Imigrantes centro-americanos e mexicanos se acumulam em centro de detenção no Texas
Divulgação via ReutersMilhares de imigrantes, incluindo famílias inteiras e menores desacompanhados estão abrigados em centros improvisados, usando cobertores térmicos e dormindo em barracas em cidades na fronteira dos Estados Unidos com o México. As imagens foram divulgadas nesta semana pelo próprio governo norte-americano, após uma denúncia feita pelo site Axios.
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O portal publicou fotos que foram fornecidas pelo representante democrata Henry Cuellar, para conscientizar o público sobre as condições dos menores que estão detidos em um centro provisório em Donna, no Texas, que tem capacidade para abrigar 260 pessoas, mas no fim de semana estava com 400.
As imagens escancaram aquela que pode ser considerada a primeira grande crise do governo do democrata Joe Biden, que surgiu exatamente no local onde ocorreram diversos problemas na administração de seu antecessor, Donald Trump: a fronteira dos EUA com o México. Longe do muro que o ex-presidente insistiu em construir, a pressão imigratória é uma questão longe do fim.
Acreditando em uma reversão da política linha-dura implementada nos governo do republicano, milhares de imigrantes vindos de países da América Central, como El Salvador, Honduras, Guatemala, Nicaragua e Belize, além do próprio México, vêm tentando passar para o território norte-americano, fugindo de violência e falta de perspectiva em seus locais de origem e buscando uma vida melhor.
Crianças e adolescentes desacompanhados ficam em centros com paredes de plástico
Divulgação via ReutersApenas no último fim de semana, agentes da fronteira no Vale do Rio Grande, no Texas, prenderam três grupos de 108, 145 e 116 pessoas, num total de 369, entre adultos sozinhos, famílias com crianças e menores desacompanhados, em apenas algumas horas, que tinham atravessado a fronteira. Estima-se que cerca de 10 mil imigrantes estejam detidos ao longo da fronteira.
Em Washington, o governo tenta enviar para fora do país a mensagem de que, apesar da mudança de presidente, as fronteiras neste momento, continuam fechadas, especialmente por conta das medidas tomadas durante a pandemia de covid-19. No nível local, no entanto, a confusão é generalizada.
Ao mesmo tempo em que parte dos imigrantes foram expulsos de volta ao México por conta da medida de saúde adotada no governo Trump, outros milhares de famílias foram liberados dentro dos EUA, para esperarem no país suas audiências de imigração na Justiça.
"Tem havido muita confusão por aqui, porque não há uma regra unificada para ser cumprida rapidamente", reclama Charlene Da Cruz, diretora legal do Project Corazón, que defende os direitos dos imigrantes nas fronteiras. "Tudo parece improvisado".
O número de famílias detidas na fronteira em fevereiro, cerca de 19 mil, foi quase o triplo do registrado no mês anterior. O total de crianças e menores desacompanhados também aumentou, mas numa taxa menor.
Ao mesmo tempo em que o governo tenta passar a mensagem de que a fronteira estaria fechado, foi anunciado um contrato de US$ 86 milhões (cerca de R$ 483 milhões) para abrigar algumas famílias consideradas vulneráveis em hoteis dentro dos EUA, enquanto elas aguardam suas audiências de imigração. O objetivo seria retirá-las dos centros federais de detenção.
O secretário de Segurança Interna dos EUA, Alejandro Mayorkas, disse à imprensa norte-americana que sua prioridade é a segurança das crianças e menores desacompanhados. "Já disse diversas vezes que esses centros não são lugar para crianças. Por isso estamos trabalhando a todo vapor para retirá-las dessas instalações o mais rápido possível", afirmou.
No entanto, mesmo as declarações dele não coincidem com o que tem sido visto na fronteira. Mayorkas ressaltou que apenas esses menores desacompanhados estariam isendos da expulsão sob os termos da Medida 42, implementada por Trump no início da crise sanitária causada pela pandemia, em março do ano passado.
Mas dados internos da agência alfandegária dos EUA, publicados pela agência Reuters, mostram que apenas 15% das famílias detidas em 17 de março, por exemplo, foram expulsas por meio da Medida 42. Apesar de representar apenas um dia no trato com os imigrantes, isso mostra como as políticas vêm sendo aplicadas de maneira pouco unificada.
Funcionários das agências de fronteira e alfândega dos EUA estão tendo dificuldades para abrigar e processar um número cada vez maior de menores desacompanhados, muitos dos quais estão detidos em postos de fronteira durante dias enquanto esperam ser instalados em albergues governamentais já sobrecarregados.
A Agência Alfandegária e de Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos informou no mês passado que estava abrindo uma instalação temporária em Donna para oferecer capacidade de processamento para o setor do vale do Rio Bravo, enquanto um centro permanente é reformado em McAllen.