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Guerra entre Israel e Hamas completa um ano: ‘Na minha cabeça ainda estou na Faixa de Gaza’, diz refém libertada

Reportagem visitou região atacada e falou com as vítimas dos terroristas

Internacional|Cauê Teixeira

Tributo aos mortos de Israel na guerra contra os terroristas do Hamas Alejo Sanchez Piccat

No início do mês de setembro eu estava em um ônibus com destino ao sul de Israel. O veículo trepidava como se estivesse avançado por uma via irregular. A rodovia ainda carrega a marca dos tanques de guerra que passaram por ali há um ano. Mais à frente também vejo diversas marcas escuras no chão e descubro que nestes locais os terroristas incendiaram diversos carros quando a invasão dos terroristas do Hamas começou na manhã de sábado do dia 07 de outubro de 2023.

Meu destino é o kibutz Kfar Aza, que fica a apenas um quilômetro e meio da Faixa de Gaza. Logo que chegamos, passamos por militares israelenses que agora fazem a segurança do local. Quase nenhum morador vem mais aqui. A comunidade, que antes era autossustentável, hoje se tornou uma espécie de memorial do atentado.

Aqui, cerca de 70 terroristas do Hamas entraram fortemente armados e mataram mais de cem pessoas e sequestraram outras dezenas. O bairro onde os mais jovens moravam foi o mais afetado, já que ficava mais próximo do portão que dava acesso ao território palestino.

Muitas casas foram bombardeadas e incendiadas. Não houve tempo para fugir. Deborah Mizrahi conta que só se salvou porque o marido segurou a maçaneta da porta por várias horas e impediu que os terroristas invadissem o bunker.


“Na hora parecia irreal que terroristas tinham entrado no kibutz. Quando os vimos pela janela, trancamos toda a casa. Ficamos doze horas segurando a porta e os impedindo de entrar até o exército chegar”, contou Deborah.

Aviva Siegel espera a volta do marido, Keith Siegel, que ainda é refém do Hamas Cauê Teixeira/RECORD

Já Aviva Siegel, de 62 anos, e o marido Keith Siegel, de 64 anos, não conseguiram escapar. Os dois foram levados do kibutz Kfar Aza direto para a rede de túneis do Hamas, na Faixa de Gaza. Aviva ficou 51 dias em poder dos terroristas, período que ela não consegue esquecer. Passou fome, sede e frio. E presenciou cenas de abusos, físicos e psicológicos.


“Fomos transferidos de lugar 13 vezes em poucos dias. Ficamos em túneis onde não tinha ar para respirar. Todo tempo tínhamos que dizer que estava tudo bem, quando nada estava bem. Era proibido falar e era proibido sentir, eles ficaram nervosos até quando eu chorava. Um dia, outra refém foi tomar banho e quando voltou eu vi no rosto dela que algo tinha acontecido. Eu levantei para abraçá-la e um dos terroristas ameaçou me agredir”, desabafa Aviva.

Aviva, que foi libertada durante um breve período de cessar-fogo em novembro do ano passado, não conseguiu se despedir do marido. Ele ainda está na Faixa de Gaza. E ela luta todos os dias para trazê-lo de volta.


“Na minha cabeça ainda estou na Faixa de Gaza. Penso todo tempo no meu marido e tento ser forte por ele”, conta Aviva.

A mesma batalha travada pelo argentino Izik Horn, que mantém viva a esperança de reencontrar os dois filhos sequestrados pelos terroristas. Iair, de 45 anos, e Eitan, de 37, estavam juntos no momento do ataque em Nir Oz, outro kibutz.

“Quando o exército chegou, a casa estava toda aberta e sem marcas de violência. Ficamos três semanas sem sinal nenhum deles. Foi quando as autoridades entraram em contato e confirmaram que eles foram sequestrados”, contou Izik.

Desde esse dia, Izik Horn participou de mais de 60 manifestações para pedir a libertação dos reféns.

São histórias que completam hoje um ano e que fazem parte de um conflito que ganhou proporções ainda maiores nas últimas semanas.

Líbano e a guerra além das fronteiras

Faltando poucos dias para encerrar minha viagem a Israel, visitamos um hotel de luxo onde dezenas de israelenses desabrigados do norte do país estão vivendo. Eles tiveram que deixar suas casas por causa dos bombardeios constantes do Hezbollah na região.

Nesse mesmo dia, o grupo terrorista que apoia o Hamas sofreu um duro golpe e viu diversos dispositivos eletrônicos explodirem nas mãos de integrantes do grupo.

Desde este episódio, o conflito se tornou ainda mais grave com troca de ataques entre Israel e o Hezbollah e ainda as pesadas retaliações do Irã.

Neste momento, as tropas israelenses avançam dentro do Líbano com a intenção de destruir os postos avançados do Hezbollah. Segundo o premiê, Benjamin Netanyahu, a intenção é deixar a região segura para os moradores finalmente voltarem a viver próximos à fronteira com o Líbano.

Conhecendo o povo israelense mais de perto durante a minha viagem pude ver e ouvir pessoas dizendo sobre a importância da guerra. É importante, sim, o fim do grupo terrorista Hamas. Entretanto, mais importante ainda é a volta dos reféns para suas casas.

Hoje, um ano depois, há cerca de 101 sequestrados presos nos túneis do Hamas. São crianças, adultos, idosos, mulheres e homens. Pessoas que tiveram suas vidas roubadas e que não há nenhuma certeza de que estão vivas e quais suas condições de saúde.

Mas, mesmo após um ano, ainda há esperança…

“Não sei por que me levanto”, disse Aviva Siegel. “Mas sei que tenho que me levantar por Keith.”

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