Na Venezuela, esquerda se distancia de Maduro e oposição busca apoio
Aliados de Juan Guaidó seguem tentando controlar algo no país, enquanto esquerda tenta se reestruturar. Eleições acontecem no domingo (6)
Internacional|Da EFE, com R7
Depois de cinco anos à frente da Assembleia Nacional, o parlamento da Venezuela, a oposição ao governo de Nicolás Maduro, liderada por Juan Guaidó, que considera as eleições legislativas do domingo (4) uma fraude, dedicou seus últimos meses a uma desesperada contra-campanha que busca, sem sucesso, neutralizar o chavismo através de um referendo.
Principal arma usada pela oposição neste contra-ataque particular, a consulta popular, marcada para a semana seguinte às eleições, tem o propósito saber qual é a opinião "real" do povo sobre os aspectos políticos do país.
Essa é a última cartada da oposição depois de outras tentativas fracassadas de reconquistar o apoio popular e internacional com o qual passou a contar em janeiro de 2019, quando Guaidó se autoproclamou presidente interino do país com a promessa de derrubar o sucessor de Hugo Chávez e "libertar" a Venezuela.
No entanto, 22 meses depois, nada mudou no país caribenho. As limitadas conquistas obtidas pelo opositor esgotaram a paciência e as esperaças de quem acreditava nele, e muitos de seus apoiadores se afastaram do projeto no qual antes confiavam.
Em uma tentativa desesperada de se agarrar ao impossível, Guaidó tenta legitimar sua ideia de que continua cumprindo um mandato provisório, sem ter sob sua responsabilidade instituições públicas, funcionários ou forças de segurança do Estado, e sem ter margem de manobra.
A partir de 5 de janeiro, ele também perderá o controle do parlamento para os chavistas.
O referendo
"Você exige o fim da usurpação da presidência por Nicolás Maduro e convoca eleições presidenciais e parlamentares livres, justas e verificáveis?", é a primeira pergunta do referendo promovido pela oposição, que dá a entender que todos os venezuelanos consideram que o atual presidente é um "usurpador", uma premissa que não corresponde à realidade.
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A segunda, embora seja mais genérica, é composta por duas partes e admite apenas um resposta, "sim" ou "não": "Você rejeita o evento de 6 de dezembro organizado pelo regime de Nicolás Maduro e solicita à comunidade internacional que não o reconheça?".
Já a terceira pergunta é: "Você ordena o adiantamento dos procedimentos necessários perante a comunidade internacional para ativar a cooperação, o acompanhamento e a assistência que tornem possível resgatar a nossa democracia, enfrentar a crise humanitária e proteger as pessoas dos crimes contra a humanidade?".
A priori, parece que não poderia haver outra resposta que não um retumbante "sim", independentemente de ideologias. Sim à cooperação, sim à democracia, sim ao apoio diante da crise humanitária e sim à proteção das pessoas contra crimes tão graves.
Mas a obviedade, a simplicidade da abordagem e a limitação foram algumas das questões mais criticadas por diversas pessoas desde que as perguntas foram divulgadas.
Além disso, elas serviram, principalmente, para lembrar a Guaidó, mais uma vez, que ele continua com as mesmas abordagens de janeiro de 2019, mesmo sabendo que não é algo viável.
Guaidó rejeita qualquer opinião contrária e se nega a escutar a voz das ruas e a levar em conta as críticas da grande massa que o apoiou totalmente quando considerava que ele poderia ser a pessoa capaz de mudar radicalmente a Venezuela.
Mudanças na esquerda
Enquanto Guaidó busca apoio popular e o mínimo de poder para a oposição, a esquerda venezuela se reestrutura. Para isso, o caminho é se afastar de Nicolás Maduro, que acabou deixando o país cada vez mais isolado na América do Sul e no mundo.
Dentro do Partido Comunista, se nota uma divisão em relação ao atual presidente. Dois dos grupos que mais se identificavam com o chavismo - Tendências Unificadas para Alcançar o Movimento de Ação Revolucionária Organizada (Tupamaro) e Pátria para Todos (PPT) - tiveram suas siglas retiradas pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), que as entregou a alguns ex-militantes considerados mais dóceis com o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), fundado por Chávez.
Apesar disso, sem ceder ao desânimo, eles se uniram através da coalizão Alternativa Popular Revolucionária (APR), impulsionada pelo Partido Comunista da Venezuela (PCV) para a disputa da eleições legislativas de 6 de dezembro, com a intenção de retomar a essência da revolução bolivariana.