Israel enfrenta greve geral após atos contra reforma do Judiciário
Presidente do país, Isaac Herzog, pediu ao Parlamento que paralise mudanças, que incluem redução de poder da Suprema Corte
Internacional|Do R7
Com um apelo solene e uma convocação de greve geral, o presidente de Israel e a grande central sindical do país pediram nesta segunda-feira (27) ao governo do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que paralise o projeto de reforma judicial.
A proposta provoca os protestos em massa no último domingo (26).
"Toda a nação está profundamente preocupada. Nossa segurança, nossa economia e nossa sociedade estão ameaçadas", afirmou o presidente Isaac Herzog.
"Em nome da unidade do povo de Israel, em nome da responsabilidade necessária, eu peço a vocês que interrompam o processo legislativo imediatamente", acrescentou Herzog em um comunicado dirigido ao gabinete de Netanyahu e a seus aliados no Parlamento.
O presidente da Histadrut, a grande central sindical de Israel, se uniu à pressão e convocou uma greve geral imediata para segunda-feira, com o objetivo de forçar a paralisação da reforma judicial.
"Temos a missão de deter este processo legislativo e vamos fazer isto", afirmou Arnon Bar-David em uma mensagem exibida na televisão.
O sindicato dos médicos anunciou em seguida uma "greve total no sistema de saúde", que afetará os hospitais públicos.
A paralisação também afeta os voos no aeroporto internacional Ben Gurion, perto de Tel Aviv, informou à AFP Liza Dvir, porta-voz da autoridade aeroportuária.
"Israel não é uma ditadura"
A convocação da greve e o apelo de Herzog aconteceram após as manifestações de domingo à noite em Tel Aviv, organizadas depois que Netanyahu demitiu o ministro da Defesa, Yoav Gallant, por pedir uma pausa de um mês no processo legislativo de aprovação da reforma.
O projeto do governo de Netanyahu, um dos Executivos mais à direita na história de Israel, pretende aumentar o poder dos políticos sobre os juízes e diminuir o papel da Suprema Corte.
Os críticos afirmam que a reforma ameaça a separação dos poderes e, portanto, o caráter democrático do Estado de Israel. A rejeição ao projeto provocou nos últimos meses um dos maiores movimentos populares de protestos da história do país.
Na mobilização de domingo, os manifestantes ocuparam uma grande avenida que atravessa Tel Aviv, montaram barricadas e acenderam fogueiras. A polícia respondeu com jatos de água.
Os manifestantes exibiram bandeiras do país e gritaram frases com "Israel não é uma ditadura!" e "Não a um governo fascista".
"Durante a noite, nós observamos cenas muito difíceis", disse Herzog, que fez um apelo ao governo de Netanyahu em tom dramático: "Todo o povo de Israel está nos observando. Todo o povo judeu está nos observando. O mundo inteiro está observando".
De acordo com a imprensa, Netanyahu pode discursar à nação nesta segunda-feira.
Preocupação
Os manifestantes também se reuniram nesta segunda-feira diante do Parlamento, em Jerusalém.
"Pedimos ao governo que paralise esta reforma maluca", declarou à AFP Keren Mimran, 57 anos, que trabalha no setor de alta tecnologia.
"Israel se tornou um lugar muito perigoso neste momento", disse Trevor Galor, proprietário de uma empresa de turismo.
Netanyahu e seus aliados ultraortodoxos e de extrema-direita defendem a reforma. O governo alega que é necessário equilibrar a correlação de forças entre os funcionários eleitos e a Suprema Corte, que o atual Executivo considera politizada.
O processo legislativo segue adiante e nesta segunda-feira a comissão parlamentar de leis votou a favor de um dos elementos cruciais da reforma: o projeto de lei que modifica o processo de nomeação dos juízes.
O governo dos Estados Unidos, grande aliado de Israel, expressou grande preocupação e destacou a "necessidade urgente de um compromisso".
"As mudanças fundamentais em um sistema democrático devem acontecer com a base mais ampla possível de apoio popular", afirmou a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Adrienne Watson, em um comunicado.
Em um discurso na quinta-feira, Netanyahu se comprometeu a "acabar com a divisão", mas reiterou sua determinação de avançar com a reforma.
No dia seguinte o primeiro-ministro foi advertido pela Justiça, que considerou "ilegal" sua intervenção pública sobre a reforma judicial, pois ele está envolvido em processos por suborno, fraude e abuso de confiança, acusações que ele nega.
Em maio de 2020, a Suprema Corte de Israel decidiu que um primeiro-ministro indiciado não tem o direito de atuar em um âmbito no qual poderia incorrer em conflito de interesses.