Mergulho em barro e área restrita dificultam resgate de meninos
Para especialista brasileiro, operação para retirar os meninos da caverna na Tailândia por mergulho é complicada, mas pode ser a única opção
Internacional|Fábio Fleury, do R7
Apontado pelos especialistas como a última e mais arriscada opção para resgatar os 12 meninos e o técnico de futebol presos desde 23 de junho no complexo de cavernas de Tham Luang, no norte da Tailândia, o mergulho com respirador, chamado de mergulho autônomo, pode se tornar o único modo viável de salvá-los, se as chuvas voltarem a cair com força na região.
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Entre os diversos fatores que podem tornar o mergulho em caverna mais complicado até para mergulhadores experientes, alguns encontrados em Tham Luang podem transformar a saída dos meninos em uma tarefa ainda mais complicada.
"A água é barrenta por trazer sedimentos da chuva, a caverna tem muitos túneis estreitos que dificultam a movimentação dos mergulhadores, tudo isso atrapalha", afirma Rodrigo Severo, membro da Comissão de Espeleorresgate da SBE (Sociedade Brasileira de Espeleologia).
Limitação de equipamentos
Em um eventual resgate via mergulho, os meninos poderão usar máscaras de rosto inteiro, que permitem que o mergulhador respire pelo nariz em vez da boca, como acontece com as máscaras normais que cobrem o nariz e os olhos. Além disso, esse tipo também permite comunicação via rádio. As equipes tailandesas conseguiram adaptar modelos para os rostos das crianças.
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"Conseguiram máscaras 'full face' para eles, o que ajuda muito, tanto para ajudar na respiração quanto para que os mergulhadores se comuniquem com eles. Também haverá tanques de ar comprimido reservas durante todo o trajeto alagado, que tem cerca de 1,5 quilômetro de comprimento", explica Severo.
Esse tipo de máscara normalmente é usado por mergulhadores profissionais, como os que trabalham em plataformas de petróleo, resgates de naufrágios, entre outros.
Calma sob pressão
Segundo o brasileiro, o mergulho em cavernas é uma modalidade complicada até para quem tem horas de treinamento. Em espaços apertados, como os túneis das cavernas de Tham Luang, a tarefa se torna ainda mais difícil.
"Gente muito experiente tem de ser retirada de cavernas, porque é muito complicado tanto física quanto psicologicamente. Para alguém sem treinamento, é muito fácil deixar de respirar corretamente pela boca, fazer esforço demais, se estressar. Isso pode causar uma tragédia, ainda mais no caso deles, que estão presos debaixo da terra há tanto tempo", analisa.
Como proceder?
Caso se torne inevitável colocar respiradores e máscaras nos meninos e fazê-los nadar por um trecho de túneis alagados de cerca de 30 metros no interior da caverna, cada um dos meninos deverá ser acompanhado por pelo menos dois mergulhadores.
"Como a maior parte deles não sabe nem nadar, o ideal é focar na parte da respiração e só. Não colocaria nem nadadeiras neles. Pelo que vi, o plano parece que envolvemandar um mergulhador treinado na frente e o menino atrás dele, compartilhando o mesmo tanque de oxigênio. Ele se guiaria pela corda, sempre passamos uma corda de guia para achar o caminho nas cavernas", exemplifica Severo.
A corrente, por outro lado, pode ser uma aliada, segundo o mergulhador. "Como eles vão ter de nadar a favor da corrente para sair, isso ajuda, diminui o gasto de energia. Para os mergulhadores, entrar contra a correnteza é o melhor, pois é mais seguro. E na hora de sair é mais fácil, para todo mundo, resgatistas e vítimas", completa.