Índia não julgará nativos que mataram americano a flechadas
John Allen Chau morreu em 2018 ao tentar contato com povo isolado da Ilha Sentinela; pescadores que facilitaram acesso ao local foram presos
Internacional|Giovanna Orlando, do R7
Nove meses após o assassinato do missionário americano John Allen Chau em uma ilha remota na Índia, pouco avanço foi feito nas investigações.
O turista norte-americano foi morto a flechadas em novembro pelos sentineleses, povo que vive em um território protegido na ilha de Sentinela do Norte e é completamente isolado do resto do mundo.
Segundo relatos de pescadores, Chau conseguiu uma carona com um grupo de pescadores e usou uma canoa para desembarcar sozinho na ilha, onde ele queria catequizar os moradores, quando foi recebido por flechas.
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O corpo de Chau ficou na ilha e as autoridades estão investigando o caso.
Polícia investiga motivações do turista
Segundo Sophie Grig, porta-voz da ONG Survival International, que cuida dos direitos dos índios, a polícia está investigando as motivações do turista.
“Foi reportado pela mídia indiana que eles querem entender se os outros dois missionários americanos, que estavam com Chau antes da jornada, fizeram uma 'lavagem cerebral' nele e o convenceram a ir para a ilha de Sentinela do Norte”, explica.
Os sete pescadores que ajudaram o missionário a chegar na ilha foram presos. Para Sophie, o importante agora é entender como ele teve acesso a ilha, o quer é ilegal.
“Medidas devem ser tomadas para garantir que o acesso à ilha está propriamente seguro de invasores (incluindo caçadores e pescadores ilegais que tentam roubar os recursos dos nativos) e garantir que ninguém consiga entrar na ilha”, diz.
Sentineleses não serão julgados
Para as investigações, os sentineleses não serão convocados a prestar depoimentos e a polícia não vai, e nem tem autorização, para entrar na ilha, além das dificuldades em se comunicar com os nativos, já que não se sabe qual língua eles falam.
Grig também diz que há uma preocupação com as doenças que poderiam chegar na ilha caso algum policial entrasse e os impactos que isso teria na população, que não tem imunidade a doenças comuns no continente.
“Ninguém pode entrar na ilha, nem mesmo a polícia. Ninguém sabe quem matou Chau”, diz.
Além disso, existe o argumento de que os sentineleses estavam agindo em legítima defesa por medo de que ele os atacasse ou os infectasse, e eles já haviam afastado o americano da ilha sem atirar nele outras duas vezes antes da invasão.
“Os sentineleses não tem ideia de que vivem em um país chamado Índia ou que existem leis que dizem que existem punições por matar alguém. Então como eles podem ser culpados por um crime ou violar uma lei que eles nem sabem que existe?”, argumenta Grig.
Corpo ainda não foi recuperado
O corpo de John Allen Chau não foi resgatado pelas autoridades, que afirmam ter identificado a área da ilha em que eles acreditam que ele foi morto.
“As informações sobre isso são confusas. Às vezes a polícia diz que não tem planos para recuperar o corpo, mas disseram em nota que ‘nenhuma decisão final foi tomada, pois buscamos sugestões de especialistas do ministério tribal de bem-estar e do Inquérito Antropológico da Índia’”, conta.
Sophie disse que a ONG, antropólogos e outros especialistas avisaram as autoridades que a melhor opção é não tentar recuperar o corpo, que não foi pedido pelos Estados Unidos e pela família de Chau, que não pretendem sancionar ou punir os sentineleses
Preocupações futuras
Não se tem relatos de outras pessoas tentando entrar em Sentinela do Norte, mas existe a preocupação de outros turistas se inspirarem no plano de Chau, que já é considerado um mártir, e tentarem ser bem-sucedidos na missão.
“É vital agora que as autoridades continuem vigilantes e protejam a área e o entorno da ilha propriamente”, conclui Sophie.