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Incertezas do Brexit também afetam brasileiros morando no Reino Unido

Em clima tenso de negociações, nem UE, nem os britânicos, comunicou ainda como ficará a situação de imigrantes ou pessoas que pretendem imigrar

Internacional|Giovanna Orlando, do R7

Imigrantes no Reino Unido ainda não sabem o que mudará nas leis
Imigrantes no Reino Unido ainda não sabem o que mudará nas leis

Em tempos de indecisão do Brexit, brasileiros que residem no Reino Unido, tanto com passaporte brasileiro como os que possuem dupla cidadania, convivem com a dúvida diária de não saber como ficará a situação dos imigrantes na península depois da separação com a União Europeia.

Antes prevista para o dia 29 de março, agora o Reino Unido tem até maio para deixar de ser membro da UE.

Em clima tenso de negociações e falta de acordos, nenhum dos dois lados comunicou ainda como ficará a situação de imigrantes que já vivem na Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, nem das pessoas que pretendem imigrar para lá.

Como ficam as relações com o Brasil


A saída do Reino Unido da União Europeia acaba afetando todo mundo, agora que a península está fora do Tratado de Livre Comércio do bloco. A região terá que traçar novo tratado e negociar com os outros países como ficam as relações diplomáticas e acordos econômicos vigentes.

Isso inclui o Brasil, que mais recentemente vinha negociando em bloco, com o Mercosul, diretamente com a UE. Agora, a tendência é que se estabeleça uma relação bilateral, direta entre o governo brasileiro e o Reino Unido.


“Agora, os interesses econômicos do Reino Unido não são mais importantes para a União Europeia durante as negociações, pensar nos benefícios da região não é mais uma questão importante”, explica Vladimir Feijó, professor de Direito Internacional da Ibmec de Minas Gerais.

A saída do Brasil do pacto de imigração também é um fator importante nas negociações. O governo não quis renovar o acordo, mas os imigrantes que já moram aqui não são afetados pela decisão. Uma mudança para os brasileiros que vivem em território britânico, no entanto, pode acabar acontecendo eventualmente.


“O Brasil mandou uma mensagem que não faz parte do pacto global. O governo do Reino Unido pode não se sentir compromissado a respeitar sua parte com brasileiros”, explica o especialista. Porém, esse cenário não está na mesa. “Eu não acredito que isso possa acontecer, mas ele pode querer negociar”, alerta.

O que muda para quem viaja para o Reino Unido

"Por enquanto, a gente não sabe como vai ser a saída do Reino Unido, tem muita dificuldade em acertar o texto do acordo entre as duas partes", explica Feijó.

Para o especialista, o maior problema a ser enfrentado será entre viajantes que saem da Europa para o Reino Unido, e vice-versa. "A política da União Europeia pode ser de maior restrição aos visitantes britânicos, com um controle mais rígido na imigração", conta.

Porém, nada muda para os brasileiros viajando para o país. "O Reino Unido segue o padrão de imigração adotado pela União Europeia, então seguem as regras como estão. Se ele quiser impor uma nova regra, terá que negociar com os países e entrar em um acordo", explica.

O que muda para quem migra para o Reino Unido

Ainda não foi definido o que vai realmente mudar na política para imigrantes que moram no Reino Unido, mas o governo já informou que os residentes precisam aplicar para um novo visto, chamado Settled Scheme, até o final de 2020, para garantir os direitos.

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Morando há três anos na Inglaterra com passaporte português, a advogada Marcela Bello tem medo de como o Brexit pode afetar a família. "Eu e minha família teremos que fazer um novo cadastro no governo, mas a decisão se a gente continua aqui fica na mão deles", explica.

Apesar de acreditar que a família não corra risco de perder a residência, o medo permanece. “Tudo pode mudar em uma simples canetada. Simples assim”, conclui.

Esse medo não é sentido por Fabiola Mendes, que mora há 10 anos no país e recebeu a cidadania britânica depois de seis anos. Para ela, que concorda com o Brexit, é importante controlar a entrada de imigrantes.

"Na minha opinião, a imigração tem sim que ser coordenada. O europeu pode sim migrar para o Reino Unido, desde que trabalhe, pague impostos e contribua para a economia do país", disse.

Indecisão britânica

O clima de indecisão também é sentido pelos britânicos. Enquanto a premiê Theresa May critica o Parlamento por atrasar o Brexit e não chegar a um acordo, parte da população se decepciona com a forma que o governo está conduzindo a situação.

“Os britânicos estão bem chateados. Os que são a favor do Brexit estão se sentindo enganados com o acordo, e os que são contra acham que tem que anular”, conta Kely Martins, que mora há seis meses na península.

Quando foi votado, em 2016, o referendo era facultativo. Boa parte da população, principalmente jovens, não compareceu a votação. No final, 51,9% dos votantes escolheu que o Reino Unido deixasse a União Europeia. 

A falta de adesão foi decisiva para Wellington Rafael, que mora há dois anos na Inglaterra. “Eu particularmente não conheço ninguém com menos de 25 que foi votar na ocasião. Afirmo, com toda certeza, que se fosse refeito esse referendo hoje, após todo esse debate que tem surgido nesses últimos meses, sem dúvida alguma, seria uma derrota esmagadora da proposta do Brexit”, diz.

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