Na Alemanha, lembrar Holocausto é fazer advertência sobre o futuro
Sobreviventes e especialistas ressaltam necessidade de preservar memória do regime nazista, às vésperas do aniversário da libertação de Auschwitz
Internacional|Do R7, com EFE
A proximidade do anivesário da libertação do campo de extermínio de Auschwitz, em 27 de janeiro, faz que os alemães voltem a refletir sobre a memória do Holocausto, o que muitos veem também como uma advertência para o futuro em meio ao ressurgimento da ultradireita.
"Pensar em Auschwitz não é apenas olhar para a história. É também olhar para a nossa própria situação", diz Christoph Heubner, do Comitê Auschwitz Internacional. "É como nos olharmos no espelho."
Um visita ao campo de concentração, segundo Heubner, confronta qualquer um com o fato de que tanto as vítimas, como os executores eram seres humanos.
"Isso implica se perguntar em que medida cada um de nós poderíamos ter sido vítimas ou carrasco em situação parecida", afirma. "Os sobreviventes sempre repetem: aconteceu uma vez, logo pode voltar a acontecer."
Heubner adverte ainda que na Alemanha e em outros países da Europa, certo antissemitismo que existia em forma latente depois da Segunda Guerra, agora se expressa de maneira mais aberta.
Por isso, é importante manter viva a lembrança, especialmente os relatos dos muitos sobreviventes que contam sua própria história.
Quando eles já não estiverem vivos, disse o especialista, será preciso desenvolver outras formas de manter a memória.
A voz do sobreviventes
"Mas nós ainda estamos aqui", diz Petra Michalski, sobrevivente do Holocausto.
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Junto com seu esposo Franz Michalski, se dedica a falar nas escolas alemãs sobre a experiência dos judeus perseguidos durante o regime nazista, além das dificuldades que continuaram tendo logo depois da libertação, nos primeiros anos da República Federal da Alemanha.
Na verdade, Petra é quem fala na maior parte das vez, já que Franz tem dificuldades para contar sua história.
"Ao final, sempre digo aos jovens que eles têm de ser nossas testemunhas. Se houver um só em cada sala que siga contando a história, nosso trabalho terá feito sentido."
Os sobreviventes
Depois do final da guerra, muitos sobreviventes tomaram a decisão de viver em qualquer lugar no mundo, menos na Alemanha.
"No entanto, houve uma minoria que decidiu justamente voltar aos povoados onde viveram e cresceram, eles não queriam permitir que a história lhes tirasse a pátria", disse Heubner.
Os Michalski, depois da guerra, foram para Berlim, onde o pai encontrou emprego.
"Seus pais decidiram mandar Franz ao colégio jesuíta, e isso foi muito ruim para ele. Cada vez que havia algo que tinha a ver com estereotipos judeus, diziam com tom irônico que era para ele", explicou.
Caminho difícil
A pressão foi tão grande que Franz Michalski chegou a tentar se suicidar com um coquetel de medicamentos. Por isso, durante muitos anos, ele não falou sobre sua experiência como judeu perseguido. Foi viver no sul da Alemanha, começou a trabalhar como vendedor de grãos e se casou.
Nunca abordava o assunto do nazismo, tampouco sua herança como filho de judeu, nem mesmo com amigos próximos. Um deles chegou a dizer, na casa dos Michalski em 1979, que sempre evitava estar sob o mesmo teto que um judeu.
"Um ano depois ele morreu de enfarte, sempre disse que ele merecia, mas Franz me pede para não dizer. Doze anos depois encontramos a viúva dele em Berlim, quando fazíamos nosso trabalho nos colégios, e Franz contou a ela toda a sua história", disse Petrai.
Franz decidira falar de sua experiência durante uma conferência onde outra sobrevivente disse que para os que tinham escapado do Holocausto a vida não fora muito fácil depois da guerra.
"Quem foi que disse isso?", questionou Michalski
Nesse dia, ele foi abordado por uma historiadora, que perguntou se ele estava disposto a contar sua história. "Tenho tudo escrito", ele disse, e entregou suas anotações.
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