Países da África têm internet cara, problemas de conexão e censura
Acesso cresce rapidamente no continente, mas população de vários países enfrenta barreiras para entrar na rede mundial de computadores
Internacional|Beatriz Sanz, do R7

Mesmo sendo o continente com maior aumento no uso da internet — cerca de 20%, no ano passado em relação a 2016 —, muitos países da África ainda enfrentam diversas dificuldades para se conectar na rede mundial. Os principais problemas são preços altos, cobranças indevidas, fraca infraestrutura e tentativas de censura por parte de agentes do governo.
As conexões lentas também são comuns. Segundo um estudo feito pela organização Akamai, em 2015, a África do Sul, o Zimbábue e a Libéria eram os países com as conexões mais rápidas do continente.
Na região da África subsaariana o acesso é mais limitado. Para além das questões de infraestrutura, é preciso considerar ainda que aspectos sociais de cada país e a interferência governamental também representam grandes barreiras que impedem as nações africanas de se conectarem à rede mundial de computadores.
Governos tentam limitar acesso
Em Uganda, por exemplo, o presidente Yoweri Museveni, que está no poder há 32 anos, instituiu em julho um imposto para o uso de redes sociais.
Desde então, cada usuário que deseje se conectar em sites ou plataformas como Facebook, WhatsApp, Twitter ou Skype precisa pagar uma taxa de 200 xelins, o equivalente a 0,20 centavos.
Museveni defendeu a medida dizendo que as redes sociais são utilizadas para espalhar mentiras. Em comentários feitos no Twitter, uma das plataformas na qual agora há cobrança, ele disse que o uso das redes sociais é um “artigo de luxo”.
Entidades de direitos humanos como a Anistia Internacional criticaram a medida e pediram que o governo acabe com o imposto.
Após a medida, o Facebook cancelou um projeto que visava melhorar a infraestrutura de internet no país.
O jornalista e ativista dos direitos humanos do Saara Ocidental, Malainin Lakhal lembra que a tentativa dos governos de controlar a internet não acontece apenas na África.

Para Lakhal, os políticos têm interesse em limitar o uso das redes sociais para que possam “controlar a opinião pública”.
“As redes sociais são formas baratas e eficazes de mobilizar as pessoas, se bem utilizadas. É também por isso que você notará que os políticos mais bem sucedidos são aqueles que são bem-sucedidos no uso das redes sociais”, argumenta.
Na Tanzânia, os internautas enfrentam outro tipo de cobrança que é direcionada para um público mais restrito, no entanto mais caro.
Um usuário que deseja manter um blog ativo no país precisa pagar uma taxa de aproximadamente R$ 3.900.
Além disso, o governo pode exigir que o blogueiro exclua o conteúdo se acreditar que "pode incomodar, incitar a cometer crimes ou pôr em perigo a segurança nacional".
Caso não apague a publicação em 12 horas, o usuário pode ser obrigado a pagar multas de até 5 milhões de xelins (cerca de 8 mil reais) ou enfrentar uma pena de um ano de prisão.
Segundo dados do banco Mundial, pelo menos 70% da população da Tanzânia vive com R$ 8 reais por dia.
Internet é ‘artigo de luxo’
A internet no continente é mesmo tratada como um “artigo de luxo”, tanto que segundo um levantamento feito pela Cable.co.uk no ano passado mostrou que de 36 territórios pesquisados apenas sete países (Egito, Tunísia, Reunião, Argélia, Ilhas Maurício, Marrocos e Mayotte) tinham pacotes que custavam menos que US$ 50 (cerca de R$ 207).
Na Argélia, que não aparece na lista, um pacote mensal de banda larga custa cerca de US$ 80 dólares (R$ 332, aproximadamente), enquanto a média salarial do país é de cerca de US$ 50.
Além da internet mais barata, o que esses países da lista têm em comum é que todos ficam na região costeira.
O fato de se localizarem mais perto do mar e de outros continentes faz com que a infraestrutura para que a conexão circule seja melhor. Geralmente, as regiões que são mais afastadas e mais centrais enfrentam mais problemas.
Além disso, o relatório Medindo a Sociedade da Informação, lançado no ano passado pela UIT (União Internacional de Telecomunicações), registra que as questões de gênero também impactam o uso da internet.
De acordo com o levantamento, cerca de 25% da população masculina na África tem acesso à rede mundial de computadores. Já entre as mulheres, o índice cai para 19%.
Celulares impulsionam uso da internet
O cantor e poeta queniano Ndungi Githuku conta que em seu país, ela não enfrenta muitos problemas de conexão. Ele trabalha usando a internet para enviar suas músicas para os produtores. Parte do seu trabalho pode ser feito pelo celular e para o restante, o artista utiliza o notebook e um modem portátil.
O Quênia investiu fortemente na instalação de banda larga visando dispositivos móveis como celulares. Em 2013, lançou o programa Estratégia Nacional de Banda Larga que aumentou a instalação de fibra ótica em todo o país.

O investimento alto fez efeito e agora o país já aparece em 14º em um estudo que analisou a velocidade da internet móvel.
Com uma conexão de 13,7 megabits por segundo, o país conseguiu o dobro da média global e bateu países como os Estados Unidos.
Githuku revela que nunca teve problemas de conexão com a internet, nem na utilização de redes sociais.
No entanto, ele chama a atenção para uma nova lei, aprovada em maio deste ano “lei que proíbe o abuso de pessoas nas mídias sociais”.
"A lei estabelece as bases para a investigação e repressão de crimes informáticos e cibernéticos, incluindo o assédio cibernético e a publicação de informações falsas”, explica Githuku.
O Comitê de Proteção aos Jornalistas do Quênia (CPJ, na sigla em inglês) teme que o projeto criminalize a liberdade de expressão, pois acredita que “jornalistas e blogueiros provavelmente estarão entre as primeiras vítimas” da lei.














