Milhares de crianças migrantes são alojadas sozinhas em hotéis no Reino Unido
Governo disse que 3.256 menores desacompanhados foram hospedados desde outubro de 2021
Internacional|Maria Cunha*, do R7
O Ministério do Interior do Reino Unido está efetivamente administrando “lares de crianças não registradas”, alertou um órgão de vigilância sobre milhares de crianças migrantes solitárias que estão morando em hotéis após chegarem ao país.
David Neal, inspetor-chefe de fronteiras e imigração, deu ao governo britânico até o final do ano para elaborar um plano para parar de usar hotéis, localizados em Kent, Brighton e Hove, East Sussex e Warwickshire, para abrigar migrantes.
“A posição tomada pelo Ministério do Interior, administrando lares de crianças não registradas, é uma [posição] que os funcionários e as partes interessadas acharam desconfortável. Este claramente não é um espaço que o Ministério do Interior quer, ou deveria estar operando.”
O governo afirmou que 3.256 crianças desacompanhadas em busca de asilo –– conhecidas como UASCs, na sigla em inglês –– chegaram aos hotéis desde o início de outubro do ano passado. Quase 900 delas tinham menos de 16 anos, sugerem os dados provisórios.
"É provável que o valor total seja superior, uma vez que a informação disponibilizada não inclui os que já foram colocados em hotéis antes desse período", disse Enver Solomon, executivo-chefe do Conselho de Refugiados.
Em um relatório, o inspetor-chefe de fronteiras e imigração disse que nem o Ministério do Interior nem os conselhos onde os hotéis estão localizados “têm responsabilidade legal por esses jovens”. Além disso, o documento afirma que o governo foi informado de que estava infringindo a lei há mais de um ano.
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Apesar disso, o Ministério do Interior afirmou que havia o risco de o plano de acabar com o uso de hotéis para abrigar crianças migrantes solitárias “não alcançar o resultado a tempo dos aumentos de entrada na primavera”.
As crianças disseram aos inspetores que estavam felizes e se sentiam seguras nos hotéis, mas a maioria estava “muito ansiosa para seguir em frente e começar sua educação”.
“Os funcionários dos hotéis disseram aos inspetores que os jovens perguntavam persistentemente quando seriam transferidos do hotel e que isso era uma fonte de ansiedade contínua”, acrescentou o relatório.
O Conselho de Refugiados expressou preocupação com as descobertas e pediu o fim imediato do uso de hotéis para acomodar crianças.
O executivo-chefe da instituição disse que o governo estava “claramente falhando'' no dever de proteger as crianças e não tem um plano adequado de longo prazo para melhorar suas operações e a forma como lida com crianças desacompanhadas.
“Todo esforço deve ser feito pelo governo para garantir que todas as crianças sejam levadas aos cuidados das autoridades locais com urgência.”
O Ministério do Interior disse: “Aceitamos a recomendação e continuaremos a trabalhar em estreita colaboração com o Departamento de Educação e Autoridades Locais para criar capacidade para evitar a necessidade contínua de acomodação de contingência o mais rápido possível”.
Além disso, o órgão afirmou que está “comprometido em garantir a segurança de todos os jovens dentro dos hotéis” e todos os adultos que trabalham diretamente com as crianças migrantes foram submetidos a verificações, disse.
"O governo não teve alternativa a não ser usar urgentemente hotéis temporários para dar às crianças desacompanhadas em busca de asilo que chegam ao Reino Unido um teto sobre suas cabeças", disse. “O bem-estar das crianças sob nossos cuidados é nossa prioridade absoluta. Sabemos que devemos fazer mais e estamos determinados a acabar com o uso de hotéis para elas".