Opções de resgate de meninos de caverna na Tailândia são arriscadas
Para brasileiro especializado em mergulho e resgates em cavernas, não existe saída fácil para retirar meninos das cavernas de Tham Luang, na Tailândia
Internacional|Fábio Fleury, do R7
Depois que mergulhadores ingleses ajudaram militares da Tailândia a encontrar os 12 meninos e o técnico de futebol que estão presos desde o dia 23 no complexo de cavernas de Tham Luang, no norte do país, começou a missão, ainda mais complicada, de definir os próximos passos da operação de resgate.
Existem três opções principais, segundo especialistas, mas nenhuma delas é simples ou rápida de realizar: bombear água de dentro das cavernas e aguardar que eles consigam sair a pé, vasculhar a área para encontrar novas entradas e tentar chegar ao local onde eles estão ou ensinar técnicas de mergulho e trazê-los por baixo d'água.
Para o mergulhador brasileiro Rodrigo Severo, membro da Comissão de Espeleorresgate da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE) e do Espeleo Grupo de Brasília (EGB), grupo de espeleologia que existe há mais de 10 anos e é referência no resgate em cavernas no Brasil, todos os possíveis caminhos trazem riscos tanto para os meninos quanto para os grupos de voluntários e militares que tentam retirá-los de lá.
Bombeamento e tempo bom
Em termos de segurança, bombear a água das cavernas, algo que já vem sendo feito desde que começaram as operações de busca, seria a solução menos arriscada, segundo Severo. Mas pela época do ano, o nível da corrente dentro do complexo de cavernas pode demorar a abaixar e essa demora pode trazer novos problemas.
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"Bombeamento sempre vai ajudar, mas o problema é a época. É estação das monções na Tailândia, o volume de chuvas aumenta muito e as cavernas, praticamente qualquer caverna no mundo é como um escoadouro, é por onde desce a água na região. E não se sabe o que pode acontecer com os meninos se eles precisarem esperar meses lá dentro. Se chover demais e eles perderem a área seca onde estão, se o volume de ar diminuir, tudo isso prejudica", afirma o mergulhador.
Busca por novas entradas
Outra solução que traria menos riscos aos meninos e aos socorristas, mas que ao mesmo tempo depende inteiramente da sorte seria encontrar novas entradas. O problema é que a caverna onde eles estão fica a pelo menos 800 metros de profundidade.
"Espeleólogos sabem que você sempre pode achar uma nova entrada, um novo caminho. Sei que há vários grupos percorrendo a região e procurando, mas é como uma agulha no palheiro, é complicado e imprevisível saber se vai dar certo ou não", analisa Severo.
Mergulho é a última opção
Uma série de fatores torna a opção de treinar os meninos para usar equipamentos de mergulho a última escolha, segundo Rodrigo Severo. O mergulho em cavernas é arriscado, especialmente em água corrente como o fluxo dentro das cavernas, onde a visibilidade ainda é baixa por causa dos sedimentos arrastados pela chuva.
"Soube que muitos dos meninos não sabem nadar. Além disso, o mergulho em caverna é um dos mais difíceis, tão complicado quanto mergulhar em grandes profundidades ou no gelo. Para quem não tem experiência, até 30 metros pode ser considerado um trecho longo. Há muitos túneis estreitos e com baixa visibilidade, muita gente experiente teria problemas com isso. Imagina meninos sem nenhum treinamento.", explica.
Uma opção intermediária, em que o bombeamento baixasse o nível da água o suficiente para que os mergulhos fossem mais curtos, talvez ajudasse. "Qualquer diminuição ajudaria, mas isso dependeria das chuvas não voltarem com força, o que não parece ser o caso", lamenta Severo.
Opção descartada
A quarta alternativa, segundo o brasileiro, parece ter sido descartada: perfurar a montanha acima da caverna até chegar onde os meninos estão. Como eles se encontram em uma área pequena, abrir o teto acima deles poderia causar uma tragédia.
"Primeiro, é muito difícil achar um caminho até uma área pequena como aquela. Além disso, toda caverna é uma estrutura em colapso, é assim que elas se formam. Se você escavar um buraco acima deles, pode desabar o teto todo e eles não teriam onde se proteger", alerta.