Tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba foi deposto por um golpe de Estado em Burkina Faso
OLYMPIA DE MAISMONT / AFPO tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, deposto na última sexta-feira (30) passada por um golpe de Estado como líder da junta militar que governava Burkina Faso desde janeiro, apresentou a renúncia neste domingo (2) como presidente de transição.
O anúncio foi feito por autoridades religiosas locais que mediaram as negociações entre o chefe de governo retirado do poder e os militares golpistas.
"Nosso querido país, Burkina Faso vive momentos de incerteza. Nestes tempos difíceis, em que existe um risco de uma escalada com consequências dramáticas, as comunidades religiosas e consuetudinárias foram chamadas para mediar entre os beligerantes", informaram os mediadores, em comunicado.
"Após as ações de mediação realizadas pelas nossas comunidades, o próprio presidente Paul-Henri Sandaogo Damiba propôs sua renúncia, para evitar confrontos com graves consequências humanas e materiais", completa a nota.
Damiba - substituído como homem forte do país pelo líder dos golpistas, o capitão do exército Ibrahim Traoré -, fixou sete condições para apresentar a renúncia.
Entre os requisitos estão a "busca pela reconciliação nacional", a continuação das "atividades operacionais sobre o campo" (em aparente referência à luta antiterrorista) e o "cumprimento dos compromissos firmados com a CEDEAO (Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental).
A organização manifestou neste domingo "grande preocupação" com o golpe de Estado em Burkina Faso e "reafirma sua adesão ao calendário adotado pela cúpula de 3 de julho de 2022, que prevê o retorno à ordem constitucional, mais tardar, em 1º de julho de 2024".
Damiba também exigiu "a garantia de sua segurança e de seus direitos, assim como de seus colaboradores".
Traoré, segundo os mediadores, "aceitou as sete condições". O grupo que participa das negociações pediu à população "calma, moderação e oração".
Na sexta-feira, um grupo de soldados liderados pelo capitão do exército deu um golpe de Estado e derrubou Damiba, a quem acusam de ser incapaz de combater o terrorismo jihadista.
Em entrevista curta para a emissora de televisão estatal "RTB", o subtenente Jean-Baptiste Kabré, falando em nome de Traoré, anunciou que Damiba "havia se refugiado na base francesa de Kamboinssin, para planejar uma contraofensiva".
Burkina Faso sofre ataques jihadistas frequentes desde abril de 2015, cometidos por grupos ligados tanto à Al Qaeda quanto ao Estado Islâmico, cujas ações afetam 10 das 13 regiões do país, especialmente o norte.
A insegurança fez com que o número de deslocados internos em Burkina Faso aumentasse para quase dois milhões de pessoas.
Em novembro de 2021, um ataque a uma delegacia causou 53 mortes (49 policiais e quatro civis), o que gerou grande descontentamento social que acabou levando a fortes protestos exigindo a renúncia do então presidente burquinense, Roch Marc Christian Kaboré.
Alguns meses depois, em 24 de janeiro, os militares liderados por Damiba tomaram o poder em um golpe - o quarto na África Ocidental desde agosto de 2020 - e depuseram Kaboré.