Judeus e evangélicos reforçam aliança contra atos antissemitas como o de Charlottesville
Artigo no Jerusalem Post destaca importância dos evangélicos na defesa dos judeus e de Israel
Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7
No rastro das manifestações racistas de Charlottesville, que incluíram o antissemitismo, um artigo do The Jerusalem Post, de autoria da diretora do Centro de Israel para Relações Judaico-Cristãs, Faydra L. Shapiro, destacou a importância dos evangélicos na defesa dos judeus e do Estado de Israel.
No texto, publicado na última terça-feira (22), Faydra critica as generalizações feitas pela revista Newsweek, a respeito da atmosfera antissemita reinante nos Estados Unidos. Ela afirma que, nas últimas décadas, o fortalecimento dos cristãos evangélicos foi fundamental para aproximar os judeus dos cristãos de uma maneira geral.
Segundo ela, "desde o Holocausto, as denominações cristãs ocidentais examinaram seriamente e cuidadosamente o papel que o ensino cristão poderia ter desempenhado na normalização das atitudes anti-judaicas, ensinando sobre judeus e judaísmo de forma responsável e verídica".
— As relações judaico-cristãs estão em um estágio de desenvolvimento extraordinariamente diferente do que eram no passado. E o cristianismo evangélico é muito parte desse progresso extraordinário.
Ela inclusive utilizou a denominação "sionismo cristão" para descrever a reverência dos evangélicos ao Estado de Israel. Por suas palavras, a situação ainda é nova, dentro de uma perspectiva histórica. Ela admite que é um contexto que tem certas complexidades, mas demonstra que a relação está em um estágio muito produtivo e tem sido reforçada em momentos de manifestações racistas.
— Mas uma coisa é certa: o sionismo cristão trouxe milhões de cristãos evangélicos para uma relação positiva sem precedentes com judeus e judaísmo. Através de sua principal questão de apoio a Israel, os cristãos evangélicos americanos estão agora muito mais interessados e sensíveis às raízes judaicas do cristianismo, às práticas e às crenças do judaísmo e à centralidade de Israel com nosso povo.
Para o professor Samuel Feldberg, especialista em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, o vínculo entre judeus e cristãos evangélicos tem raízes históricas.
— Quando você olha para o mundo evangélico, vê um segmento específico do cristianismo que sempre teve uma visão coincidente com o objetivo do povo judeu de criar um Estado independente na Palestina, importante para a comunidade evangélica.
O professor explica que tal união é decorrente de aspectos religiosos e nacionais.
— Os evangélicos veem o fortalecimento de Israel e o retorno do povo judeu ao seu lar ancestral como um passo obrigatório para a segunda ressurreição de Cristo. É uma convergência de interesses religiosos por parte dos evangélicos e também nacionais por parte do povo judeu. Sempre que existe uma convergência de valores como esses é algo a ser estimulado, sem dúvida nenhuma. É uma convergência de valores positivos.
Carro atropela multidão de manifestantes em protesto violento em Charlottesville
Dois aspectos vieram à tona com os acontecimentos de Charlottesville. Por um lado, a marcha racista foi uma demonstração, na visão de Feldberg, de que o antissemitismo se intensificou nos Estados Unidos.
— Em paralelo ao fortalecimento desse vínculo entre evangélicos e o apoio a Israel, você tem, em vários setores da sociedade americana, um aumento do antissemitismo que não é isolado, vem com aumento do racismo, do radicalismo, da busca da supremacia branca. O que aconteceu em Charlottesville é um reflexo desse fenômeno, que inclui o recrudescimento do antissemitismo em vários segmentos nos Estados Unidos.
Por outro lado, o segundo aspecto foi o aumento das manifestações anti-racistas e o crescimento de iniciativas solidárias em prol dos direitos humanos no país. As doações para a ADL (Liga Antidifamação, em inglês), organização das mais antigas no combate ao antissemitismo e ao racismo, se multiplicaram segundo informou a AFP.
A porta-voz da ADL, Betsaida Alcantara, disse que, após a ação em Charlottesville, a doação de empresas como Fox News, Apple, Uber e MGM Resorts aumentaram em 1.000% em relação à média por semana, desde o início do ano.