'Lava-jato argentina' tem cadernos de propinas e empresários presos
Operação pode influenciar as eleições presidenciais de 2019; ex-presidente Cristina Kirchner terá de prestar esclarecimentos no próximo dia 13
Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7
A descoberta de oito pequenos cadernos, pela Justiça da Argentina, desencadeou uma série de prisões de ex-funicionários e pessoas ligadas aos governos de Néstor Kirchner (2003-2007, falecido em 2010) e Cristina Kirchner (2007-2015) na última quarta-feira (1). Os cadernos estavam sob responsabilidade de Oscar Centeno, motorista do ex-funcionario kirchnerista Roberto Baratta.
Os cadernos foram entregues, sob anonimato, ao promotor Carlos Stornelli, e neles estariam registrados cerca de 10 anos de pagamentos de propinas em obras contratadas pelo Estado argentino. No caso, revelado pelo jornal La Nacion, haveria pelo menos 36 pessoas envolvidas.
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Até agora, 13 pessoas foram presas, após 51 operações simultâneas de busca e apreensão em pelo menos 34 imóveis. Entre elas estava Centeno, que aceitou colaborar com a Justiça, dizendo-se arrependido para o juiz Claudio Bonadio. Centeno também teria admitido ser o autor do conteúdo dos cadernos. A partir disso, as prisões foram efetivadas.
No caderno estão registrados pelo menos cerca de 53 milhões de dólares (R$ 198,8 milhões) em subornos e propinas, mas Bonadio acredita que as cifras podem chegar a mais de 160 milhões de dólares (R$ 600,1 milhões).
A operação seria uma espécie de Lava Jato argentina com poder de influenciar as eleições presidenciais de 2019, já que Cristina Kirchner, que terá de prestar esclarecimentos no próximo dia 13, pensa em se candidatar.
Quem foi preso
Entre os detidos, além de Centeno, está Roberto Baratta, que era secretário de coordenação de Julio De Vido, então Ministro do Planejamento. Centeno era funcionário de Baratta. De Vido já estava preso desde o final de 2017, entre outras acusações, por supostos desvios de verbas para o Transporte.
Os empresários detidos foram Carlos Wagner (Esuco); Gerardo Ferreyra (Electroingeniería); Javier Sánchez Caballero (Iecsa); Jorge Neyra (Electroingeniería); Armando Roberto Loson (Grupo Albanesi); Carlos Mundin (BTU) e Claudio Glazman (Sociedad Latinoamericana de Inversiones, S.A).
Vale lembrar que a Iecsa é uma construtora que pertenceu à família do presidente Mauricio Macri.
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Walter Fagyas, ex-diretor da Energia Argentina SA (Enarsa); Rafael Llorens, ex-secretário de Coordenação e Controle de Planejamento, Hugo Martin Larraburu, funcionário do Senado e Nelson Lazarte, ex-secretário de Planejamento, também foram presos. Todos os empresários presos se negaram a dar declarações.
Há ainda ordens de prisão a Francisco Valente (Indústria Pescarmona); Juan Carlos Goicochea (empresa Isolux); Oscar Thomas (ex-diretor-executivo da Yacyreta) e Fabián Garcia Ramón (ex-diretor de promoção de Energias Renováveis).
O que diz Cristina Kirchner
Chamada novamente a depor, a ex-presidente Cristina Kirchner afirma que o juiz Bonadio está alinhado aos interesses do atual governo, do presidente Mauricio Macri. Ela nega esta e outras acusações feitas contra ela desde meados de 2016.
Em junho daquele ano ela foi acusada de lavagem de dinheiro. Em dezembro, de associação ilícita e fraude ao conceder em licitações obras supostamente em favor do empresário Lázaro Báez.
Por ser senadora, Cristina tem foro privilegiado. Só poderia ser detida caso fosse cassada. Bonadio, segundo a imprensa local, deverá pedir ao Senado, nos próximos dias, a remoção do foro privilegiado da senadora, eleita para o cargo em 2017.
Ampliação da Lava Jato
Desde que as investigações da Operação Lava Jato no Brasil se ampliaram para outros países, o governo da ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner passou a ser alvo de suspeitas de corrupção, investigadas na Justiça no governo de seu sucessor Mauricio Macri.
O ex-vice-presidente Amado Boudou chegou a ser preso, acusado de suborno e realização de negócios incompatíveis com o cargo público, estando supostamente por trás da aquisição da gráfica Ciccone, que imprimia a moeda do país, além de materiais de campanha.
Jose Lopez, ex-secretário de Obras Públicas, foi preso em junho de 2016, ao tentar esconder bolsas cheias de moeda estrangeira em Buenos Aires.