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Morre aos 86 anos Alexandre Grothendieck, o eremita gênio da matemática

Internacional|Do R7

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Paris, 14 nov (EFE).- Alexander Grothendieck, um gênio das matemática reconhecido com o prêmio Fields e famoso por suas firmes posições pacifistas e ecologistas, morreu aos 86 anos após viver as duas últimas décadas como um ermitão em um povoado dos Pirineus. Grothendieck, apátrida até aceitar e, 1971 a nacionalidade francesa, morreu ontem no hospital de Saint-Girons, na cordilheira que separa França e Espanha, onde viveu isolado do mundo desde 1990, informaram nesta sexta-feira fontes ligadas ao pesquisador. Desconhecido para o grande público e considerado por muitos de seus colegas um dos matemáticos mais importantes do século XX, Grothendieck, nascido em Berlim em 1928, era filho de uma jornalista socialista revolucionária e de um fotógrafo anarquista judeu russo que emigrou para a Alemanha após ser condenado primeiro pelo regime czarista e depois pelos comunistas. Seus pais também tiveram que abandonar a Alemanha em 1933 após a ascensão dos nazistas ao poder e partiram para a França, antes de seguir para a Espanha para se somarem à causa republicana. O pequeno Alexander ficou aos cuidados de um amigo da família em Hamburgo até que a família voltou a reunir-se em Nîmes ao término da guerra civil espanhola, em 1939, mas os Grothendieck passaram pouco tempo juntos. Meses depois, o pai foi enviado a Auschwitz, onde morreu em 1942. A mãe e ele terminaram no campo de concentração de Rieucros, nos Pirineus, onde Alexander começou a se interessar pela matemática. Sem um histórico escolar brilhante, se formou e foi estudar matemática em Montpellier, onde um professor detectou no jovem formado algumas aptidões extraordinárias. Mas o mito sobre sua genialidade não surgiu até que os grandes matemáticos Laurent Schwartz e Jean Dieudonné entregarem a ele, quando tinha 20 anos, uma lista com 14 problemas sobre os quais trabalhar nos próximos anos e pediram que elegesse um. Meses mais tarde Alexander Grothendieck voltou a se encontrar com seus professores e entregou os 14 problemas resolvidos. Nos meses posteriores redigiu o equivalente a seis teses, trabalho que um aluno aplicado teria levado entre três e quatro anos. Nos anos seguintes, o jovem prodígio se dedicou à análise funcional, um trabalho revolucionário, mas menos transcendente que seus estudos posteriores, onde se destacou por sua capacidade para generalizar e criar novos pontos de vista. Com o passaporte Nansen que a ONU dava aos refugiados sem pátria, já que se recusava a assumir a nacionalidade francesa, Grothendieck trabalhou a partir de 1953 durante dois anos como professor no Brasil e nos Estados Unidos antes de se alistar no Instituto de Altos Estudos Científicos (IHES), ao sul de Paris e financiado pelo empresário Léon Motchane. Foi nessa instituição que dirigiu um seminário de geometria algébrica que trouxe uma nova visão sobre a geometria inspirada em sua obsessão por repensar o espaço com noções sobre as quais os matemáticos ainda hoje trabalham. Em 1966 recebeu a medalha Fields, considerada o Nobel da matemática, um prêmio que não foi receber por motivos políticos e que depois leiloou para financiar os norte-vietnamitas na guerra contra os Estados Unidos. Não foi o único prêmio - e dotações econômicas - que Grothendieck recusou. Ele dizia que seus trabalhos deveriam ser julgados pelo tempo e não pelos homens. Paulatinamente foi se afastando da comunidade científica e se aproximando de movimentos ecologistas radicais. Nesses anos recusou também seu posto no prestigiado Colégio da França para se transformar em professor da Universidade de Montpellier e, entre 1984 e 1988, no Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França (CNRS). Em 1990 se retirou aos Pirineus em um local que era conhecido somente por poucos amigos e exigiu que seus escritos não publicados fossem destruídos. Além de um matemático extraordinário, Grothendieck foi também "uma personalidade fora do comum em sua filosofia de vida", disse o presidente da França, François Hollande, em homenagem ao estranho gênio. EFE jaf/cd

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