Operação Lava Jato: conheça desdobramentos em outros países
Do total de pelo menos 13 países nos quais a Odebrecht é acusada de ter pago propinas para obras públicas, 11 ficam na América Latina
Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7
As investigações da Operação Lava Jato também revelaram que a atuação da empreiteira Odebrecht teve desdobramentos no Exterior. Uma rede internacional de propinas foi utilizada por alguns anos em pelo menos 13 países, da América e da África.
Com atuação em 28 países, uma das práticas atribuídas à Odebrecht foi a criação de sociedades fantasmas e contas bancárias em diferentes regiões, para administrar o pagamento das propinas.
Em outras palavras, a atuação da empreiteira, e a suspeita em relação a outras, mostram que a corrupção não é uma mazela apenas brasileira.
Presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, renuncia ao cargo
Para o professor José Niemeyer, coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec do Rio de Janeiro, mais do que o modus-operandi, o que diferencia esse fenômeno é a forma com que ele é punido em outros países. E, em vários casos, esse crime tem relação com o terrorismo internacional, segundo ele.
— (A corrupção) Não é algo só do Brasil e tem muito a ver com terrorismo, porque onde há desvio há também lavagem de dinheiro. E isso interfere na situação de segurança em relação a terrorismo. Mesmo o Departamento do Tesouro dos EUA, a área econômica, tem um olhar com relação a segurança, que passa pela análise da lavagem de dinheiro e de negociatas, interferindo também na agenda de defesa nacional e política externa.
Do total de países em que a empresa é acusada de ter pago propinas para funcionários, políticos, entidades, para garantir contratos em obras públicas, 11 ficam na América Latina: Panamá, México, Guatemala, República Dominicana, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Argentina e Brasil.
Niemeyer ressalta que a própria economia brasileira sai prejudicada com este tipo de escândalo.
— Isso é muito ruim porque, dentro de um processo de cooperação econômica (não é o mesmo que comércio exterior), com as empresas sendo investigadas , o investimento direto no País fica inviabilizado, as empresas investigadas não poderão ser parceiras de outras empresas estrangeiras. Fora isso tem a questão da imagem arranhada.
Na última segunda-feira (2), foi a vez de o presidente Evo Morales, da Bolívia, determinar uma investigação sobre a atuação da empresa no país.
Negando ter participado de qualquer ato ilícito, Morales disse que o seu objetivo nesse caso é encontrar os autores, se confirmadas as suspeitas.
Na Bolívia, a Odebrecht teria vencido irregularmente licitações para uma série de obras, segundo documentos que revelam supostas comissões pagas a um serviço de estatal de estradas já extinto.
E nesta terça-feira (3), Julio de Vido, ex-ministro do Planejamento da Argentina, nos governos de Néstor e Cristina Kirchner (2010 e 2015), foi indiciado sob a acusação de "negociações incompatíveis com a função pública", em um caso relativo a concessão de obras públicas para a Odebrecht.
No Peru, a relação obscura entre o governo e a empreiteira, causou, no último dia 21, a renúncia do ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski, acusado de compra de votos, em um escândalo que se iniciou com suspeitas de recebimento de dinheiro da construtora brasileira, durante o governo de Alejandro Toledo (2001-2006) e motivou dois pedidos de impeachment no Congresso local.
No Equador, a empresa teve bloqueados mais de 40 milhões de dólares provenientes de serviços prestados às companhias Empresa Pública de Água e Refinarias do Pacífico.
Acordos de colaboração deste tipo também foram fechados com a Justiça dos Estados Unidos, Brasil, Suíça, República Dominicana, Panamá e Guatemala, com pagamentos de multas milionárias, por atos ilícidos cuja prática foi reconhecida pela empresa, que prometeu não repeti-la.