ONU denuncia uso excessivo da força em protestos na Colômbia
Manifestações contra reforma tributária já somam 19 mortos e 800 feridos. Forças de segurança usaram munição real
Internacional|Da EFE
O Escritório de Direitos Humanos da ONU denunciou nesta terça-feira (4) que as forças de segurança da Colômbia fizeram "uso excessivo da força" durante a onda de protestos no país, que já deixou pelo menos 19 mortos e 800 feridos, e pediu calma diante da convocação de novas manifestações para amanhã.
Representantes da missão da ONU em Cali, uma das cidades onde ocorreram os incidentes mais violentos, "testemunharam o uso excessivo da força pela polícia", disse a porta-voz do escritório da ONU, Marta Hurtado, em uma coletiva de imprensa.
As forças de segurança "utilizaram munições reais, espancaram manifestantes e efetuaram detenções no contexto de uma situação tensa e volátil em que alguns participantes dos protestos também foram violentos", acrescentou a porta-voz do gabinete chefiado pela Alta Comissária, Michelle Bachelet.
"Diante desta situação extremamente tensa, com soldados e policiais desdobrados, pedimos calma e recordamos às autoridades sua responsabilidade na proteção dos direitos humanos", ressaltou a porta-voz, por conta da convocação de novas manifestações para esta quarta-feira.
O escritório das Nações Unidas disse ainda estar "profundamente alarmado" com os acontecimentos de ontem à noite na cidade de Cali, "nos quais a polícia abriu fogo contra manifestantes que protestavam contra as reformas fiscais, deixando vários mortos e feridos".
O gabinete da Alta Comissária de Direitos Humanos ressaltou que, desde que os incidentes começaram em 28 de abril, recebeu relatos de pelo menos 14 mortes, não incluindo as de ontem à noite em Cali, enquanto a Defensoria Pública colombiana eleva essa cifra para 19 mortos.
Embora a maioria das mortes tenha ocorrido em Cali, o escritório da ONU também recebeu relatos de óbitos em Yumbo, outra cidade do departamento de Valle del Cauca, assim como em outras partes do país como Ibagué, Tolima, Pereira, Risaralda, Soacha e Cundinamarca.
"Os agentes de segurança pública devem cumprir os princípios da legalidade, precaução, necessidade e proporcionalidade ao controlar as manifestações, e as armas de fogo devem ser utilizadas apenas como último recurso contra uma ameaça iminente à vida ou risco de ferimento grave", frisou a porta-voz.
Os protestos, que acontecem no meio de uma pandemia com graves consequências econômicas para muitas famílias colombianas, foram desencadeados por uma proposta de reforma fiscal que já foi retirada pelo governo e também provocou a renúncia do Ministro da Fazenda, Alberto Carrasquilla.
A reforma fiscal previa a ampliação da base tributária e a cobrança de 19% de IVA sobre serviços públicos, o que seria particularmente prejudicial para as classes média e baixa do país.