'Expedição submarina até o Titanic deveria ser só para profissionais', afirma especialista
Turistas pagaram mais de R$ 1 milhão cada um para fazer um passeio a 4.000 m de profundidade e estão desaparecidos
Internacional|Pablo Marques, do R7
O submarino Titan está desaparecido desde o último domingo (18), e as equipes de buscas intensificaram os trabalhos com a proximidade do fim do estoque de oxigênio disponível para os cinco ocupantes.
A expedição tinha como objetivo levar turistas para conhecerem os destroços do Titanic, que naufragou em 1912, após bater em um iceberg durante sua viagem inaugural.
O professor do curso de engenharia naval da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) Silvio Melo afirma que esse tipo de expedição é arriscada e deveria ser restrita a profissionais.
"Mergulhar a mais de 3.000 metros de profundidade de forma turística é uma irresponsabilidade. É uma atividade de altíssimo risco que só deveria ser feita por pessoal especializado que conheça os riscos e saiba o que fazer em caso de emergência", afirma Silvio.
Os destroços do famoso navio estão a 4.000 metros de profundidade e a 600 km da costa. Para chegar até lá, o submarino foi levado de navio até a região onde o passeio iria começar. Após 20 metros de descida, o contato foi perdido, e desde então não se sabe mais a localização da embarcação.
O equipamento usado para atividade turística é de pequeno porte e tem capacidade para levar quatro pessoas, além do responsável por conduzir o processo de submersão. O professor da UFPE explica que as 96 horas de autonomia seriam suficientes para esse tipo de expedição, considerando as dimensões e o número de ocupantes.
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"O submersível desaparecido é um tipo muito específico. Existem diversos modelos, desde os que podem ficar apenas algumas horas até os grandes submarinos nucleares militares, que podem ficar meses submersos. Não existe uma média, pois depende de cada projeto, mas 96 horas para um submersível pequeno como o do acidente é um tempo bem razoável."
Viajavam no Titan o bilionário britânico Hamish Harding, presidente da empresa de jatos particulares Action Aviation; o empresário paquistanês Shahzada Dawood, vice-presidente do conglomerado Engro, e seu filho Suleman; o mergulhador francês Paul-Henri Nargeolet, especialista nos destroços do Titanic; e Stockton Rush, CEO da OceanGate Expeditions.
Cada um dos ocupantes pagou cerca de 200 mil libras, ou pouco mais de R$ 1 milhão, para ter a experiência de ver de perto os restos do Titanic no fundo do mar.
Trabalho de buscas
As buscas pelo submarino desaparecido foram intensificadas nesta quarta-feira (21) depois que a guarda costeira dos EUA anunciou que foram captados barulhos vindos do fundo do oceano.
"Aviões canadenses P-3 detectaram ruídos subaquáticos na área de busca. Como resultado, as operações de um ROV [sigla em inglês para veículo operado de maneira remota] foram realocadas na tentativa de explorar a origem dos ruídos", postou no Twitter a corporação americana.
Silvio ressalta que os trabalhos de buscas enfrentam diversas dificuldades, por causa da região do oceano em que o submarino deve estar.
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"Em grandes profundidades não tem luz, os sinais de rádio não chegam até essas profundidades, a alta pressão não permite que qualquer equipamento vá até lá, e tem a imensidão do espaço a ser vasculhado", afirma.
O especialista acredita que, se a estrutura do equipamento está intacta e não flutuou até agora, é possível que o submarino esteja preso no fundo do mar.
Um robô submarino do instituto oceanográfico francês será incorporado às buscas ainda hoje. Ainda que seja localizado antes que o nível de oxigênio acabe, o processo de resgate dos ocupantes é complexo.
"O submersível precisa ser localizado primeiro, depois, precisa haver um equipamento com capacidade de ir até onde se acredita estar o alvo. São poucos equipamentos no mundo que podem ir a uma profundidade de 4.000 metros", conclui o professor.
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