Libéria tenta entender como contêiner cheio de dinheiro sumiu
Fortuna equivalente a R$ 408 milhões em notas de 100 e 500 dólares liberianos impressos no Líbano representa cerca de 5% do PIB do país
Internacional|Gabriela Lisbôa, do R7, com Reuters
A polícia da Libéria tem um grande mistério a resolver: um contêiner cheio de dinheiro simplesmente desapareceu do Porto de Monróvia, a capital do país. Dentro dele estavam cerca de 16 bilhões de dólares liberianos — o equivalente a R$ 408 milhões.
A quantia representa cerca de 5% do PIB (Produto Interno Bruto) da Libéria, país que está em duas listas importantes: a dos países mais pobres e a dos países mais corruptos do mundo.
O carregamento de notas de 100 e 500 dólares liberianos tinha acabado de chegar do Líbano, onde o governo da Líbéria imprime sua moeda, e esperava transporte para a o Banco Central do país quando sumiu, no dia 31 de março, segundo a denúncia publicada pelo jornal Front Page Africa na última segunda-feira (17).
A Libéria não tem estrutura própria para imprimir moeda.
Weah pediu investigação
Depois que o sumiço veio à tona, o presidente e ex-jogador de fubebol George Weah pediu que a polícia abrisse uma investigação. Weah assumiu o cargo em janeiro depois de fazer campanha baseada em reformas econômicas.
O ministro da justiça Frank Musah Dean chegou a divulgar que o contêiner de dinheiro chegou ao porto e sumiu em novembro de 2017, portanto, no governo anterior.
Documentos publicados pelo mesmo jornal nesta sexta-feira (21), no entanto, apontam que tanto a chegada quanto o desaparecimento aconteceram no mês de março.
No momento, a investigação indica o possível envolvimento de 15 funcionários do governo federal, inclusive o ex-presidente do banco central da Libéria, Milton Weeks, e o filho da ex-presidente do país, Charles Sirleaf, que também já foi vice-presidente do banco central. Eles estão proibidos de deixar a Libéria.
Na quarta-feira (19), o Ministério da Justiça divulgou um comunicado onde diz que as investigações têm o objetivo de "explicar adequadamente todo o fluxo de dinheiro impresso no exterior e trazidos para o país entre 2016 e 2018".
O país pediu ajuda ao FBI para tocar as investigações. Segundo a agência Reuters, os Estados Unidos ainda estudam a possibilidade de destacar uma equipe para ajudar a rastrear o dinheiro perdido.
População vive na miséria
A Libéria é extremamente pobre. Com economia predominantemente agrícola, tem a menor indústria do mundo.
O país foi criado por escravos libertos dos Estados Unidos e sofreu um golpe militar em 1980, o que levou a duas guerras civis entre os anos de 1989 e 2003.
Os conflitos devastaram a economia, muitos empresários fugiram para países vizinhos, o que aumentou o desemprego e diminuiu o investimento estrangeiro.
Além disso, o país foi afetado pela queda nos preços de suas principais exportações, minério de ferro e borracha, e por um surto de Ebola de 2014 a 2016.
Liberianos fazem o que podem para sobreviver
Entre os que têm emprego, é comum que o salário não seja pago em dia. A população faz o que pode para sobreviver.
Garman Kollie faz sabão a partir de óleo de palma para venda em toda a cidade. Ela contou à Reuters que as vendas diminuíram porque as pessoas precisam comprar comida com o pouco dinheiro que têm.
"Eu me sinto mal porque tento vender o meu sabão mesmo sabendo que as pessoas não compram porque não existe dinheiro neste país. Se pagassem as pessoas, talvez elas comprassem os meus produtos”, disse Kollie.
Rita Fort vende amendoim para sustentar os filhos e conta que precisa andar por toda a cidade para tentar vender o suficiente para comprar alimentos. Ela diz que tinha esperanças que George Weah mudasse o país.
"Eu votei nele para que eu possa ser feliz. Eu queria estar satisfeita, mas olhe para mim, eu não vou voltar para casa antes de encontrar comida para meus filhos”, disse Rita.
Música como forma de cobrar uma solução
Revoltados, os liberianos encontraram na música e na internet uma forma de protestar e cobrar mais transparência em torno do caso.
A hashtag #BringBackOurMoney tornou-se um grito de guerra nas redes sociais e o novo grande sucesso das rádios locais é a música "Bring our container back", (Traga nosso contêiner de volta, em tradução livre), dos artistas Kpanto e Afo4doe.
"Esta música é a voz das pessoas agora. Todo mundo está usando essa música. Não há necessidade de dizer mais nada. As pessoas estão compartilhando a música com seus amigos e familiares. Eles estão espalhando a mensagem", disse Kpanto à Reuters.
A música é executada no popular Hipco, um gênero de rua em que o dialeto local é carregado por uma mistura de batidas da África Ocidental e do som do hip hop americano.
Para a juventude da Libéria, Hipco é uma voz importante.
"Você acha que as pessoas pensam que tudo está bem? Não, não pensam. Eu quero falar pelas pessoas, eu amo as pessoas. Eu não tenho o que é preciso para ajudar todo mundo, mas estou fazendo do meu jeito", disse Kpanto.
Melhor do mundo e presidente da Libéria, Weah volta a fazer história: