O que se sabe sobre a tentativa de capturar Maduro na Venezuela
Governo de Nicolás Maduro afirma que homens capturados foram contratados para treinar venezuelanos e levar a cabo um plano para matá-lo
Internacional|Mariana Ghirello, do R7
No dia 3 de maio, o governo da Venezuela anunciou uma tentativa de invasão por mar, em Macuto, no estado La Guaira, próximo ao aeroporto internacional de Maiquetia. A cidade litorânea fica a menos de 50 km de Caracas, capital do país e sede do governo.
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A chamada "Operação Gedeón", nome dado pelos próprios capturados, teve início no dia 3 de maio quando a FANB (Força Armada Nacional Bolivariana), em conjunto com a FAES (Forças de Ações Especiais) e a Polícia Nacional Bolivariana frustraram a ação. No combate, oito mercenários morreram e dois foram presos.
O evento colocou o país em alerta e no mesmo dia um vídeo reclamou a autoria da ação. Nele o ex-capitão da Guarda Nacional Bolivariana, Javier Nieto Quintero e o norte-americano Jordan Goudreau disseram que a Operação Gedeón continuava ativa e em curso na Venezuela.
No vídeo, pediam que militares desertassem e se juntasse à operação militar. Os homens ofereciam recompensas em dólares pela captura de funcionários do governo, Nicolás Maduro renderia US$ 15 mil (R$ 90 mil).
Após a ação e o anúncio do vídeo de que existiam outros grupos, o governo da Venezuela decidiu fechar a rodovia que liga Caracas a La Guaira.
No dia seguinte, 25 mil militares participaram de uma operação para capturar mais envolvidos na tentativa de invasão do país, supostamente para que fosse colocado em prática um golpe de Estado.
Segundo as autoridades venezuelanas, os equipamentos de GPS utilizados pelos invasores apontaram que o barco teria saído da Colômbia, feito uma parada em Aruba, e em seguida, seguiu em direção ao litoral venezuelano.
Povoado de pescadores
Ainda na manhã da segunda-feira (4), outro barco foi encontrado no litoral por pescadores de Chuao. Na pequena comunidade fica no estado de Aragua e é conhecido pela produção de cacau, não é possível chegar por terra, apenas pelo mar.
No segundo barco interceptado pelas forças policias após a denúncia da população local, estavam oito suspeitos, entre eles dois norte-americanos. Também foram presos o ex-capitão Antonio Sequea Torres e Adolfo Baduel, filho de um ex-general. O primeiro já havia anunciado em outro vídeo que era o comandante da operação.
Antonio Sequea Torres já esteve preso por participar de outra tentativa de golpe em abril de 2019. No vídeo publicado pouco antes da apreensão do barco, ele também convocava militares a participarem da operação que ele classificou de "Operación de liberação, proteção e segurança da pátria Gedeon".
Torres estava desaparecido desde que a justiça local ordenou sua prisão pelos crimes de traição à pátria, tráfico ilícito de armas de guerra, terrorismo, tentativa de assassinato e associação. Ele também é acusado de colaborar na fuga do opositor Leopoldo Lopez, quando ainda pertencia à Guarda Nacional Bolivariana.
Silvercop e o contrato
Ainda no barco dois norte-americanos também foram capturados, e em depoimento divulgado pela TV estatal venezuelana, na última quinta-feira (7), os dois disseram que a ação era para cumprir um contrato com remuneração financeira.
Airan Berry, de 41 anos, disse que os objetivos do grupo que realizou a incursão eram o controle da Direção de Contra-Inteligência Militar, do Serviço de Inteligência, do Palácio presidencial de Miraflores e da torre de um aeroporto na capital do país, segundo trechos do interrogatório.
Luke Alexander Denman, de 34 anos, afirmou que pertenceu às Forças Armadas dos Estados Unidos e que foi contratado para treinar um grupo de venezuelanos na Colômbia para chegar a Caracas, tomar o aeroporto, "e seguir com o plano".
Os dois afirmam que foram procurados por Jordan Goudreau, diretor de uma empresa de segurança chamada Silvercop, para executar o trabalho. Segundo o jornal Washington Post, o trabalho a ser executado estava descrito em um contrato assinado por Juan Gerardo Guaidó e pelo principal assessor do líder opositor, Juan Jose Rendón.
O plano descrito em um documento de 42 páginas e publicado pelo jornal oferece detalhes minuciosos como o tipo de minas terrestres teriam de ser utilizadas e quais tipos de equipamentos antidistúrbios seriam usados, mas não dá explicações sobre como um pequeno grupo de soldados poderia dominar centenas de milhares de agentes de Segurança que continuam leais ao PSVU (Partido Socialista Unido da Venezuela).
Em entrevista à CNN espanhol, Juan Rendón confirmou a existência do contrato e sua assinatura nele, contudo disse que eles estavam conversando sobre o apoio da empresa, mas que o conteúdo do documento não se completou. Acrescentou ainda que a empresa havia lhe dirigido uma missão sem o apoio do líder de oposição.
O governo da Venezuela acusou Donald Trump de ter ciência do plano e participação nele. Entretanto, presidente dos Estados Unidos afirmou à Fox News pelo telefone, que seu governo não teve participação. Trump relatou que chegou a ver as fotos da praia e comentou que "não foi um bom ataque". "Se fôssemos a Venezuela, seria diferente, seria chamado invasão", finalizou.
Apesar dos Estados Unidos negarem qualquer participação na ação, o secretário de Estado, Mike Pompeo afirmou que irá repatriar os dois cidadãos norte-americanos. "Se o regime de Maduro decidir mantê-los detidos, usaremos todas as ferramentas que temos disponíveis para tentar trazê-los de volta", disse Pompeo a repórteres.
Dois dias antes do ataque, o ex-conselheiro de Segurança Nacional de Trump, John Bolton, um dos maiores defensores do uso da força para mudar o regime na Venezuela, escreveu em um tuíte que "o amanhecer estava chegando novamente" ao país.