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Há 1 ano, marcha em Charlottesville deixava à mostra fascismo nos EUA

Para especialistas, movimentos ultranacionalistas e racistas indo às ruas armados demonstram permissividade com ideias neofascistas

Internacional|Beatriz Sanz, do R7

Integrantes da marcha usavam roupas da Ku Klux Klan
Integrantes da marcha usavam roupas da Ku Klux Klan

A marcha de Charlottesville em 2017 trouxe à tona imagens chocantes e reais sobre como funciona o supremacismo branco e os movimentos neofascistas nos Estados Unidos.

O evento, convocado por líderes desses movimentos como Jason Kessler e Richard Spencer — criador do conceito Alt-Right —, foi uma resposta a uma decisão do governo local sobre a estátua do oficial confederado Robert E. Lee. Ela havia sido retirada da cidade após uma decisão do legislativo municipal, por ser considerada ofensiva à população afro-americana.

A reação veio na forma de centenas de manifestantes que vieram de diversas partes do país, fortemente armados. Em sua maioria, homens brancos.

A professora da Universidade de Nova York Barbara Weinstein acredita que a marcha foi formada por grupos que são explicitamente fascistas. "Não houve nenhum esforço para fingir que era outra coisa", recorda.


De fato, as menções foram explícitas. Muitos dos integrantes da marcha usavam símbolos nazistas como a suástica, carregavam bandeiras confederadas (símbolo do movimento pró escravidão negra nos EUA) ou vestiam as conhecidas máscaras da Ku Klux Klan.

O fator Trump


A tensão racial e ideológica cresceu em toda a cidade, culminando na marcha. Mas Weinstein argumenta que nada disso teria acontecido sem um fator fundamental: a eleição de Donald Trump.

“Tudo isso é possível por causa da eleição do Trump. Não é que esses grupos existam por causa do Trump, mas eles estão muito mais ousados, muito mais atrevidos na esfera pública. Eles estão animados por ter um presidente que está ao lado deles”, garante Bárbara.


A historiadora Suzane Jardim, pesquisadora de dinâmicas raciais e criminologia no Brasil e Estados Unidos, concorda que a eleição de Trump, um presidente branco que já fazia declarações controversas sobre o ex-presidente negro Barack Obama antes mesmo de considerar ser candidato, fortaleceu a organização desses grupos.

No entanto, Jardim avalia que o fenômeno já estava se formando há muito tempo sem que a opinião pública e a imprensa norte-americana tivessem prestado atenção antes.

"A marcha de Charlottesville foi a explosão de sentimentos que estavam há tempos entre boa parte dos norte-americanos, que já não tinham mais coragem de sair às ruas e queimar cruzes como faziam abertamente em um passado recente”, diz.

"Não creio que tenha sido um auge, mas sim o produto de um fenômeno que não quiseram conter por ser tão americano quanto o MC Donald's ou a Coca-cola e que tem antecedentes e desdobramentos tão violentos e chocantes quanto."

A violência explícita

Uma das marcas de Charlottesville foi a violência. Além das três pessoas que perderam a vida — dois policiais e uma militante antifascista que participava de um contra protesto e foi atingida por um carro guiado por um supremacista —, um relatório divulgado depois da marcha revelou que os policiais não estavam tão armados quando os manifestantes ultranacionalistas.

Os manifestantes estavam fortemente armados
Os manifestantes estavam fortemente armados

Os homens empunhavam armas de fogo de médio e grande porte, como fuzis, além de lança-chamas e bastões abertamente. Eles se lançavam em cima dos militantes que estavam no contraprotesto e os agrediam em frente às câmeras, sem nenhum pudor.

“As roupas que eles [os manifestantes da direita] estavam usando, os cartazes, tudo era absolutamente explícito. É muito raro que isso apareça na esfera pública norte-americana desse jeito”, lembra Weinstein.

Para a professora, é muito provável que as cenas de violência se repitam nas marchas que acontecerão neste domingo, celebrando um ano de Charlottesville.

A própria cidade da Virgínia deve receber alguns manifestantes pensando em reeditar a reunião do ano passado, mas Jason Kessler mudou a localização da Marcha Unite the Right 2 (Unir a Direita 2, em inglês).

O evento principal vai acontecer no parque Lafayette, ao lado da Casa Branca, com a autorização do governo. As previsões de Kessler é de que sua marcha deve reunir cerca de 400 pessoas.

Os movimentos antifascistas, progressistas e anti-racistas também estão se organizando para cobrar suas próprias demandas e tentar frear a sensação de vitória que os supremacistas tiveram no ano passado.

Jardim acredita que a violência possa se repetir esse ano, mas em forma de “micro confrontos”, sem as demonstrações de grande proporção como as registradas na edição anterior.

Neofascismo de roupa nova

Os movimentos neofascistas já se faziam presentes nos EUA há anos. Na década de 1950, houve o ressurgimento da Ku Klux Klan, um grupo racista com origens no período pós Guerra Civil e abolição da escravidão nos EUA. Nos anos 70, movimentos neo-autoritários se apresentaram de uma nova forma, respondendo também aos movimentos pelos direitos civis.

Agora, Jardim diz que o neofascismo nos Estados Unidos veste uma roupa ainda mais nova.

"O neofascimo hoje tem ainda uma raiz histórica que o liga ao fascismo norte-americano do passado, porém se apresenta com outras roupagens. Já não são apenas os fazendeiros sulistas, mas sim toda uma juventude que atua em sites como o Twitter, que domina os temas atuais como o multiculturalismo ou a globalização, que tem penteados modernos, bandas de rock e smartphones", destaca a historiadora.

Para ela, muitos desses jovens que se identificam com alt-right dizem ser contra os ideais fascistas, apenas se preocupam com o futuro da nação que aponta para um multiculturalismo cada vez maior.

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