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Nascida há 100 anos, Eva Perón transformou política argentina

Primeira-dama na Argentina entre 1946 e 1952, 'Evita' lutou por mulheres e trabalhadores mais pobres. Morte precoce a transformou em mártir

Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7

Eva Perón foi pioneira entre mulheres argentinas
Eva Perón foi pioneira entre mulheres argentinas

Em 7 de maio de 1919, vinha ao mundo em Los Toldos, na Argentina, María Eva Duarte Ibarguren. Cem anos depois, a data é lembrada como o nascimento de Eva Perón — ou Evita, como ficou conhecida internacionalmente a líder política e ex-primeira-dama que chacoalhou as instituições no país dos hermanos entre as décadas de 1940 e 1950.

“Quer você a ame ou a odeie, Evita é parte fundamental das mudanças institucionais pelas quais passou a Argentina no século 20”, comenta o americano Eduardo Montes-Bradley, diretor do documentário Evita, lançado nos Estados Unidos em 2008. Em entrevista ao R7, Montes-Bradley afirma que Evita foi uma mulher que “capturou o espírito de seu tempo”.

“Em uma sociedade patriarcal, ela provou que sabia trabalhar com os homens”, completa.

O contexto de ascensão dos trabalhadores


Eva Perón foi casada com Juan Domingo Perón, militar que presidiu a Argentina por três mandatos: de 1946 a 1952, de 1952 a 1955 e de 1973 a 1974. O casal se conheceu em um baile beneficente na cidade de Buenos Aires no ano de 1944. À época, Evita trabalhava como atriz na capital argentina e Perón era Secretário do Trabalho e Segurança Social.

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“Ao mesmo tempo em que era um período de bastante conservadorismo, o contexto era de formação de uma classe de trabalhadores numerosa na capital da Argentina. Eram migrantes que vinham do interior, especialmente depois do processo de industrialização do país na década de 1930”, pondera Luis Fernando Ayerbe, professor de História e Relações Internacionais da Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho).


“Juan Perón se destacava como alguém que se preocupava com políticas e direitos sociais para esses trabalhadores”, acrescenta o especialista.

Figura pioneira


Conta a história que foi amor à primeira vista: Juan se casou com Eva um ano depois de conhecê-la, poucos dias depois de ser libertado da prisão — ele havia sido destituído do cargo que ocupava por um golpe civil e militar que o colocou na cadeia em outubro de 1945.

Graças à popularidade que havia angariado junto aos movimentos sindicais e à classe trabalhadora, Perón foi eleito presidente no ano seguinte. “A presença de Evita foi muito forte na campanha e já naquele momento ela emergia como uma figura bastante peculiar: não havia uma tradição da participação das mulheres na política do país”, explica Ayerbe.

O documentarista Eduardo Montes-Bradley vai além: “Não haveria Juan Perón sem Eva. Ele era uma sombra dela, que foi uma mulher absolutamente bonita e carismática”.

Líder das mulheres e dos trabalhadores

Enquanto o presidente Perón se dedicava à missão de aumentar o emprego e o crescimento econômico na Argentina, Evita assumiu as bandeiras dos trabalhadores mais pobres — ou “descamisados”, como eles eram chamados — e do direito das mulheres ao voto.

“Ela ocupou um vazio, um espaço que até então não havia sido ocupado por ninguém — e tinha uma personalidade muito forte nesse sentido. Como ex-atriz e artista de rádio, possuía ainda capacidades de expressão e oratória muito importantes”, destaca o professor Ayerbe. Não foram poucas as vezes que, aclamada como “mãe dos pobres”, Evita discursou para multidões emocionadas que se aglomeravam em frente à Casa Rosada. 

Como consequência de suas articulações, o voto feminino — reivindicado pelas argentinas desde 1919 — foi sancionado por Juan Perón no país em 1947. Na América Latina, as mulheres do Equador (1929), do Brasil (1932), do Chile (1934), da Bolívia (1938) e da Venezuela (1946) já haviam conquistado o direito de votar.

Infelizmente, Evita registrou seu voto pela primeira vez deitada na cama de um hospital: pouco antes das eleições de 1951, das quais Perón saiu novamente vitorioso, a primeira-dama havia sido diagnosticada com um câncer avançado de colo de útero. Ela acabou morrendo em decorrência da doença em julho de 1952, aos 33 anos de idade.

A morte no auge

Para os especialistas ouvidos pelo R7, é consenso que a morte precoce de Eva Perón foi decisiva para sua consolidação como figura-chave na política argentina do século 20. “Os mártires não morrem tarde — e Evita partiu em seu auge”, lembra Montes-Bradley.

Ayerbe, da Unesp, reforça o coro: “Evita morreu como personagem central no regime de Perón, alguém indiscutivelmente a favor dos mais pobres e das mulheres. Com relação ao próprio Juan Perón, há controvérsias: ele é lembrado como alguém autoritário, conservador, associado ao Mussolini”.

A mais famosa — e comercial — das homenagens já feitas à ex-primeira-dama é a cinebiografia musical Evita, lançada em 1996 e baseada em uma peça de teatro de mesmo nome que fora encenada em Londres na década de 1970. No filme, a argentina é interpretada por ninguém menos que Madonna, cuja voz entoa a inesquecível canção Don't Cry For Me Argentina (Não Chores Por Mim Argentina, em português).

Nos dias de hoje, há quem diga que a figura política que melhor incorpora o legado deixado por Eva Perón é Cristina Kirchner. Além de ser viúva do ex-presidente Néstor Kirchner, que governou no país entre 2003 e 2007, Cristina foi senadora pelas províncias de Santa Cruz e Buenos Aires e chegou a presidir a Argentina entre 2007 e 2015.

O professor da Unesp, contudo, discorda: “Cristina Kirchner teve marcas peronistas em sua liderança, mas traçou um caminho próprio e se fortaleceu dentro da política partidária. Ela foi eleita a cargos por voto popular e Evita, por outro lado, renunciou às oportunidades que teve de concorrer. Embora haja algumas identificações, são trajetórias completamente diversas”, finaliza.

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