Oposição pede julgamento de presidente do Paraguai por Itaipu
Cerca de 600 pessoas se manifestaram por causa de um acordo bilateral com o Brasil que criou um cronograma para compra de energia até 2023
Internacional|Da EFE
Cerca de 600 pessoas, entre eles políticos de diferentes partidos da oposição do Paraguai, se manifestaram neste sábado (27) em Assunção para pedir o julgamento político do presidente do país, Mario Abdo Benítez, por causa de um acordo bilateral com o Brasil que estabelece um cronograma de compra de energia de Itaipu até 2023.
Os manifestantes escolheram como pontos de protesto a sede da Administração Nacional de Energia (ANDE), a da represa binacional de Itaipu e a Embaixada do Brasil no Paraguai, locais concentrados em um raio de apenas dois quilômetros que representam o triângulo de queixas da oposição paraguaia pelo que consideram uma cessão de soberania energética ao Brasil.
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Essa é sua opinião sobre o acordo bilateral, assinado no dia 24 de maio, mas conhecida pelos cidadãos esta semana, sobre um cronograma de compra mensal de energia de Itaipu até 2022, um ano antes de Paraguai e Brasil se sentarem para negociar o Anexo C do Tratado de Itapu de 1973, uma revisão da qual se esperam melhores condições para o Paraguai.
A oposição paraguaia desconfia do cronograma, já que até agora a compra de energia tinha sido efetuada ano a ano, e também do aumento de potência contratada, o que traz mais custos para o Paraguai, se bem que até agora o país contrate menos do que consume, segundo especialistas.
Essa desconfiança no acordo, prévio a futuras negociações com o Brasil, levou os partidos da oposição, entre eles o Partido Liberal e a Frente Guasu, a convocar os cidadãos para expressar sua oposição a esse documento.
A primeira parada foi em frente à sede da ANDE, onde os manifestantes exibiram bandeiras de diferentes partidos e gritaram "Julgamento político!" e uma frase que já tem se tornado popular entre os paraguaios para expressar o descontentamento com a gestão do presidente: "Desastre 'ko' (palavra com sentido reafirmativo em guarani) Marito!".
Em frente à ANDE tomou a palavra o político da Frente Guasu Ricardo Canese, representante paraguaio no Parlamento do Mercosul, que se referiu ao presidente como "um bárbaro que atenta contra a soberania nacional".
O político também encorajou os cidadãos a se mobilizar porque "a máxima autoridade da República é o povo".
A manifestação seguiu pela avenida da Espanha, uma das principais da capital, até a sede de Itaipu, onde os cantos foram dirigidos contra o diretor do lado paraguaio, José Alberto Alderete.
Daí, os manifestantes partiram até a Embaixada do Brasil, onde alguns manifestantes subiram nas grades do prédio para exibir a bandeira paraguaia.
Em frente à entrada da embaixada dois dos presentes, com máscaras de Benítez e do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, encenaram os encontros entre os dois líderes, envolvidos por uma rede e com o personagem de Benítez coberto por uma bandeira do Brasil.
Também imitaram o presidente do Paraguai, que expressa sua alegria quando Bolsonaro se refere a ele como 'Marito', enquanto outros manifestantes gritavam para o suposto presidente do Brasil que lhe entregavam o presidente paraguaio em troca de sua soberania.
Em frente à Embaixada, os manifestantes entoaram o hino nacional paraguaio comandado pelo líder do Partido Liberal, Efraín Alegre, que perdeu a Presidência do país para Benítez nas eleições de abril de 2018.
A falta de informação sobre o acordo levou o Congresso paraguaio a convocar diferentes membros do governo na segunda-feira dia 29 para que deem explicações aos senadores. EFE