Indonésia após tsunami: 'Cheiro de morte está em todo lugar'
Médica da Cruz Vermelha que está em Sulawesi, atingida por forte terremoto, diz nunca ter visto cenário tão devastador; mais de 1.200 morreram
Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7
O cheiro de corpos em decomposição é o que mais choca Arina Hidayati, clínica-geral da Cruz Vermelha, que há dois dias trabalha atendendo a população na ilha de Sulawesi Central, na Indonésia — atingida na última sexta-feira (28) por um terremoto seguido de tsunami que deixou mais de 1.200 mortos.
"O cheiro de morte está em todo lugar", descreve Arina em entrevista ao R7. "Já atendi em um centro de emergências em Cox's Bazar, em Bangladesh, em 2016, e tratei de vítimas de terremotos em Pidie Jaya e Lombok, também na Indonésia, mas nunca vi uma destruição como esta."
A médica de 35 anos presta assistência neste momento à população na localidade de Sigi, que fica próxima a Palu, cidade com maior número de mortes.
"Oficialmente, não foram registradas vítimas fatais na zona onde estou, mas há a suspeita de que muitos corpos estejam sob os destroços dos prédios — daí o odor forte."
Segundo Arina, mesmo a operação de buscas por desaparecidos representa ainda muitos riscos.
"Em alguns lugares, a posição de uma pessoa sob os escombros prejudica sua retirada — um erro de cálculo e uma construção parcialmente derrubada pode cair por completo e atingir o socorrista", diz.
Muitos feridos e doentes
A médica afirma que atendeu cerca de 110 pacientes em uma clínica móvel para emergências nas últimas 48 horas.
"A grande maioria tem ferimentos e apresenta infecção do trato respiratório superior — que afeta o nariz, a garganta e as vias aéreas —, causado pela poeira e pelo ar contaminado", detalha.
Arina lembra que o ar tem muita poeira na região e o próprio sistema imunológico da população fica abalado em circunstâncias como esta, favorecendo o aparecimento das infecções.
A maior preocupação das autoridades agora, de acordo com a clínica-geral, é continuar oferecendo à população os serviços de saúde e providenciar o fornecimento de água limpa e saneamento básico.
"Temo que, se higiene e limpeza não forem retomadas em pouco tempo, haverá um surto de diarreia", completa.
Mais terremotos
Na sexta-feira, a ilha de Sulawesi Central foi atingida por um terremoto de magnitude 7,5 na escala Richter seguido de um tsunami.
A região costeira foi devastada por ondas de até 6 metros de altura que deixaram pelo menos 1.234 mortos, segundo levantamento divulgado pelas autoridades nesta terça-feira. O saldo deve aumentar à medida que novos corpos forem encontrados sob os escombros.
"Continuamos sentindo réplicas do terremoto. Na última noite, houve um tremor de 5,5 graus e outro de 5 graus que deixaram alguns voluntários da nossa equipe em estado de choque — mas conseguimos lidar bem com a situação", pondera Arina.
A médica conta que sobreviventes da tragédia estão saqueando lojas de alimentos para conseguir água e comida. "Pra mim, a cena mais chocante até agora foi ver a população local roubando o minimercado, depois de conseguir atendimento de saúde em uma vila que foi soterrada pela lama."
VÍDEO: Veja o resgate de um sobrevivente de terremoto na Indonésia
A mídia local assegura que o presidente da Indonésia, Joko Widodo, ordenou que a agência nacional de busca e resgate envie mais policiais e soldados aos distritos afetados. Muitas localidades estão isoladas por estradas e pontes destruídas e por deslizamentos de terra.
A prioridade é, de fato, levar água potável para os milhares de desabrigados com a ajuda de caminhões-tanque.
O fornecimento de combustível também tem sido feito de maneira emergencial, já que muitas partes da ilha estão sem energia.