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Guerra na Ucrânia completa oito meses e 'não tem dia e nem hora para acabar', diz especialista

Nos últimos 30 dias, conflito se intensificou após destruição da ponte da Crimeia e ataques a Kiev com o uso de 'drones suicidas'

Internacional|Maria Cunha*, do R7

A guerra na Ucrânia completa oito meses, e país vê conflito se intensificar
A guerra na Ucrânia completa oito meses, e país vê conflito se intensificar

A guerra entre Rússia e Ucrânia completa oito meses nesta segunda-feira (24). Durante os últimos 30 dias, o mundo acompanhou a anexação e a retomada de diversos territórios, a destruição da ponte da Crimeia e ataques a Kiev com o uso de "drones suicidas". 

Atualmente, com o avanço ucraniano, os embates entre as forças se tornaram inevitáveis e até "mortíferos", como afirma Gunther Rudzit, professor de relações internacionais da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). 

De acordo com o cientista político e pesquisador da USP Pedro da Costa Júnior, após as tropas de Zelenski, com o respaldo da Otan, terem destruído a ponte da Crimeia, um projeto faraônico e símbolo da reconstrução russa, o presidente ucraniano "cutucou o urso com vara curta", o que foi uma espécie de "gatilho'' para que a guerra se tornasse mais intensa nos últimos dias.

"[A destruição da ponte] foi inaceitável. Putin entrou em uma escalada [de violência] desenfreada. Ele começou a bombardear intensamente, com armamento mais pesado, regiões mais amplas e diversificadas, para responder a esses ataques à Crimeia." 


Apesar disso, quem acredita que as perspectivas são de que o conflito continue se intensificando se engana. Na opinião dos especialistas, é preciso separar as ações. 

"Os ataques às áreas civis, principalmente cidades ucranianas, devem se manter como uma tentativa russa de quebrar a moral do povo ucraniano, e esse deixar de apoiar o governo. Na frente de batalha, não necessariamente terá uma violência maior, já que os ucranianos precisam seguir com cuidado para não enfraquecerem suas linhas", explica Rudzit. 


Para o cientista político, o conflito é elástico — portanto, "vai e volta" — e está nas mãos dos russos, que ditam o ritmo da guerra, acelerando e desacelerando conforme for interessante para eles. 

"Depois dessa enxurrada de bombas, mísseis e ataques aéreos em diversas regiões da Ucrânia, com potências diferentes e temporalidades diferentes, em locais imprevisíveis, Putin disse que agora vai reduzir, vai voltar a fazer uma guerra mais padronizada, com mais cuidado com os alvos civis", relata Costa Júnior.


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Na atual condição, os próximos acontecimentos da guerra são imprevisíveis, embora dois cenários sejam possíveis, na visão do cientista político. Ainda que menos provável, Rudzit não descarta a decadência das tropas de Putin.

"O maior perigo é que as forças russas colapsem, ou seja, que haja uma deserção em massa, o que levaria a uma possibilidade de as forças ucranianas avançarem por todo o leste, e até mesmo pela Crimeia", pontua. 

O cenário com mais chances, porém, é o avanço ucraniano continuar lento. Isso ocorre, principalmente, em razão da chegada do inverno e das incertezas em relação à manutenção dos equipamentos e da munição estrangeiros, o que faz com que não seja possível seguir com o ritmo de avanço que houve nas últimas semanas.

'Esse conflito é de longo prazo%2C ele não tem nem dia e nem hora para acabar%2C essa guerra vai longe'%2C afirma o pesquisador da USP

(Pedro da Costa Júnior)

No entanto, na opinião do pesquisador da USP, as tropas de Kiev estão muito longe de sair vencedoras do conflito, visto que o presidente russo já tomou de 15% a 20% do território ucraniano após a realização dos últimos plebiscitos, que resultaram em novas repúblicas autônomas. 

"Esses plebiscitos são fajutos, uma vez que eles não têm nenhum tipo de reconhecimento da Otan, da ONU e do Ocidente. Mas isso não interessa tanto no campo das relações internacionais, que são as disputas de poder. Só o poder pode deter o poder", diz. 

Desse modo, não há possibilidade de Zelenski retomar essas zonas, pois o conflito é assimétrico, ou seja, é a segunda potência militar do mundo contra um exército que tem uma força infinitamente menor e que, ainda que esteja sendo apoiado, luta sozinho, pois não há soldados americanos, franceses nem alemães na Ucrânia.

Início do inverno e diminuição do apoio das potências econômicas

Com a chegada do inverno, Zelenski pode ficar ainda mais desamparado. As potências econômicas europeias já diminuíram a ajuda econômica e militar para a Ucrânia, pois também estão vivenciando a guerra. 

"As sanções acertaram a Rússia, mas têm um efeito bumerangue: acertaram também a Europa, que sofre com a inflação de alimentos e principalmente de energia", explica o cientista político.

Além disso, historicamente, o inverno russo teve um papel decisivo em alguns conflitos, e foi responsável por derrotar tanto Napoleão quanto Hitler, na Segunda Guerra Mundial. Contudo, Rudzit revela que, neste caso, a situação é diferente. 

"Dessa vez, eles não estão lutando contra franceses ou alemães, e sim ucranianos, que também estão acostumados a invernos gelados. Por isso, há a expectativa de que os embates diminuam, mas existe a possibilidade de que isto não aconteça", afirma. 

Para os especialistas, porém, os russos estão apostando no tempo frio como uma carta na manga, e já diminuíram muito o fluxo de energia e de gás para a Europa, que, no começo da guerra, tinha um estoque, que já está no limite. No inverno, a situação só se agravará, pois a demanda por gás de cozinha e para aquecimento será alta.

"Putin conta que os custos de energia e de vida em geral sejam tão altos que os eleitores europeus se revoltem contra seus governos, e estes venham a abandonar o apoio à Ucrânia", afirma Rudzit. 

* Estagiária do R7, sob supervisão de Daniel Pinheiro

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