais no exílio é um dos poucos canais independentes ainda restantes de notícias sobre o país desde a repressão em massa da dissidência no ano passado.
A ação tem poucos precedentes, e as repreensões foram verbalizadas nos termos mais fortes.
"Isto foi de fato pirataria aérea patrocinada pelo Estado", disse o ministro das Relações Exteriores da Irlanda, Simon Coveney.
A Presidência francesa disse que foi enviado um pedido à Organização da Aviação Civil Internacional (Icao) para suspender os voos internacionais sobre o espaço aéreo bielorrusso. Banir a companhia aérea estatal bielorrussa Belavia de aeroportos europeus também estava sendo discutido, assim como as ligações de transporte terrestre do país.
Ainda assim, as opções de retaliação ocidental parecem limitadas. A Icao, com sede em Montreal, não tem poder regulamentar, e a UE não tem autoridade sobre voos que decolam e pousam de Belarus ou sobrevoam seu espaço aéreo, exceto voos diretos que se originam ou pousam na Europa
A mídia estatal disse que a decisão de intervir foi ordenada pessoalmente pelo presidente Alexander Lukashenko.
A chanceler sueca, Ann Linde, reagiu: "É perigoso, irresponsável e, naturalmente, a UE agirá".
O chefe do Comitê das Relações Exteriores do Parlamento britânico, Tom Tugendhat, observando que o voo era entre dois membros da UE e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), disse: "Se não é um ato de guerra, certamente é como um ato de guerra".
O chefe da Ryanair, Michael O'Leary, que se referiu ao incidente como um sequestro com patrocínio estatal, disse acreditar que agentes de segurança estavam no voo e desembarcaram em Minsk, o que significaria que a operação foi coordenada com espiões atuando na Grécia.
Versão de Belarus
Belarus diz que reagia a uma ameaça de bomba no voo que acabou se mostrando falsa, acrescentando nesta segunda-feira que seus controladores de voo deram orientações ao avião, mas não ordenaram que pousasse.
Em sua primeira reação oficial após o incidente, o Ministério das Relações Exteriores de Belarus insistiu em que o país agiu de maneira legal.
"Não há dúvida de que as ações de nossas autoridades competentes (...) cumpriram plenamente as normas internacionais estabelecidas", afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Anatoly Glaz, em um comunicado, no qual acusa o Ocidente de "politizar" a situação.
"Estão fazendo acusações infundadas", acrescentou Glaz.
Apoio russo
Principal aliada de Belarus, a Rússia não mostrou preocupação, e a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova, ironizou a indignação ocidental.
"Nos surpreende que o Ocidente considere 'surpreendente' o incidente no espaço aéreo de Belarus", afirmou Zakharova no Facebook, antes de acusar os países ocidentais de "sequestros, pousos forçados e detenções ilegais".
KGB a bordo
Um membro da equipe do Nexta, Tadeusz Giczan, afirmou no Twitter que representantes da Agência de Segurança de Belarus (KGB) estavam no voo de Protasevich.
"Quando o avião entrou no espaço aéreo de Belarus, os agentes da KGB iniciaram uma briga com a tripulação da Ryanair, insistindo em que havia um IED (artefato explosivo improvisado) a bordo", disse.
O diretor-executivo da Ryanair, Michael O'Leary, afirmou que, aparentemente, agentes da KGB bielorrussa estavam no avião e que também desembarcaram em Minsk.
"Acredito que esta é a primeira vez que acontece em uma companhia aérea europeia", disse O'Leary à rádio irlandesa Newstalk.
A companheira do opositor, Sofia Sapega, uma cidadão russa e estudante de Direito na Universidade Europeia de Humanidades (EHU) da Lituânia, foi detida ao lado de Protasevich, confirmou a universidade nesta segunda-feira.