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Israel admite negociar acordo histórico com a Arábia Saudita

Possibilidade de entendimento com sauditas, que já não são os maiores produtores de petróleo, aumentou após acordo de Israel com Emirados

Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7

Acordo com Emirados possibilita voos diretos
Acordo com Emirados possibilita voos diretos Acordo com Emirados possibilita voos diretos

O acordo entre Israel e Emirados Árabes está prestes a abrir um caminho de conciliação histórica de Israel com países árabes do Oriente Médio. As chances de formalização das relações entre Israel e Arábia Saudita, algo que era impensável desde o surgimento de Israel, em 1948, agora são reais e o cenário caminha para um entendimento, segundo a própria diplomacia israelense.

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"O interesse de Israel é alcançar a paz e boas relações de vizinhança com todos os seus vizinhos no Oriente Médio. O ritmo de cada país é diferente, mas a direção que estamos tomando é clara. O processo de paz começou em 1977 com o Egito, depois em 1994 com a Jordânia e agora com os Emirados Árabes Unidos. Esperamos que mais países se juntem a este processo", afirmou ao R7 a embaixada de Israel no Brasil, representando o Ministério das Relações Exteriores israelense, ao ser questionada especificamente sobre a paz com a Arábia Saudita.

O contexto dos últimos anos é bem diferente de quando o presidente americano Franklin Roosevelt se encontrou com o rei saudita Abdul Aziz Ibn Saud, em 1945, para definir relações comerciais no pós-guerra, muito voltadas ao interesse americano nas reservas sauditas para empresas privadas e para alimentar o Plano Marshall, de reconstrução da Europa, que consolidou os Estados Unidos como potência maior no mundo.

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Na ocasião, Roosevelt até conversou com o rei sobre um hipotético Estado de Israel (fundado três anos depois). Mas a ideia foi rejeitada prontamente pelo saudita. Preferindo não se indispor com o interlocutor, o presidente americano voltou para os Estados Unidos sem falar mais nada a respeito.

Nos últimos anos, a situação tem se modificado. Muito em função, também, de que, agora, os sauditas necessitam ainda mais dos EUA. Perderam, afinal, o primeiro lugar na produção mundial de petróleo para os próprios americanos, em um momento no qual, para piorar a situação saudita, a commodity tem perdido algum espaço como matriz energética.

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Paralelamente a isso, a ameaça iraniana impeliu a Arábia Saudita a uma aproximação maior com o Ocidente, que inclusive mantém bases militares no país, além de vender armamentos, muitos deles usados na sangrenta guerra do Iêmen, da qual a Arábia, sunita, tomou parte defendendo o governo dos rebeldes houthis, apoiados pelo xiita Irã, que vislumbra se tornar a potência da região.

Neste novo contexto, a aproximação com Israel, também oponente do Irã, ganhou mais força a ponto de, nos últimos anos, os dois países terem intensificado algumas relações comerciais.

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Em janeiro deste ano, o Ministério do Interior de Israel passou a permitir a viagem de cidadãos israelenses (muitos deles árabes) para a Arábia Saudita, para visitas religiosas ou de negócios.

Além disso, ambos os países têm o objetivo de realizar um intercâmbio, baseado em trocas de soluções tecnológicas e de commodities. O acordo de Israel com os Emirados Árabes, divulgado no último dia 13, foi um passo para isso, já que o governo dos Emirados é aliado dos sauditas.

"Há um enorme potencial para as relações entre Israel e os Emirados Árabes Unidos. Tanto economicamente quanto em outras áreas. O fato de um dos elementos do acordo ser um acordo de aviação e o estabelecimento de voos diretos entre os países, é um fato importante e significativo. O fato de israelenses conseguirem chegar aos Emirados Árabes Unidos e os cidadãos dos Emirados Árabes Unidos conseguirem chegar a Israel tem um enorme potencial para as economias dos dois países, especialmente no campo do investimento em inovação e tecnologia, áreas em que os dois países lideram", declarou a embaixada de Israel.

Além disso, os Emirados Árabes são vistos por Israel como um contraponto à ameaça iraniana na região. O mesmo vale, neste momento, para a Arábia Saudita, apesar de seu governo ser muito criticado por denúncias de perseguições e violações dos direitos humanos.

"O acordo com os Emirados é um exemplo da nova realidade que está surgindo no Oriente Médio. A linha não passa entre Israel e o mundo árabe, mas entre os países extremistas liderados pelo Irã e também as organizações terroristas e os países moderados. A conexão entre os países moderados e especialmente entre Israel e esses países fortalece a estabilidade no Oriente Médio e a segurança na região", afirma a embaixada.

Questões anteriores

Berço do Império Árabe e núcleo de origem do islamismo, entre os séculos 7 e 13, a Arábia Saudita se tornou uma representante do mundo oriental em relação ao Ocidente.

Isso desde o seu surgimento com o formato do atual país, em 1932, sob o comando de uma dinastia wahabita.

Mesmo com o distanciamento geográfico, por vários anos, a Arábia Saudita compactuou e, muitas vezes, coordenou ações contrárias a Israel, negando a existência do Estado Judaico.

Nem mesmo a ligação com os Estados Unidos, principal aliado de Israel, era capaz de reverter esse quadro.

O que os Estados Unidos faziam era apoiar Israel sem no entanto se distanciar muito da Arábia Saudita, principalmente em termos de negócios e por causa dos interesses no petróleo.

Em 2017, por exemplo, negociou com os sauditas uma venda de 110 bilhões de dólares em armamentos. Além dos recursos financeiros recebidos, era interessante para os americanos armar um inimigo do Irã na região.

Paralelamente, a própria Arábia Saudita começou a adotar um discurso menos belicoso em relação a Israel.

Em abril de 2018, o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman até reconheceu o direito de existência de Israel.

"Acredito que os palestinos e os israelenses têm o direito de ter sua própria terra. Mas temos que ter um acordo de paz para garantir a estabilidade para todos e ter relações normais", afirmou, em resposta a uma pergunta do jornalista Jeffrey Goldberg, da revista americana The Atlantic.

A questão estratégica, até o início dos anos 80, era outra. Até então, os americanos apoiavam o regime iraniano do Xá Reza Pahlevi.

Com a queda do ditador, por causa da Revolução islâmica, o quadro se mudou, inclusive para Israel, que até então tinha voos regulares entre Teerã e Tel Aviv.

A retórica mais radical passou a vir do governo iraniano, deixando por um tempo a Arábia Saudita como um inimigo menos feroz.

Com a ameaça nuclear iraniana, os sauditas também passaram a se sentir ameaçados. Foi o momento em que a interferência americana finalmente pôde alimentar a possibilidade de um acordo de paz entre Israel e Arábia Saudita, ainda que, até agora, o país árabe continue condicionando essa união à criação de um Estado Palestino.

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