O último voo de um piloto de cães de salvamento
Seuk Kim deixou para trás a carreira financeira para realizar o sonho de se tornar piloto e passou a transportar animais vindos de abrigos; ele morreu com quatro cachorros a bordo
Internacional|Andrew Keh, do The New York Times

Em novembro do ano passado, Seuk Kim caminhava alegremente na pista do Aeroporto Regional de Culpeper, na Virgínia do Norte. Ele tinha muitos motivos para estar contente. Poucos anos antes, Kim, pai de três filhos, estava tenso porque deixara para trás uma carreira estável para perseguir um sonho de infância: voar. Agora, aos 49 anos, tinha finalmente uma licença de piloto, um avião monomotor próprio e, como ele orgulhosamente dizia aos amigos, um trabalho garantido em uma companhia aérea de aviões de fretamento.
Nesse dia de novembro, porém, ele estava se dedicando a um projeto voluntário pelo qual se apaixonara: servir de piloto de transporte para animais vindos de abrigos. Juntara-se a uma pequena frota de aviões particulares que colaborava com o transporte para realocar 23 cães e 12 gatos que seriam recebidos por organizações de resgate em todo o Nordeste dos EUA.
Entre os cães que voaram naquela tarde estava um Yorkshire terrier mix de um ano chamado Pluto, que fora encontrado seis semanas antes em uma rodovia na zona rural da Geórgia. Agora, Pluto embarcava em uma odisseia de 1.600 quilômetros que o levaria, como quis o destino, de um abrigo de animais nos arredores de Albany, na Geórgia, para uma organização nos arredores de Albany, em Nova York.
Kim, acariciando e preparando os animais na pista, seria seu acompanhante na etapa final da viagem.
Depois de uma escala de 20 minutos e alguns pequenos confortos – como goles de água de uma tigela, mordidas em pedaços de fígado liofilizado e alguns agradáveis carinhos atrás da orelha –, Pluto e outros três cães foram levados para o avião de Kim, um monomotor Mooney M20J. Aninharam-se em caixas acolchoadas com cobertores e presas com cordas elásticas dentro da cabine apertada.
Quando Kim ligou o motor, o rugido repentino fez com que um lulu-da-pomerânia que estava perto da pista pulasse dos braços de um voluntário. Vários humanos tiveram de ir atrás dele.
Olhando pela janela, Kim sorriu ao observar a correria. Logo depois, decolou. Não era uma viagem longa. Dissera à esposa que estaria de volta para o jantar. Mas o piloto e os cães sob sua custódia encontraram nuvens de tempestade no trajeto. E nem todos chegaram ao destino.
‘Quero salvar mais um’
Foi um espírito inquieto que levou o piloto aos céus. Nascido em Seul, na Coreia do Sul, Kim passou a infância brincando no mercado movimentado onde sua mãe era dona de uma loja de roupas tradicionais coreanas, comendo bolos de arroz picante que os vendedores ambulantes lhe ofereciam e andando na garupa da motocicleta de seu pai. Nunca perdeu totalmente a atração pela velocidade, que adquiriu naquela época.
Quando tinha 9 anos, sua família se mudou para Burke, na Virgínia, subúrbio de Washington, onde, em pouco tempo, os primeiros surtos provenientes do choque cultural e da dificuldade nas aulas de inglês deram lugar a uma aceitação total de sua nova vida americana. Ele alterou a pronúncia de seu primeiro nome – de “Sae-wook” para “Sook” – para se adaptar à língua americana. Ele e seu irmão mais velho, Sejin, se destacaram na escola e competiram no circuito local de motocross quando eram adolescentes.
Depois da faculdade, procurou uma carreira em finanças, começando com um período em Wall Street. Depois de alguns anos, voltou para a Virgínia, casou-se e teve três filhos: Leah, Isaac e Mason.
Mesmo depois de se estabelecer, Kim alternou entre hobbies e outros interesses. Sentiu-se bafejado pela sorte quando sua esposa, Anna, encorajou seus caprichos. Sem nenhuma razão para tanto, Kim perguntou à esposa, em 2019: “Você sabia que voar era um sonho de infância?” Ele recebeu a bênção da esposa quando ela respondeu: “Por que você ainda não está fazendo isso?”
Kim passou quase um ano longe de casa, em Richmond, para concluir um programa de treinamento de voo. Depois disso, completou as 1.500 horas de voo exigidas pela regulamentação federal para receber o certificado de piloto comercial.
Foi quando ouviu falar da Pilots N Paws (algo como Pilotos em Patas), organização que conecta pilotos voluntários a abrigos que precisam de assistência para transportar animais. Não demorou muito para que começasse a completar missões, como os pilotos as chamam, toda semana. Mesmo depois de atingir 1.500 horas, o ponto em que muitos pilotos voluntários parecem perder o interesse, ele continuou. “Quero salvar mais um”, Kim dizia muitas vezes à esposa.
Algumas pessoas do convívio de Kim, no entanto, olhavam sua nova paixão com desconfiança. Seu irmão passou anos pegando jatos em voos comerciais frequentes para trabalhar, mas tinha muito medo de aviões a hélice. Nunca quis entrar em um. Ele sabia que sua mãe, Jiho Kim, também tinha suas reservas.
Mas Anna Kim não hesitava. Sabia que seu marido era muito consciencioso e nunca se preocupou com a segurança dele. Ela seguia uma regra simples em seu casamento e na criação dos filhos: você pode fazer tudo que quiser, desde que faça tudo que deve fazer.
Uma crise sem fim no sul
Quando Pluto foi resgatado em 16 de outubro, vagando sem rumo ao longo da Rota 82 no sul da Geórgia, se tornou um dos 5,8 milhões de animais nos Estados Unidos, segundo estimativas, que entraram no sistema de abrigos em 2024, de acordo com o banco de dados nacional Contagem de Animais de Abrigo.
O cão não tinha identificação quando chegou, informou Leah Orr, diretora do abrigo Sociedade Humanitária dos Melhores Amigos, em Poulan, na Geórgia. Nesses casos, sua equipe alterna entre letras do alfabeto para atribuir nomes; naquele dia era P. “Pluto era um cão feliz e agitado”, disse Orr. E ainda assim, ele agora corria o risco de se juntar aos mais de 600 mil animais que seriam sacrificados naquele ano depois de não serem adotados.
Os membros da comunidade que cuida do bem-estar animal descrevem uma crise sem fim, que se concentra em áreas do Sul do país, onde, segundo eles, vários fatores – como a escassez de cuidados veterinários, normas diferentes sobre a posse de animais de estimação e o clima mais quente – contribuem para uma epidemia de abrigos lotados e de mortes desnecessárias.
Assim, uma das únicas possibilidades de que esses animais permaneçam vivos é a realocação para um lugar com mais recursos e mais potencial para adoção. Essa estratégia funcionou para Orr. Ela disse que, antes de assumir a direção do abrigo, cerca de metade de seus animais era sacrificada. Hoje, quase nenhum deles encontra esse destino, em parte graças a uma estratégia agressiva de transporte de animais para o Norte.
A jornada de Pluto foi bastante típica: primeiro, uma organização de resgate sinalizou que poderia aceitá-lo, bem como outros dois cães do abrigo. Depois, outro grupo de voluntários entrou em ação para supervisionar um transporte seguro.
O transporte terrestre, para esses propósitos, pode ser exaustivo e ineficiente. Alguns anos atrás, redes mal organizadas de pilotos voluntários começaram a surgir com o objetivo de acelerar o processo.
Em 24 de novembro, Orr colocou Pluto e outros dois cães – um par de filhotes chamados Whiskey e Lisa – em uma van e os levou para o Aeroporto Regional do Sudoeste da Geórgia. Lá, eles embarcaram em um Cessna 414 bimotor, que os levaria, com mais de duas dúzias de outros cães e gatos, até a Virgínia, onde os animais seriam colocados em outros aviões para seu destino final.
Na caixa de Pluto, voluntários colaram um pedaço de fita com as letras “NY” (Nova York) rabiscadas nele.

‘Traga o que sobrar para casa’
Por volta do meio-dia de 24 de novembro, Kim se despediu da família e foi para o aeroporto. Anna Kim e as crianças estavam indo à casa dos pais dela para almoçar um cozido de frutos do mar, e, embora Seuk Kim tivesse esperança de se juntar a eles, havia o risco de se atrasar para o voo. Foi em frente sem comer. “Traga o que sobrar para casa. Eu como no jantar”, disse à esposa.
Vestindo um agasalho cinza, um boné de beisebol e óculos escuros, Kim foi de carro até o Aeroporto Regional de Manassas, onde guardava seu avião. Decolou e voou durante 14 minutos até o Aeroporto de Culpeper, onde os voluntários de resgate se reuniam. Às 15h31, estava no ar com os cães, primeiro tomando um caminho em arco até o Aeroporto do Condado de Harford, em Churchville, Maryland, para deixar um quarto cão, Money, cujo resgate ele havia providenciado separadamente. Depois de 22 minutos no solo, partiu novamente, às 16h43, em direção a Albany.
Alguns pilotos preferiam se comportar com mais rigor, mas Kim gostava de interagir com seus passageiros peludos, conversar com eles, coçá-los e tirar selfies. Afinal, estavam em um ambiente fechado, dentro de uma cabine do tamanho aproximado de um SUV compacto.
A oeste da Filadélfia, Kim ouviu no rádio seu amigo e colega piloto de resgate, Kley Parkhurst, falando com o controle de tráfego aéreo. Percebendo que estavam a alguns quilômetros um do outro, os dois homens fizeram piadas por alguns minutos antes de cada qual seguir seu caminho.
Kim e Parkhurst, que voavam em dezenas de missões por ano, frequentemente discutiam os aspectos técnicos de seu trabalho e, como todos os pilotos, estavam cientes de seus riscos. “Existem pilotos que não conduzem um avião monomotor, pilotos que não voam à noite, pilotos que não voam sobre montanhas, pilotos que não voam em qualquer tipo de clima”, comentou Parkhurst. Cada um desses elementos – escuridão, terreno acidentado, clima adverso – estava se materializando naquela noite enquanto o avião monomotor de Kim planava em direção a Nova York.
‘Mãe, isso é real’
Enquanto Kim seguia em direção a Albany, Anna Kim, antecipando que jantaria com o marido naquela noite, se deitou para um cochilo no fim da tarde. Acordou, porém, às 18h10, quando seu telefone vibrou com uma mensagem de texto incomum do número de seu marido. Era um alerta automático de SOS, informando que ela havia sido listada como um contato em caso de emergência. Confusa, ela levou seu telefone para a filha, Leah Kim, de 16 anos, olhar. “Mãe, isso é real”, disse a moça.
Durante os 15 minutos seguintes, a meia dúzia de pessoas que acompanhava o trajeto de Kim estava atordoada com a mesma conclusão. O avião dele havia desaparecido dos rastreadores de voo. Ele não estava respondendo às mensagens de texto. Seu horário de chegada ao Aeroporto Internacional de Albany havia passado sem que ele aparecesse.
Todo mundo estava mandando mensagens de texto para todo mundo. Talvez ele tivesse se perdido. Ou talvez tivesse se desviado para algum lugar para comprar um tanque de combustível barato; às vezes fazia isso. Mas, à medida que os minutos passavam, a lista de possibilidades ficava assustadoramente pequena.
Já em casa, Anna Kim ficou ligando para o telefone do marido, que continuava tocando. Ela o imaginou imobilizado em algum lugar, vivo, mas incapaz de atender. Ficou se perguntando se poderia ouvir a voz dele.
A essa altura, as autoridades locais já sabiam que o avião de Kim havia feito uma descida não planejada em uma área remota das Montanhas Catskill, e uma equipe de policiais, bombeiros e guardas-florestais estava se mobilizando em direção ao cume onde seu telefone havia tocado pela última vez.
Em um dia normal, a encosta da montanha na qual o avião de Kim havia desaparecido poderia ser atravessada a pé. Mas havia uma camada de 35 centímetros de neve no terreno naquela noite, e ondas de granizo caíam do céu escuro. Isso significava que a polícia não poderia enviar helicópteros e drones para ajudar na busca. Usando veículos utilitários e de quatro rodas, os membros da equipe de resgate só conseguiram chegar a 1.600 metros da suposta localização. Para fazer o resto do caminho tiveram de usar raquetes de neve nos pés.
A primeira equipe de resgate só alcançou a área geral de busca às 21h30. Só às 23h38 localizou os destroços do avião. Ele havia se despedaçado depois de atravessar um grupo de árvores a 225 quilômetros por hora. Duas horas depois, o corpo de Kim foi encontrado.
Um relatório preliminar de acidente do Conselho Nacional de Segurança dos Transportes, divulgado em dezembro, afirmou que Kim esteve em contato com o controle de tráfego aéreo minutos antes do acidente. Por volta das 18h02, ele relatou turbulência “de moderada a pesada”. Em alguns minutos, desceu de uma altitude de 1.524 metros para 1.310 metros e relatou que a turbulência havia diminuído para “de leve a moderada”. Essa foi a última transmissão de Kim, de acordo com o relatório. Ele nunca emitiu um pedido de socorro.
Por volta das 2h30 do dia 25, Anna Kim recebeu uma ligação do gabinete do xerife do condado de Greene, Nova York, confirmando seus piores medos. Estava sozinha; havia mandado os filhos adolescentes para a cama horas antes. No dia seguinte eles teriam de ir à escola. Ligou para o irmão de Kim, que havia pegado um voo comercial para Albany depois de Kim ter sido dado como desaparecido. Pensou em ligar para a sogra, mas decidiu não fazer isso. “Que ela tenha mais uma noite de descanso”, pensou Anna Kim.
Os membros da equipe de resgate permaneceram no local durante a noite. Sabiam que Kim estava acompanhando três cães. Lisa, um dos filhotes, foi encontrada morta nos destroços.

Mas então, para espanto dos socorristas, eles descobriram Whiskey, o outro filhote, enterrado na neve. Suas pernas estavam feridas e ele estava muito abalado, mas, de alguma forma, vivo.
Finalmente, às 13h30 da tarde seguinte, mais de 18 horas depois do acidente, os socorristas perceberam algum movimento no cume acima deles. Um dos bombeiros assobiou e acenou. Um cachorrinho marrom correu para encontrá-los. Era Pluto. Para a surpresa de todos, estava ileso.
Um bom lar, uma saudade
Quando Anna Kim chegou à casa da sogra no dia seguinte ao acidente, não conseguiu falar. Sentou-se e chorou enquanto outra pessoa dava a notícia.
A família extensa de Seuk Kim se reuniu naquela data e retornou para novos encontros na casa da mãe dele ao longo de vários dias. Choraram juntos, comeram juntos, simplesmente estiveram juntos. Ele morrera quatro dias antes do Dia de Ação de Graças. Alguns parentes presumiram que a reunião anual, sempre organizada pela mãe de Kim, Jiho, seria cancelada. Mas Anna Kim insistiu que continuassem.
Na manhã do Dia de Ação de Graças, ela e seus filhos abriram o guarda-roupa de Kim. Ele era um amante de camisetas estampadas. Escolheram quatro de suas favoritas para usar no jantar. Enquanto os membros da família extensa, cerca de duas dúzias de pessoas ao todo, se deliciavam com uma refeição generosa – peru, pato, costela, tigelas de kimchi, travessas de sushi –, compartilharam histórias sobre Kim e riram. “Eu não queria que o Dia de Ação de Graças fosse triste. Porque, se fosse triste este ano, seria nos próximos anos também”, disse Anna Kim.
Enquanto, na Virgínia, a família atravessava esse período de perturbação, Pluto, pela primeira vez, encontrava um pouco de paz em Nova York.
A história dos dois cães que desafiaram e venceram a morte em um trágico acidente aéreo foi amplamente divulgada na mídia. De abandonado, apenas algumas semanas antes, Pluto repentinamente ficou famoso, com pessoas pedindo para acolhê-lo. Em poucos dias, mais de cem famílias de todo o país se candidataram para adotá-lo. (Whiskey recebeu tratamento veterinário e permaneceu em um orfanato enquanto se recuperava dos ferimentos.)
Pluto foi colocado com Stephen e Rachel Clemens, um casal de Averill Park, Nova York, cuja casa fica em um condomínio familiar que se espalha por quatro quilômetros quadrados arborizados. Eles o renomearam Jack, em homenagem a um membro da família que morreu no mesmo dia em que o trouxeram para casa. “Ele sobreviveu a um acidente de avião, e certamente está destinado a ter uma vida boa. Precisava só de um bom lar. E podemos oferecer isso a ele”, afirmou Rachel Clemens.
Mas alguns envolvidos na jornada angustiante do cãozinho ficaram incomodados com suas implicações. A situação demonstrou o que parece estar errado com o estado atual das ações relativas ao bem-estar animal. Muitas das famílias que entraram em contato para adotar Pluto, por exemplo, moravam na Geórgia, onde ele fora abandonado. “É irônico que alguém entre em contato com Nova York para acolher um cão que poderia ter adotado algumas semanas antes em seu quintal”, declarou Maggie Jackman Pryor, diretora do Abrigo de Animais do Vale de Schoharie, que coordenou a adoção de Pluto.
Carol Frey, que ficou com Pluto por um breve período depois do acidente, foi ainda mais direta: “Por que não ir a um abrigo perto de você? Provavelmente, há um como esse na vizinhança. Alguém teve de morrer? Um humano teve de morrer para que todas essas pessoas quisessem esse cão? Isso me parece confuso.”
Enquanto isso, na Virgínia, Sejin Kim também tentava entender a morte do irmão e a onda de elogios e emoção que sua história estava gerando no país. Ficou surpreso, como todo mundo, com o fato de os cães terem sobrevivido, concluindo que, dessa forma, seu irmão completara sua missão. Mas isso não lhe trouxe consolo. A ideia de que a morte do irmão foi significativa, que foi de alguma forma mais tolerável porque ele viveu uma vida supostamente plena, que “morreu fazendo o que amava”, às vezes o fazia estremecer. “Se eu dissesse isso à minha mãe, ela provavelmente me daria um tapa. Ela não quer ouvir mais sobre isso. Meu irmão fez muitas coisas boas enquanto estava vivo. Mas todos o queremos de volta. E trocaríamos todas as boas ações que ele fez para tê-lo novamente, a qualquer momento, em uma fração de segundo”, afirmou Sejin Kim.
Em cinco de dezembro, Seuk Kim foi sepultado em um cemitério em Fairfax, na Virgínia, a poucos passos do túmulo de seu pai, vestindo uma de suas amadas camisetas com a frase “Posso acariciar seu cachorro?” estampada no peito – e um boné de beisebol do New York Mets.
Antes da cerimônia, em um momento solitário, Sejin Kim olhou para o caixão do irmão e o xingou: “Você causou dor e sofrimento, especialmente à minha mãe, à sua família, à minha família, a todo mundo.” Em seguida, disse que o amava.
O tempo passou lentamente para a família Kim nas semanas seguintes. Mesmo depois que os períodos mais intensos de luto passaram, Anna Kim tinha dificuldade de pensar nos anos que teria de viver sem o marido. Por isso, preferiu se concentrar em sua memória.
Enquanto ela e os filhos tentavam restabelecer alguma aparência de normalidade em sua vida, concordaram que cada dia seria como qualquer outro, que viveriam um dia de cada vez, permanecendo unidos.
Já haviam se passado quase duas semanas depois do acidente quando Anna Kim tirou da geladeira as sobras que havia guardado para comer com o marido. Finalmente, ela reunira forças para jogá-las fora.
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