Netanyahu se torna governante que ficou mais tempo no poder em Israel
Neste dia 17, ele ultrapassa David Ben-Gurion, o fundador do Estado, que assumiu o cargo após a declaração de Independência, em 1948
Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7
Neste sábado (20), Benjamin Netanyahu torna-se o primeiro-ministro que mais tempo permaneceu no cargo em Israel. Ele completou 4872 dias, mais de 13 anos, no poder.
Com esta marca, Netanyahu supera David Ben-Gurion, que comandou a fundação do Estado de Israel em 1948.
Leia mais - Eleições em Israel: Netanyahu não consegue formar coalizão e Parlamento convoca novas eleições
Ben-Gurion chegou ao cargo em 14 de maio de 1948 e permaneceu até o início de 1954. Retornou em novembro de 1955 e ficou até junho de 1963, quando foi morar no kibutz Sde Boker, no deserto, como uma forma de estimular o desenvolvimento da região.
Netanyahu está no quinto mandato
Netanyahu assumiu o cargo pela primeira vez em 18 de junho de 1996, tendo ficado até 6 de julho de 1999. Voltou a ser primeiro-ministro no dia 31 de março de 2009.
Neste período, Netanyahu manteve uma política conservadora e se sustentou mesmo em meio a acusações de corrupção, que o fizeram ser indiciado pelo procurador-geral do país.
Negando todas as acusações e afirmando serem tentativas de tirá-lo do poder, ele encabeçou a chapa de seu partido, o Likud, que venceu os opositores da aliança centrista Azul e Branco, em abril último. E chegou ao seu quinto mandato.
Como não conseguiu formar o governo, no entanto, uma nova eleição foi marcada, para setembro próximo.
Missão de reafirmar Israel
Mas, se Ben-Gurion lutou para firmar o país no cenário global, Netanyahu considera que tem a missão de reafirmá-lo, permanentemente. Muitas das questões dos anos 50 deram origem às atuais, agora com características próprias.
Além de diferenças conceituais e idelógicas, ambos se diferenciam pela nacionalidade, o que dá uma conotação distinta à visão de mundo de cada um.
Ben-Gurion nasceu com o nome de David Grun, na Polônia, em 1886. E Netanyahu, descendente de imigrantes, já nasceu em Israel, na cidade de Tel-Aviv, em 1949, com o país estabelecido.
Essa questão de nacionalidade aponta para pensamentos distintos, divididos em duas gerações. A de Ben-Gurion, ainda traumatizada pelo Holocausto, buscava a qualquer custo um lugar para viver e se proteger com urgência.
Leia também
Mas, vindos da Europa, muitas vezes eram acusados de pessimistas e frágeis pelos jovens que nasciam em Israel, já com um ideal de fazer o país se impor ao mundo com orgulho e autoestima, evitando a depressão, conforme mostrou o escritor Amós Oz em muitos dos seus livros.
Ben-Gurion chegou à Palestina ainda menino e trabalhou pela primeira vez na agricultura, na colheita de laranja. Em 1909, se tornou membro do Hashomer, grupo voluntário de proteção às comunidades judaicas agrícolas.
Adepto do sionismo democrático, ele foi expulso pelos britânicos, por sua atuação, e retornou em 1918, se engajando na política, assumindo cargos importantes na Agência Judaica (que tinha um papel administrativo), organizando forças de defesa, isoladas, fundando o Mapai, partido que foi uma das origens dos trabalhistas e depois comandando a implantação do Estado, criado após uma guerra com países vizinhos.
Novas instituições
Foram anos de angústia, esperança e várias tentativas. Em boa parte deste tempo, a imigração judaica tinha a oposição de nacionalistas árabes, comandados por Mohammad Amin al-Husayni, Grão-Mufti de Jerusalém.
O estabelecimento do Estado de Israel ocorreu em 14 de maio de 1948, horas antes do término do mandato britânico e após uma guerra entre árabes e judeus, iniciada assim que a ONU aprovou a partilha da Palestina, em 1947.
No governo, Ben-Gurion criou as instituições e acumulou o cargo de ministro da defesa durante a Guerra de Independência. Depois, buscou implementar a infraestrutura. De galpões de imigrantes, um país agrícola foi se desenvolvendo. E, em operações como o "Tapete Mágico", judeus foram transportados de países árabes.
Foi um tempo em que Israel, amparada pela Histadrut (Central Geral dos Trabalhadores) formou seu alicerce na Educação, Saúde, Finanças, Agricultura e outros, tendo construído também o aqueduto nacional, que deu ao país capacidade de utilização da água em áreas desérticas, como o Neguev.
Já Netanyahu, com o país estabelecido e após se formar nos Estados Unidos, ingressou no poder para cumprir uma agenda muito ligada à do seu pai, Benzion (falecido em 2012, aos 102 anos), que havia sido assessor do líder direitista Vladimir Jabotinsky, opositor de Ben-Gurion.
O sofrimento das guerras de 1948, 1956, 1967, 1973, as duas Intifadas, e outros atritos, desembocaram em conflitos contra grupos palestinos que exigiam o retorno dos refugiados árabes, a maioria descendentes, ao país, e rejeitavam a existência de Israel.
Tirando o Irã, a quem o governo israelense acusa de apoiar o Hezbollah, no Líbano e o Hamas, na Faixa de Gaza, o país passou a lutar mais contra grupos do que contra outras nações na região.
No atual governo, as negociações de paz se mantêm em um impasse. Ao mesmo tempo, ainda mais do que nos tempos de Ben-Gurion, Netanyahu tenta utilizar a modernização do país, acelerada no segundo mandato de Itzhak Rabin (1992-1995), para inserir Israel no cenário internacional, buscando intercâmbios em energia, desenvolvimento agrícola, segurança e tecnologia.
EM FOTOS: Ativistas protestam em cidades britânicas em 'rebelião do verão'