O boliviano Isaac Callizaya, de 39 anos, cresceu ouvindo o
barulho das ondas se chocando contra as margens do lago Titicaca — um corpo
d'água gigante na fronteira entre Bolívia e Peru que fica 3.821 metros acima do
nível do mar
REUTERS/Manuel Seoane/30.01.2019
A comunidade de pescadores que vive na beira sul do Tititaca
conta que o local sofreu grandes mudanças ao longo dos últimos anos. Segundo a
agência de notícias Reuters, muitos se afastaram da vila — que fica na chamada ilha
de Pariti —, ao passo que a expansão urbana de cidades próximas criou um
problema crescente de poluição, alterando a paisagem do lago e forçando os
habitantes a se adaptarem
O próprio Callizaya, que saiu da vila e atualmente mora na
cidade de El Alto, diz que, quando era criança nos anos 1990, “todas as
famílias em Pariti viviam da pesca. Hoje, apenas três delas continuam pescando,
e uma média de 20 peixes por dia. Antes do ano 2000, havia cerca de 50 estudantes
no nível primário [na ilha]. Este ano temos apenas um”
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Na Bolívia, os ambientalistas já se preocupam com o impacto
de longo prazo das mudanças. O lago Titicaca é um destino popular para
turistas, que viajam até a região para ver o cenário de águas azuis e geladas
com o pano de fundo das montanhas andinas, além das comunidades tradicionais
que vivem em ilhas inteiramente erguidas com juncos
REUTERS/Manuel Seoane/30.01.2019
O Titicaca já foi considerado sagrado pelo povo
pré-colombiano que vivia em suas margens. Além de plantas e animais nativos,
como o enorme sapo endêmico Titicaca, o lago garante a sobrevivência de milhões
de seres humanos que vivem nas proximidades — caso da população boliviana de El
Alto, a aproximadamente 40 km de distância
REUTERS/Manuel Seoane/30.01.2019
As comunidades ao redor do lago vivem da pesca, do turismo, da
criação de animais e da venda de produtos locais como o chuño – batatas que
passam por um processo de desidratação
REUTERS/Manuel Seoane/30.01.2019
A localização do Titicaca — que se situa em uma área de alta
altitude — também interesse aos cientistas das mudanças climáticas. Como os
ecossistemas na região são bastante sensíveis ao aquecimento global, o lugar
pode antecipar parte das transformações que devem ser notadas em larga escala
no planeta em um futuro próximo
REUTERS/Manuel Seoane/30.01.2019
Xavier Lazzaro, um cientista do Instituto Francês de
Pesquisa para o Desenvolvimento que estuda a região há anos, aponta que o
conjunto formado por escassez de estações de tratamento de água, indústria
local, turismo e aquecimento global está afetando diversos aspectos da vida no Titicaca
— especialmente o chamado “Lago Menor”, ou Wiñaymarka
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Lazzaro realiza suas pesquisas uma boia movida a energia
solar que faz medições, em tempo real, da qualidade da água. Ainda não há, entretanto,
dados suficientes para ilustrar com segurança o tamanho do problema
REUTERS/Manuel Seoane/30.01.2019
O pesquisador alerta, porém, que o acúmulo de sedimentos e
flores tóxicas aliado às mudanças climáticas pode fazer com que o “Lago Menor”
se torne mais raso e eventualmente seque. “Esse cenário catastrófico não é
ficção científica. É claro que levará década ou séculos para acontecer. Mas se
dará de forma mais rápida se nenhuma ação for tomada.”