Navio de resgate de refugiados no Mediterrâneo encerra operações

Por pressão da Itália e de outros países, o Aquarius encerrou suas atividades. 'O fim de nossas operações significará mais mortes que são evitáveis'

07/12/2018 - 10h48 (Atualizado em 22/02/2024 - 10h10)

O Aquarius, último navio de resgate de refugiados atuante no Mar Mediterrâneo, encerrou as operações, informou a organização não governamental francesa Médicos Sem Fronteiras (MSF) na noite de quinta-feira (6), atribuindo a decisão à pressão da Itália e de outros países.

"Esse é um dia lamentável", disse Nelke Mander, diretora-geral do MSF, em um comunicado. "O fim de nossas operações a bordo do Aquarius significará mais mortes no mar, mortes que são evitáveis e sem testemunhas".

A decisão de atracar o Aquarius é resultado de uma "campanha de difamação, calúnia e obstrução constante" do governo italiano contra o MSF e a SOS Mediterrâneo, e apoiada por outros países europeus, disse a ONG.

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Recentemente o Aquarius foi acusado de traficar dejetos e de atividades criminosas — acusações que o MSF disse serem "ridículas".

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O ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, interditou os portos do país várias vezes ao Aquarius, obrigando-o a navegar durante dias com dezenas de refugiados resgatados para encontrar um porto em outros países.

Salvini se recusou a acolher mais imigrantes do Aquarius, exigindo que outras nações da União Europeia recebam uma parcela destes. Ele também disse que navios de resgate como o Aquarius incentivam pessoas a se lançarem ao mar para viajar rumo à Europa.

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O continente testemunhou o maior influxo de pessoas em décadas nos últimos três anos, muitas fugindo de conflitos e da pobreza no Oriente Médio e na África. As chegadas pelo mar diminuíram drasticamente, mas as ondas de choque políticas ainda reverberam.

O navio foi licenciado em fevereiro de 2016 e resgatou quase 30 mil pessoas em águas internacionais no litoral da Líbia, Malta e Itália. A embarcação está ancorada em Marselha desde 4 de outubro, e transferiu 58 imigrantes para Malta durante sua última missão.

A MSF estima que 2.133 pessoas morreram tentando atravessar o Mediterrâneo em 2018, a maioria embarcando da Líbia.

Juan Medina, um jornalista da agência Reuters, passou 29 nove dias no principal barco de resgate de migrantes da instituição de caridade espanhola Proactiva Open Arms e registrou como era a rotina das pessoas resgatadas no Mar Mediterrâneo ao tentarem chegar a costa da Europa em barcos clandestinos

No começo do seu relato, o jornalista conta sobre um resgate chocante, no dia 17 de julho. Apenas uma mulher sobreviveu a este naufrágio. Os médicos relataram que ela havia passado dias agarrada nos destroços do navio antes de ser encontrada

Medina confessou que localizar migrantes à deriva é como encontrar 'uma agulha em um palheiro'. No dia 16 de julho, eles receberam um chamado de um navio chamado Triades que afirmou que tinha localizado uma jangada no meio do mar

O navio da Open Arms foi ao local, resgatou as pessoas e ainda iria demorar três dias e meio para o navio chegar a um porto em Palma de Maiorca, na Espanha

O fundador da Open Arms, Oscar Camps, entrou com uma ação onde acusou o capitão de Triades e o capitão da guarda costeira da Líbia de homicídio involuntário e de não ajudar os imigrantes. Sob a lei marítima internacional, os navios devem tentar resgatar alguém em perigo no mar

O tribunal de Palma de Maiorca disse que a reclamação ainda estava sendo processada e que um juiz de instrução ainda não havia sido designado

Camps também acusou a Itália e Malta de se recusarem a deixar o Open Arms atracar depois do resgate, forçando-o a fazer uma viagem muito mais longa para a Espanha

Sobre as respostas das acusações do fundador da Open Arms, o jornalista contou que a Itália acusou a instituição de mentir sobre as circunstâncias do resgate e a guarda costeira da Líbia negou, em comunicado, que tenha abandonado a jangada no mar

Juan Medina, um jornalista da agência Reuters, passou 29 nove dias no principal barco de resgate de migrantes da instituição de caridade espanhola Proactiva Open Arms e registrou como era a rotina das pessoas resgatadas no Mar Mediterrâneo ao tentarem ...