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Futuro do império criado pelo líder mercenário Prigozhin é marcado por disputas de alto risco

Mesmo depois de morto, chefe do grupo Wagner continua sendo uma figura influente na Rússia e na guerra contra a Ucrânia

Internacional|Do R7


Túmulo de Prigozhin em cemitério em Moscou
Túmulo de Prigozhin em cemitério em Moscou

Os líderes africanos aliados da Rússia tinham se acostumado a lidar com Yevgeny Prigozhin, o líder mercenário conhecido por sua arrogância e sua linguagem profana. Ele percorria o continente em seu jato particular, oferecendo apoio a governos instáveis em troca de recursos como ouro e diamante.

Mas a delegação russa que visitou três países africanos na semana passada foi liderada por uma figura muito diferente: o afável vice-ministro da Defesa, Yunus-bek Yevkurov. Vestindo uniforme cáqui e uma "telnyashka" — a camiseta listrada usada pelas forças armadas russas —, ele transmitiu uma imagem de moderação e cortesia, oferecendo garantias em uma linguagem polida. "Faremos o possível para ajudá-los", afirmou durante uma coletiva de imprensa em Burkina Faso.

O contraste com o extravagante Prigozhin não poderia ser mais nítido, e se alinha com a mensagem do Kremlin: depois da trágica morte de Prigozhin em um acidente de avião no mês passado, as operações da Rússia na África ganharam nova liderança.

Esse vislumbre revela uma batalha sombria que agora se desenrola em três continentes: a disputa pelo lucrativo império paramilitar e de propaganda que enriqueceu Prigozhin e serviu às ambições militares e diplomáticas da Rússia, até que o líder do grupo Wagner promoveu um motim fracassado contra o Kremlin em junho.


Entrevistas com mais de uma dúzia de funcionários atuais e ex-funcionários em Washington, na Europa, na África e na Rússia, bem como com quatro russos que trabalharam para Prigozhin, retratam uma disputa pelo controle de seus ativos envolvendo os principais participantes da estrutura de poder russa, incluindo duas agências de inteligência diferentes. Muitos dos entrevistados concordaram em compartilhar informações sob condição de anonimato, em razão da natureza sensível das questões diplomáticas e de inteligência.

Lealdade

A luta é complexa, de acordo com essas pessoas, por causa da lealdade persistente a Prigozhin em seu exército particular, no qual alguns membros estão relutando em ser incorporados ao Ministério da Defesa da Rússia. Em vez disso, eles apoiam uma transferência de poder para o filho de Prigozhin. "O Wagner não é só uma questão de dinheiro — é uma espécie de religião. É improvável que essa estrutura desapareça completamente. Isso para mim é impossível", disse Maksim Shugalei, consultor político de Prigozhin, acrescentando que se orgulha de fazer parte da força mercenária.


As entrevistas também revelaram mais sobre a campanha do presidente russo, Vladimir Putin, para desacreditar Prigozhin depois da rebelião, incluindo sua declaração a um grupo de figuras da mídia de que o líder do Wagner era um oportunista que havia acumulado bilhões com "ouro e joias".

Os relatos sugerem que, mesmo depois de morto, Prigozhin continua a ser uma figura influente na Rússia de Putin, personificando o sigilo, as disputas internas e as táticas contraditórias do Kremlin em sua guerra contra a Ucrânia.


A disputa pelos ativos acumulados por Prigozhin, obtidos ao negociar suas diversas habilidades para servir Putin em troca de contratos governamentais, tem implicações amplas. Seu grupo mercenário foi a força de combate mais eficaz da Rússia na Ucrânia no último ano, e sua dissolução levanta questões sobre a capacidade da Rússia de lançar novas ofensivas. Seu conglomerado de mídia, que inclui uma "fazenda de trolls" virtual, foi essencial para minar instituições democráticas no mundo inteiro.

Em nenhum lugar o papel do grupo Wagner é mais significativo para a Rússia do que em nações africanas, como a Líbia e a República Centro-Africana, onde seus mercenários ganharam confiança e riqueza ao apoiar homens fortes e autocratas. Essas operações contribuíram para a crescente influência russa no continente e enfraqueceram potências ocidentais, como a França e os Estados Unidos.

Autoridades ocidentais com conhecimento de avaliações confidenciais de inteligência afirmam que duas agências russas de espionagem, o Serviço de Inteligência Estrangeiro (SVR, na sigla em russo), e a agência de inteligência militar, o Departamento Central de Inteligência (GRU, em russo), estão competindo para assumir setores cruciais das operações de Prigozhin.

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Durante a visita de Yevkurov à África, houve indícios de que o setor de inteligência militar desempenhará um papel crucial no desenrolar dos fatos: a delegação contava com a presença de um dos principais espiões da Rússia, o general Andrei V. Averyanov, conhecido por ter liderado uma unidade de elite especializada em subversão, sabotagem e assassinato no exterior.

Vídeos divulgados por Burkina Faso e pelo Mali mostraram Averyanov ao lado de Yevkurov enquanto se reuniam com líderes dos países. Autoridades ocidentais veem o general como um dos principais candidatos para supervisionar, pelo menos em parte, as operações remanescentes do antigo grupo Wagner, como parte de um sistema em constante evolução que envolve várias empresas militares privadas.

O Kremlin se recusou a comentar o futuro do império de Prigozhin.

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