Órgão de direitos humanos da ONU condena violência na Venezuela

Michelle Bachelet denunciou ação das forças de segurança venezuelanas e grupos pró-governo nas fronteiras da Venezuela com a Colômbia e o Brasil

24/02/2019 - 18h01 (Atualizado em 20/04/2024 - 11h56)

A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, condenou neste domingo (24) a violência por parte das forças de segurança venezuelanas e grupos pró-governo nas fronteiras da Venezuela com a Colômbia e com o Brasil, que deixou pelo menos quatro mortos.

Os episódios violentos de sexta-feira e sábado, nos quais também houve mais de 300 feridos, mostraram "cenas deploráveis", ressaltou em comunicado Bachelet, que pediu ao governo venezuelano que "deixe de empregar o uso excessivo da força contra manifestantes desarmados e cidadãos comuns".

Forças paramilitares

A alta comissária também pediu ao regime do presidente Nicolás Maduro que contenha os grupos pró-governo envolvidos nos incidentes violentos, muitos deles relacionados com o bloqueio da ajuda humanitária que se dirigia à Venezuela.

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"O uso de forças paramilitares e parapoliciais tem uma longa e sinistra história na região, e é muito alarmante vê-las operar de maneira tão clara na Venezuela", afirmou Bachelet.

Outros atores da comunidade internacional também condenaram estes incidentes violentos, caso da União Europeia, que criticou hoje a intimidação às pessoas que se mobilizaram para permitir a entrada de ajuda humanitária na Venezuela e pediu às forças de segurança venezuelanas que permitam sua distribuição.

EM FOTOS: Ajuda humanitária é barrada e tensão aumenta na Venezuela

O sábado (23) era tido como um dia chave para um desfecho da crise política divide a Venezuela entre os partidários do presidente Nicolás Maduro e da oposição, liderada pelo auto-declarado presidente interino Juan Guaidó. Com caminhões de ajuda humanitária vinda dos EUA em Cúcuta e outros mobilizados pelo Brasil em Pacaraima, a oposição pretendia quebrar as barreiras montadas pelas forças militares leais a Maduro. Mas o sábado acabou marcado como um dia de confrontos nas duas fronteiras venezuelanas

Juán Guaidó voltou à Venezuela no dia 4 de março e, uma hora após a sua chegada, convocou uma reunião com os sindicatos e uma nova manifestação contra o governo de Nicolás Maduro. No dia seguinte, Guaidó se reuniu com funcionários públicos e, segundo ele, este foi o 'primeiro passo' para a recuperação da democracia no país

Quando os caminhões se aproximaram do bloqueio sobre a Ponte Francisco de Paula Santander, uma das três passagens fronteiriças para a Venezuela na região de Cúcuta (Colômbia), as forças militares venezuelanas abriram fogo contra os manifestantes que faziam a escolta dos veículos. Durante o confronto, os caminhões com mantimentos pegaram fogo. Os manifestantes tentaram desembarcar o material e depois entraram em confronto direto com os militares pró-Maduro

De acordo com o Ministério das Relações Exteriores colombiano, 285 ficaram feridas nos choques entre militares e manifestantes venezuelanos na fronteira Venezuela-Colômbia

Os choques entre as forças militares pró-Maduro e os manifestantes venezuelanos e colombianos na Ponte Francisco de Paula Santander continuaram por mais de 12 horas. À noite, a polícia colombiana interviu para evacuar a ponte

Na fronteira do Brasil com a Venezuela, em Pacairama (RR), o dia amanheceu com uma grande aglomeração de venezuelanos que aguardavam a chegada dos caminhões com ajuda humanitária brasileira

Duas caminhonetes com alimentos doados pelo Brasil chegaram a passar pelo marco da fronteira com a Venezuela no início da tarde, mas não passaram pelo bloqueio formado pelos militares fiéis a Nicolás Maduro. Os dois veículos brasileiros acabaram sendo retirados da fronteira para evitar confrontos

O recuo dos caminhões brasileiros, no entanto, aumentou o nível de tensão em Pacaraima e um grupo de manifestantes jogou pedras e coquetéis molotovs contra os membros da Guarda Nacional Bolivariana que faziam o bloqueio da passagem fronteiriça, que responderam com bombas de gás lacrimogênio

Um carro e um posto da Guarda Nacional Bolivariana no lado venezuelano da fronteira foram incendiados. Não há relatos de feridos neste confronto

Do outro lado da fronteira, em Santa Elena de Uairén, os conflitos foram mais graves e violentos. Ativistas de direitos humanos confirmaram a morte de quatro pessoas nos choques entre manifestantes a favor da entrada da ajuda humanitária e forças pró-Maduro na cidade desde sexta-feira

A grande mobilização pró-Maduro ocorreu em Caracas, onde movimentos a favor do atual governo levaram milhares às ruas para ouvir o longo discurso do presidente. Na foto se vê um balão gigante do ex-líder venezuelanos, Hugo Chávez

Nicolás Maduro, durante a manifestação em Caracas, desafiou Juan Guaidó a convocar novas eleições, como estaria previsto na Constituição Venezuelana no artigo que a oposição usa para justificar a liderança do presidente da Assembleia Nacional. Maduro também anunciou o rompimento das relações diplomáticas com a Colômbia e disse que, do Brasil, espera receber ajuda legalmente. 'Posso comprar tudo o que os brasileiros quiserem nos oferecer', disse

Juan Guaidó aposta em uma virada no apoio das forças militares leais a Maduro, o que ainda não aconteceu. No sábado, a oposição contabilizou 60 desertores entre membros da Guarda e da Polícia Nacional Bolivariana

O sábado (23) era tido como um dia chave para um desfecho da crise política divide a Venezuela entre os partidários do presidente Nicolás Maduro e da oposição, liderada pelo auto-declarado presidente interino Juan Guaidó. Com caminhões de ajuda humanitária vinda dos EUA em Cúcuta e outros mobilizados pelo Brasil em Pacaraima, a oposição pretendia quebrar as barreiras montadas pelas forças militares leais a Maduro. Mas o sábado acabou marcado como um dia de confrontos nas duas fronteiras venezuelanas