Orgulho e preconceito: afegãs lutam para serem chamadas pelo nome
"Eu luto pela humanidade", diz representante da campanha em Cabul
Internacional|Giorgia Cavicchioli, do R7
Após anos de guerra no Afeganistão e o sofrimento que ela trouxe, mulheres ainda precisam encarar o fato de não terem direito à identidade. Uma tradição centenária no país faz com que mulheres não sejam chamadas pelos seus nomes. Elas são "anônimas" até na hora de serem enterradas: seus túmulos não levam suas identidades. É como se elas nunca tivessem existido.
Para mudar essa tradição, mulheres afegãs lutam para serem chamadas pelos seus nomes por meio do projeto Where is My Name? (Onde está o meu nome?).
Em entrevista exclusiva ao R7, Tahmina Arian, uma representante da campanha, conta que o projeto vai muito além de direitos iguais entre homens e mulheres. "Eu não luto por igualdade de gênero. Eu luto pela humanidade", diz ela.
Leia a entrevista completa:
R7: Me conte sobre a “tradição” que o homem não fala o nome das mulheres?
Tahmina Arian: Os homens se sentem infiéis dizendo o nome das suas mães, mulheres e irmãs em público ou em suas certidões de casamento, certificados de nascimento...
R7: Isso só acontece com casais? Ou sempre acontece com familiares e crianças?
Tahmina: Essa questão é comum com familiares e crianças no Afeganistão. Especialmente em espaços urbanos.
R7: Me conte sobre a campanha Onde Está Meu Nome?
Tahmina: A campanha Onde Está Meu Nome? começou as atividades no dia cinco de julho pela mídia social (Facebook) e grupos que visam lutar pela identidade das mulheres e dar os direitos básicos das mulheres, que é conhecê-las e chamá-las por seus nomes.
R7: O que vocês fazem no projeto?
Tahmina: Nós somos um grupo de jovens garotas de Herat e Cabul. Como ativista da campanha eu vou e falo nas ruas e argumento com pessoas a respeito desse tabu e tradução dos afegãos de porque eles não chamam as mulheres pelos seus nomes. Nós temos páginas no Facebook, Twitter, Instagram e nelas postamos e escrevemos sobre nossas atividades.
R7: Quantas garotas estão fazendo a campanha?
Tahmina: A campanha começou em Herat pelo Facebook e nós nos unimos com Cabul. No movimento, nós temos homens e mulheres. Ao todo são cerca de 13 pessoas.
R7: Qual a participação dos homens? Eles podem participar?
Tahmina: Os homens "iluminados" participam nos chamando por nossos nomes e nos apoiam.
R7: Homens apoiam o movimento?
Tahmina: Nossos homens "iluminados" nos apoiam e, recentemente, também recebemos um dos apoios de nosso líder religioso.
R7: Quem é contra a campanha?
Tahmina: A maioria das pessoas que são misóginas é contra a campanha. Eles criam obstáculos além de não nos apoiar.
R7: Quantas cidades têm a campanha?
Tahmina: Por enquanto Herat e Cabul estão com a campanha no Afeganistão.
R7: Onde você mora? Qual sua profissão? Me conte sobre você.
Tahmina: Meu nome é Tahmina Arian e eu sou uma escritora formada em arte, administração, direito e política. Sou uma ativista de direito das mulheres. Eu moro em Cabul. Como garota eu encarei um monte de problemas para progredir no Afeganistão. Especialmente quando eu luto pelo direito das mulheres.
R7: Você tem medo das pessoas que não gostam do projeto?
Tahmina: Eu não tenho medo. Todos os movimentos de mudança começam com desgostos. É preciso tempo para ser aceito. É um fato que precisamos ter paciência e foco.
R7: O que você e as outras garotas fazem para se proteger?
Tahmina: Nós não temos nenhuma proteção em especial. Nós já aceitamos o risco.
R7: Senhoras mais velhas gostam do projeto? E as mais novas?
Tahmina: Tanto mulheres mais velhas, como as mais novas gostam do projeto porque é sobre a identidade delas.
R7: O que você pensa sobre o sexismo no mundo?
Tahmina: Eu acredito na humanidade. Eu tenho baseado todas as minhas atividades, até agora, pela humanidade. Eu tenho uma tese: Eu não luto por igualdade de gênero. Eu luto pela humanidade.
R7: Quem te inspira como mulher?
Tahmina: Forugh Farrokhzad, que era uma poeta iraniana muito influente. Ela era uma poeta modernista polêmica e uma iconoclasta. Ela escrevia do ponto de vista feminino. Quando as pessoas me perguntam: “O que você quer com os movimentos”? Eu respondo: “Eu luto para reviver Forugh Farrokhzad”.
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