Líderes mundiais pedem transição ordeira nos Estados Unidos
Autoridades da Europa, continente americano e até ex-presidentes condenaram invasão ao Senado e culpam Trump
Internacional|Da EFE
Após o espanto e a preocupação com que se seguiu o ataque ao Capitólio dos Estados Unidos por apoiadores do presidente Donald Trump, líderes de todo o mundo apelaram pela calma e uma transição ordeira de poder em Washington.
A condenação dos distúrbios, apenas duas semanas antes do democrata Joe Biden assumir o lugar de Trump, foi unânime entre os líderes de diferentes orientações políticas, que expressaram preocupação com a saúde da democracia americana.
A maioria, incluindo o próprio Biden, culpa Trump pelo ocorrido, por insuflar seus apoiadores para realizar o que ele definiu como "um ataque sem precedentes" à democracia e uma "insurreição" que "beira a sedição".
Europa condena invasão
Do Reino Unido, o principal aliado dos EUA na Europa, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, descreveu as cenas vistas ontem durante o ataque ao Capitólio como "vergonhosas" e exigiu uma "transferência de poder pacífica e ordeira" naquele país.
Os líderes das instituições da União Europeia (UE) expressaram sua preocupação e tristeza, mas também mostraram confiança nos EUA para garantir que as regras da democracia e da transferência pacífica do poder sejam respeitadas.
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"O Congresso dos Estados Unidos é um templo da democracia. Assistir às cenas desta noite (quarta-feira) em Washington DC é um choque. Estamos confiantes de que os Estados Unidos irão assegurar uma transferência pacífica de poder para Joe Biden", disse o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também falou da "força das instituições americanas e da democracia", cujo cerne é uma "transição pacífica de poder", e sublinhou que Biden "ganhou as eleições".
"O resultado desta eleição democrática deve ser respeitado", disse o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.
Na mesma linha, o presidente do Governo da Espanha, Pedro Sánchez, mostrou sua confiança "na força da democracia dos EUA" e destacou que, com a nova presidência de Joe Biden, o país "ultrapassará a fase de tensão ao unir o povo americano".
Para o chefe do governo italiano, Giuseppe Conte, "a violência é incompatível com o exercício dos direitos políticos e das liberdades democráticas".
Repúdio no continente americano
Do vizinho Canadá, o primeiro-ministro Justin Trudeau disse que seus compatriotas "estão gravemente preocupados e entristecidos" com o que aconteceu e enfatizou que "a violência nunca triunfará sobrepondo-se à vontade do povo".
A condenação dos atos de ontem também ocorreu por grande parte dos países do continente americano, inclusive na Venezuela, onde o governo de Nicolás Maduro disse que "com este lamentável episódio, os Estados Unidos sofrem o mesmo que geraram em outros países com suas políticas de agressão".
Ex-presidentes condenam fato
E dentro dos Estados Unidos, ex-presidentes, congressistas e outros líderes políticos, tanto democratas quanto republicanos, condenaram o fato, e alguns até pediram o impeachment de Trump, o responsabilizando pelos distúrbios.
"A história lembrará com razão a violência de hoje no Capitólio incitada por um presidente em exercício, que continuou a mentir sem base sobre o resultado eleitoral legal, como um momento de grande desonra e vergonha para nossa nação", disse o ex-presidente Barack Obama, apontando para Trump.
Republicano como o atual mandatário, o ex-presidente George W. Bush declarou-se "consternado com o comportamento temerário de alguns líderes políticos desde as eleições e com a falta de respeito hoje demonstrada por nossas instituições, nossas tradições e nossa aplicação da lei".
"É repugnante e doloroso", disse Bush, sobre a entrada de apoiadores de Trump no Congresso, após o presidente afirmar em um comício em Washington que "nunca concederá" a vitória de Biden nas eleições de novembro e reiterou suas alegações infundadas de fraude.
Vários legisladores democratas apelaram ao vice-presidente Mike Pence para invocar imediatamente a 25ª Emenda à Constituição e retirar o presidente Trump do cargo, por incitar o caos e a violência.
Outros pediram o impeachment imediato de Trump e a remoção da presidência assim que o Congresso for retomado.
Em uma aparente resposta aos que apontam para Trump, Ted Cruz, um senador republicano do Texas e um dos maiores apoiadores da campanha do presidente para tentar reverter os resultados eleitorais, disse: "Parem de espalhar o ódio".
Enquanto aguarda as demandas de Trump, que continua se recusando a admitir a derrota, a verdade é que sua presidência se aproxima do fim, manchada por um acontecimento sem precedentes.