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Golpe militar no Sudão põe em risco apoio internacional

Entidades como a União Africana e o Banco Mundial suspenderam linhas de auxílio que o país conquistou após décadas de ditadura

Internacional|Do R7

População continua protestando contra o golpe da última segunda-feira
População continua protestando contra o golpe da última segunda-feira

O empobrecido Sudão começou a reverter décadas de isolamento internacional neste ano para obter investimentos e ajuda de necessidade urgente, mas o recente golpe militar ameaça esse progresso, segundo os analistas.

Leia também: Sudão enfrenta 3° dia de fortes protestos contra golpe militar

O primeiro sinal concreto veio nesta quarta-feira (27), dois dias após o golpe de Estado do chefe do Exército, general Abdel Fattah al Burhan: a União Africana (UA) suspendeu o Sudão "até a restauração efetiva da autoridade de transição dirigida por civis".

Sob a ditadura de Omar al Bashir, o Sudão foi um pária para os países ocidentais. Os Estados Unidos adotaram severas sanções contra o regime por abrigar extremistas islâmicos – incluindo o líder da Al-Qaeda Osama bin Laden, nos anos 1990.


Bashir foi derrubado pelo seu próprio exército em abril de 2019, após grandes protestos nas ruas. Foi instaurado então um governo de transição de civis e militares, derrubado com o golpe de segunda-feira.

Os dois últimos anos puseram o Sudão no caminho certo, afirma Alex de Waal, especialista no país e diretor-executivo da World Peace Foundation, nos Estados Unidos.


Em dezembro de 2020, Washington retirou o Sudão de sua lista de países que patrocinam o terrorismo. Neste ano, os Estados Unidos abriram as portas para um perdão da dívida de 50 bilhões de dólares (cerca de R$ 280 bilhões) e a obtenção de novos fundos do FMI e do Banco Mundial.

Suspensão de ajuda

"Os interesses nacionais do Sudão foram contemplados porque o país foi lentamente realizando suas reformas, e o auxílio internacional começou a chegar, enfim, com a intensidade necessária", disse De Waal.


Mas, com a prisão do primeiro-ministro Abdalla Hamdok, um economista internacional, e de outros membros civis do governo e dos órgãos que administravam a transição, os militares geraram "sérios riscos para o Sudão", diz um relatório do International Crisis Group.

Os Estados Unidos não demoraram a reagir. Horas depois do golpe, anunciaram a suspensão de um pacote de 700 milhões de dólares (cerca de R$ 3,9 bilhões) de ajuda econômica que visava apoiar a transição democrática do país.

Na terça-feira, a União Europeia também ameaçou suspender o apoio financeiro caso os militares não recolocassem os líderes civis nos respectivos cargos.

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A entidade foi acompanhada nesta quarta-feira pelo Banco Mundial, que, segundo seu presidente, David Malpass, suspendeu os desembolsos de todas as suas operações no Sudão e parou de processar qualquer nova operação enquanto acompanha a situação de perto e faz suas avaliações.

O Sudão é um dos países menos desenvolvidos do mundo. No fim de 2018, o preço do pão triplicou, o que levou aos protestos que acabaram afastando o ditador.

Nos últimos anos, o país sofreu escassez de medicamentos e outros produtos essenciais, enquanto a inflação ficou acima de 300%.

Após a queda de Bashir, as monarquias do Golfo depositaram 500 milhões de dólares (cerca de R$ 2,8 bilhões) iniciais em seu banco central, como parte de uma ajuda prometida de 3 bilhões (o equivalente a R$ 16,7 bilhões), para manterem sua influência no país.

No entanto, embora o general golpista Al Burhan possa obter mais apoio financeiro dos países árabes, esse auxílio não compensará o oferecido pelas instituições internacionais e pelos doadores ocidentais, afirma De Waal.

O golpe deixa o Sudão "extremamente isolado, voltando a um período em que era evitado pelo resto do mundo", explica.

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