Mudanças climáticas podem afetar estruturas e derrubar prédios?
Tragédia nos EUA levantou teorias sobre as consequências da elevação das temperaturas e do nível do mar para a engenharia
Internacional|Giovanna Orlando, do R7
Depois da queda de um prédio de 12 andares em uma praia de Miami, nos EUA, surgiram diversas teorias sobre o que poderia ter causado a tragédia. Uma hipótese que foi levantada sobre esse caso era que as mudanças climáticas, como aumento das temperaturas e elevação do nível do mar, teriam afetado as estruturas a ponto de provocar o colapso.
Miami é uma cidade na ponta sudeste dos Estados Unidos e está na rota de grandes furacões que se formam no Oceano Atlântico. Alguns relatórios mais apocalípticos sobre as consequências que o planeta pode sofrer pela ação do homem na natureza apontam a possibilidade dessa área litorânea ser engolida pelo mar e desaparecer do mapa. No entanto, especialistas consideram que essa é uma visão um pouco exagerada.
As causas do desabamento em Miami ainda estão sendo investigadas, mas autoridades descobriram a existência de um relatório de 2018 que apontou diversas falhas e danos no edifício. Em abril deste ano, uma carta alertava os proprietários do prédio sobre a condição “crítica” do prédio, que estava se deteriorando rapidamente. Seria necessário investir R$ 74 milhões para adequar o prédio às normas de segurança.
Segundo o professor de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, Tercio Ambrizzi, é possível falar do impacto das mudanças climáticas em construções a longo prazo. Elas influenciariam indiretamente a deterioração da construção, através da umidade penetrando no concreto e nas ferragens internas, por exemplo.
“O aumento na intensidade e frequência de chuvas, prolongamento de períodos de estiagem, calor extremo, ventos fortes, chuvas intensas, etc, podem interferir nas construções de diversas formas e podem impactar diretamente desde o planejamento, execução até a finalização de um empreendimento”, diz a professora de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Larissa Ferrer Branco.
Para ter uma noção de como essas intempéries podem afetar a estrutura de um prédio, é necessária a vistoria das construções e manutenções regulares. Nas zonas costeiras, as construções estão sujeitas a ações da erosão e da salinidade.
"As estruturas mais próximas ao mar têm que passar por vistorias todos os anos. Não faltam tecnologias simples para reparar os problemas”, diz o professor de Engenharia Civil da UFRJ, Paulo Cesar Rosman.
Adaptação para o futuro
Os especialistas destacam que já é necessário as cidades comecem a se planejar e se adaptar a essas eventuais mudanças climáticas e para mitigar os possíveis impactos.
“Nós já temos informações suficientes sobre o tema, sabemos que estamos modificando o clima e os impactos podem ser amplificados. Temos que nos adaptar em um primeiro momento, com a construção de barreiras, levar prédios para partes mais altas, evitar garagens subterrâneas [em prédios próximos ao mar]”, sugere o professor Tercio Ambrizzi.
No Brasil, existem exemplos dessa adaptação acontecendo em cidades litorâneas, com leis proibindo a construção de casas e prédios a 300 metros do mar, respeitando a zona dinâmica da praia. Isso porque quanto mais perto do mar, maiores são as chances de uma construção ser atingida e danificada pela água e pela maresia.
“A praia é a estrutura mais eficiente na proteção contra as ondas”, afirma o professor da UFRJ. “Ela oferece areia para ser transportada pelas ondas, consome a energia das tempestades e nos protege, oferecendo profundidade para a arrebentação das ondas”.
Além disso, a engenharia e a arquitetura já estudam essas mudanças e analisam os impactos durante as construções, os materiais que podem ser usados e como evitar danos futuros.
“Não são as mudanças climáticas que derrubam um edifício. O que pode provocar o desabamento de um edifício são situações, ou a combinação delas, que não foram devidamente consideradas ao se planejar, projetar e executar uma obra”, afirma a professora Larissa.