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Merkel deixa legado econômico, mas peca em influência política

Chanceler alemã por 16 anos, líder reduziu a taxa de desemprego no país e ainda assim pode não conseguir eleger sucessor

Internacional|Lucas Ferreira, do R7, com informações da AFP

Angela Merkel foi chanceler da Alemanha por 16 anos
Angela Merkel foi chanceler da Alemanha por 16 anos

As eleições alemãs serão realizadas neste domingo (26), mas sem um dos nomes mais conhecidos mundialmente: Angela Merkel. Após 16 anos como chanceler da Alemanha, uma das líderes mundiais mais influentes deixará o cargo após quatro mandatos consecutivos.

Durante sua caminhada no poder, Merkel tirou a Alemanha de diferentes crises econômicas e reduziu a taxa de desemprego do país de 11,2% para apenas 5,7%. Entretanto, a chanceler pode ver o candidato do seu partido União Democrata Cristã, Armin Laschet, perder para o concorrente Olaf Scholz, do Partido Social Democrata.

Para alguns especialistas, a força econômica da Era Merkel não se traduz nas questões políticas. Apesar de ter se tornado a maior economia do continente, a Alemanha viu a União Europeia se enfraquecer durante os anos e perder um de seus grandes membros, o Reino Unido.

O professor de relações internacionais da Facamp James Onnig explicou ao R7 que pode ter faltado a Merkel mais voz nos assuntos políticos ao longo dos anos.


“O cargo chefe da economia [da Europa] não foi o cargo chefe da política. A Alemanha lavou as mãos em certas ocasiões, para muitas situações. Deixou a França ocupar o cargo de porta-voz informal. Nunca é no ponto de vista oficial, mas sim de geopolítica.”

Angela Merkel iniciou a vida pública em 1991
Angela Merkel iniciou a vida pública em 1991

Internamente, a chanceler viu o crescimento da presença do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha no parlamento, em 2017. A eleiçõe de candidatos deste partido seria uma resposta para ações de Merkel em 2015, quando permitiu a entrada de milhões de migrantes, grande parte islâmicos, no país.


“[Merkel] acreditava que a unidade política alemã incluiria a presença de imigrantes, mas não foi como a sociedade recebeu”, explicou Onnig sobre a expansão da extrema-direita alemã.

Duas Alemanhas


Embora a taxa de desemprego tenha caído mais de 5% nos últimos 16 anos, Merkel não conseguiu promover uma maior igualdade entre o lado oeste e leste do país. As regiões pertencentes à antiga Alemanha Oriental — onde a chanceler morou durante a infância — permanecem fora do impulso econômico que vive o lado ocidental da nação.

Essa realidade também se reflete nos tipos de trabalho fornecidos do lado oriental e nos salários aquém do restante do país, ainda que a reunificação da Alemanha tenha ocorrido há mais de 30 anos. Condições de trabalho e até mesmo infraestrutura de telecomunicações são apontadas como discrepantes entre lado ocidental e oriental.

Durante seu mandato, Merkel precisou lidar com a crise financeira de 2008, a crise do euro, o grande fluxo de refugiados sírios e iraquianos, aquecimento global e, por último, o novo coronavírus. Ainda que haja diferenças no país, a chanceler sempre conseguiu fazer a Alemanha sair rapidamente destes percalços.

“Nos pequenos detalhes, a gente entende que o saldo para a Alemanha é positivo, apesar dessas pequenas feridas que ela não conseguiu cicatrizar”, explicou o professor da Facamp.

Desafios ambientas

Ex-ministra do chanceler Helmut Kohl, Merkel enfrentou um período de crescente conscientização ambiental. Entretanto, a líder alemã assumiu que “não aconteceu muita coisa” entre 2005 e 2021 para mudar a realidade do aquecimento global.

Merkel também enfrentou forte pressão do Tribunal Constitucional nos últimos meses de seu mandato para aumentar as metas alemãs em questões ambientais. A instituição federal classificava como pouco ambiciosos os objetivos da Alemanha para o meio ambiente.

Para o professor Onnig, os alemães têm agora a consciência de que é impossível governar sem as grandes corporações, mesmo que quem esteja no poder seja uma governante tão apoiada como Merkel.

Longevidade no poder e reconhecimento mundial

Angela Merkel sentou à mesa com grandes políticos do passado recente
Angela Merkel sentou à mesa com grandes políticos do passado recente

A chanceler alemã encontrou entre 2005 e 2021 quatro presidentes brasileiros, quatro presidentes norte-americanos, três presidentes franceses e quatro primeiros-ministros britânicos.

Um dos poucos líderes mundiais que se manteve presente durante os 16 anos de mandato de Merkel foi Vladimir Putin. Entre as funções de presidente e primeiro-ministro da Rússia, o líder do Kremlin de Moscou sempre nutriu um contato próximo com a alemã.

Apesar dos quatro mandatos gerarem um desgaste natural entre Merkel e os alemães, a chanceler ficou conhecida no país como “mamãe”. Pesquisas locais também indicam que 75% da população da Alemanha está satisfeita com seu governo. Aos 67 anos, ela será a primeira chanceler a não tentar uma reeleição desde 1949.

O carinho e reconhecimento da líder também atravessa as fronteiras do país, sendo escolhida em 2020 pela Forbes como a mulher mais poderosa do mundo.

“Hoje ela sai ovacionada. Ela tem sido aplaudida aonde ela vai, até pela oposição. Eles entendem que Merkel fez um trabalho muito bom neste período todo”, concluiu Onnig.

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