Feminicídio não se restringe ao Brasil e já é considerado uma crise global, segundo a ONU
Relatórios de agências das Nações Unidas apontam expansão de assassinatos por razão de gênero em todos os continentes
Internacional|Do R7
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Os dados que indicam que o Brasil tem ao menos três assassinatos de mulheres por dia são alarmantes, mas o feminicídio não é um fenômeno restrito ao país. Relatórios recentes do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), da ONU Mulheres e da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) mostram que o homicídio contra mulheres segue em alta no mundo, sem sinais de desaceleração.
Os dados reforçam que se trata de um problema estrutural, que atravessa continentes, culturas e níveis de renda.
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As estatísticas globais revelam a dimensão da crise. Em 2024, cerca de 50 mil mulheres e meninas foram mortas por parceiros íntimos ou familiares, uma média de 137 vítimas por dia. África registrou os maiores números absolutos e relativos, com aproximadamente 22,6 mil vítimas, o que corresponde a três assassinatos por 100 mil mulheres. As Américas e a Oceania também apresentaram índices elevados, de 1,5 e 1,4 casos por 100 mil, respectivamente.
A ONU alerta, porém, que os dados disponíveis representam apenas parte da realidade. Em quatro de cada dez homicídios intencionais de mulheres, não há informações suficientes para concluir se a motivação foi de gênero. A subnotificação, resultado de lacunas em investigações e de diferenças entre sistemas de justiça, impede que a dimensão real da violência seja plenamente conhecida. Para os organismos internacionais, as cifras divulgadas são “a ponta do iceberg”.
Grupos específicos enfrentam riscos ampliados. Mulheres em posições de visibilidade, como jornalistas, parlamentares, defensoras ambientais e ativistas de direitos humanos, relatam níveis crescentes de ameaças, assédio digital e perseguição, muitas vezes com desfechos fatais. Em 2022, foram registradas 81 mortes de defensoras ambientais e 34 de defensoras de direitos humanos. Mulheres indígenas também figuram entre as principais vítimas: no Canadá, a taxa de homicídios entre mulheres indígenas foi cinco vezes maior do que entre não indígenas.
Na América Latina e no Caribe, a situação é igualmente alarmante. Segundo a Cepal, pelo menos 3.828 feminicídios foram registrados em 26 países e territórios da região em 2024, o equivalente a 11 mortes diárias. Em cinco anos, o total chega a 19.254 vítimas. Honduras, Guatemala e República Dominicana lideram as taxas mais altas, enquanto Chile aparece com o menor índice. Mais da metade dos casos envolveu mulheres entre 15 e 44 anos, mas meninas pequenas e idosas também figuram entre as vítimas. Além disso, 14 países latino-americanos reportaram 5.502 tentativas de feminicídio, evidenciando um ciclo de violência prévio que muitas vezes culmina em morte.
A expansão da violência digital tem sido apontada como fator agravante. Casos de perseguição e vigilância on-line, divulgação não autorizada de imagens e hostilidade virtual contra mulheres públicas formam um ambiente de risco crescente. Estudos citados pela ONU indicam que três em cada quatro vítimas de feminicídio haviam sido stalkeadas antes do crime.
Apesar do cenário crítico, os organismos internacionais afirmam que o feminicídio é prevenível. A ONU apoia países na elaboração de marcos legais, no treinamento de forças de segurança, em campanhas públicas e no fortalecimento de serviços centrados nas sobreviventes. A adoção e implementação de políticas nacionais de enfrentamento, o combate à impunidade e o investimento em organizações de mulheres são apontados como medidas essenciais. A coleta qualificada de dados também é considerada decisiva para orientar estratégias eficazes.
A mensagem presente nos relatórios é direta: o feminicídio não é um problema isolado nem inevitável. Trata-se de uma forma extrema de violência de gênero que se repete em todas as regiões do mundo. E, sem respostas coordenadas, monitoramento adequado e compromisso político, continuará avançando a um custo humano inaceitável.
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