A feroz ofensiva do Talibã, que em menos de duas semanas conseguiu dominar quase todo o território do Afeganistão até culminar com a tomada da capital, Cabul, no domingo (15), após a fuga do presidente Ashraf Ghani, parecia impensável. O governo de Joe Biden acreditava que o governo afegão teria condições de resistir por muito mais tempo após a retirada dos EUA.Leia também: - Conheça o Talibã, grupo radical que está no controle do Afeganistão - Afeganistão: milhares tentam deixar Cabul após vitória dos talibãs Tudo começou a mudar há pouco mais de um ano, quando a cúpula do grupo foi abalada por sucessivos casos de covid-19. O afastamento de diversos líderes que se infectaram com a doença colocou o Talibã em uma situação delicada, em meio às negociações de um acordo de paz com o governo Trump e o governo afegão. No fim de maio de 2020, fontes ligadas ao grupo confirmaram a diversos veículos internacionais que Mullah Mohammad Yaqoob, filho do lendário fundador do Talibã, Mullah Mohammed Omar. havia assumido o posto de líder militar, no comando de cerca de 85 mil soldados, segundo estimativas. Segundo Antonio Giustozzi, do Royal United Services Institute de Londres, um dos principais especialistas internacionais e autor de diversos livros sobre o Talibã, Mohammad Yaqoob pertence a uma ala mais moderada do grupo, o que explicaria tanto o acordo do ano passado quanto a orientação para os soldados talibãs não terem entrado em conflito com as tropas estrangeiras durante o processo de retirada. Ao mesmo tempo, esse grupo defendia atitudes mais enérgicas contra o governo afegão liderado por Ashraf Ghani. "Os moderados se dedicaram a mostrar uma face mais dura a Cabul, possivelmente por terem sido colocados nessa posição mais proeminente", disse Giustozzi em uma entrevista à Radio Free Europe. O caminho de Yaqoob até o poder teria começado em 2016, um ano após a confirmação da morte de seu pai, Mohammad Omar — que morreu em 2013, supostamente de hepatite em um hospital paquistanês, mas o grupo só reconheceu em 2015. Na época, foi cogitado que ele assumisse a liderança geral do Talibã, mas os relatos são de que ele teria se considerado muito inexperiente e delegado a função ao atual líder supremo do grupo, Haibatullah Akhunzada. Agora com pouco mais de 30 anos, Mohammad Yaqoob lidera as tropas que retomaram o país após duas décadas de intervenção norte-americana e da OTAN. Analistas acreditam que o próximo passo será uma tentativa de legitimizar um governo talibã para o Afeganistão junto às instituições internacionais.