Guerra da Síria: relembre os principais fatos de 7 anos de conflito
Governo Assad iniciou dura repressão a manifestações inspiradas na Primavera Árabe, levando a uma guerra que já deixou mais de 320 mil mortos
Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7
O início da guerra civil na Síria, em março de 2011, foi uma consequência da Primavera Árabe que tomou o Oriente Médio meses antes. Na ocasião, revoltas populares contra as ditaduras locais varreram do poder os presidentes do Iêmen, da Tunísia, do Egito e da Líbia.
No comando de um governo opressor, o presidente sírio, de origem alauita, Bashar al-Assad viu sua autoridade ameaçada a partir de 15 de março de 2011, após a detenção, na cidade de Daara, de jovens acusados de picharem em suas escolas mensagens contra o governo.
Por fazer parte de um grupo minoritário, os alauitas, o presidente rechaçou qualquer diálogo, com a certeza de que estaria acuado pela maioria sunita e por outros grupos, caso abrisse mão do poder.
As prisões arbitrárias, então, provocaram uma onda de manifestações, fortemente reprimidas por forças policiais. Na primeira, contra uma multidão desarmada, ocorreram quatro mortes. Os protestos se intensificam, com as mortes chegando a 60 nos dias seguintes.
Em julho, os manifestantes começam a reagir com tiros à repressão, momento em que atraem militares do Exército, que formam o Exército Livre da Síria. O grupo viveu altos e baixos nos sete anos de guerra, mas se mantém na ativa contra o governo.
Na mesma época, o governo de Assad, em documento da ONU, começa a ser acusado de praticar torturas, violações sexuais, provocar mortes e desaparecimentos de milhares de pessoas, inclusive crianças.
Sanções sobre a Síria
Em agosto de 2011, o governo dos Estados Unidos, sob a presidência de Barack Obama, insiste em pedir a renúncia de Assad, que, com sua negativa, faz o governo americano anunciar sanções e congelar bens do governo sírio no país. A União Europeia também anuncia sanções à Síria.
Acuada, a Síria permite a entrada de observadores da Liga Árabe, em dezembro de 2011, que chegam para acompanhar a saída de tropas e armas de regiões civis. A empreitada, porém, é suspensa em janeiro de 2012.
Foi quando extremistas islâmicos de outros países se juntaram aos rebeldes, incluindo a Jabhat al-Nusra, ramo da Al-Qaeda, e grupos curdos. O Irã, então, temendo um avanço sunita na região, entra no conflito em nome de Assad, enviando armas e oficiais.
Em fevereiro de 2012, o governo americano decide fechar sua embaixada em Damasco. E em abril do mesmo ano, o cenário está tão tenso que até mesmo observadores da ONU deixam o país por falta de segurança.
A situação começa a ficar mais complexa. Países do Golfo Pérsico, de origem sunita, ricos em petróleo, intensificam o armamento de rebeldes. Quando o xiita Irã reage, armando a milícia Hezbollah, que em 2012 entra na Síria para dar suporte a Assad, a Arábia Saudita manda mais armas para os rebeldes e passa a contar com o apoio da Jordânia.
Sunitas contra xiitas
O ano de 2013 se inicia deixando clara a divisão entre sunitas e xiitas, que se espalham pela Síria gerando destruição e caos. Em luta árdua para se manter no poder, o governo de Assad é acusado de criar 27 centros de detenção, com práticas atrozes, desde o início da guerra.
Segundo a Anistia Internacional, na prisão de Saindnaya, entre 5 mil e 13 mil pessoas foram torturadas e executadas por enforcamento. A informação isolou ainda mais o governo.
Acuado, em 2013, Assad ordena, segundo a ONU, o lançamento de bombas com gás sarin em pelo menos duas ocasiões: uma na cidade de Khan al-Assal, em março, e outra em Ghouta Oriental, um dos subúrbios de Damasco, matando no total cerca de 1400 pessoas.
As ações deixam Obama horrorizado e ele entra na guerra informalmente, autorizando a CIA a armar secretamente os rebeldes. Em discurso, o então presidente americano ameaça bombardear instalações militares sírias.
A Rússia, então, intervém e pede que Assad recue em suas ações. A interferência russa já coloca o país em oposição aos Estados Unidos, dando um caráter global ao conflito até então local e regional.
O Conselho de Segurança da ONU, em setembro, ameaça utilizar a força contra o regime. E, em outubro, o governo de Assad inicia uma dita destruição de seu arsenal formal de armas químicas.
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Em fevereiro de 2014, a guerra ganha nova feição com a entrada do Daesh (conhecido como Estado Islâmico) na Síria. O grupo rompe com a Al-Qaeda no Iraque e se torna o inimigo em comum de todas as milícias no conflito.
Entrada dos EUA
A entrada do Daesh tem como consequência a inclusão formal dos EUA no conflito. Em setembro de 2014, o país inicia ataques aéreos a alvos do Daesh na Síria. A situação se mantém até o ano seguinte. A Turquia também coloca mais fogo no conflito, ao realizar incursões na Síria em agosto de 2014, para combater grupos curdos.
Em setembro de 2015, é a vez de a Rússia, sob o pretexto de combater o Daesh, entrar formalmente na guerra. O país, porém, se volta mais contra opositores de Assad do que contra militantes do grupo radical. Assad, assim, se fortalece e recupera vários territórios que havia perdido.
A guerra se intensifica e ganha novos contornos. O uso de armas químicas, segundo a ONU, continua a ocorrer tanto por parte do governo sírio quanto por parte de militantes islâmicos.
Após tentativas de trégua, Aleppo, o último reduto urbano dos rebeldes, é tomada pelo governo em dezembro de 2016, após dias de bombardeios com inúmeras vítimas e a fome se espalhando por cidades isoladas.
Ataques a Ghouta
Em abril de 2017, após novo bombardeio com armas químicas, em Idlib, ao menos 58 pessoas morrem. O presidente americano Donald Trump, que prometera inicialmente ficar distante no conflito, muda o tom e ordena o primeiro ataque americano contra alvos do governo sírio, lançando dezenas de mísseis sobre base militar.
A Turquia, em janeiro de 2018, passa a fazer incursões permanentes em território sírio, bombardeando grupo curdo na cidade de Afrin. Enquanto isso, o regime de Assad, fortalecido com a derrota do Daesh, tenta liquidar rebeldes islâmicos na região de Ghouta Oriental, realizando bombardeios que causam a morte de pelos menos 800 civis desde o dia 18 de fevereiro, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos.
À esta altura, a guerra se mantém sem perspectiva de terminar. São mais de 320 mil mortos desde o início dos conflitos, marcados por uma rede de interesses, que faz cada um dos componentes ser ao mesmo tempo aliado e inimigo, caso da Turquia, em relação aos Estados Unidos e à Rússia.