Pantone escolhe a cor do ano para 2026; saiba como isso é feito
Instituto projeta tendências globais ao transformar cultura, sentimentos e mercado em linguagem visual
Internacional|Do R7
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A cada dezembro, um anúncio movimenta o mundo do design, da moda e do marketing: o Pantone Color Institute revela qual será a tonalidade que rege a tendência do proximo ano em diferentes setores que têm a cor como um importante elemento de identificação.
Para 2026, a escolha recaiu sobre Cloud Dancer, um branco descrito como “equilibrado e esvoaçante”, associado a serenidade, calma e sensação de recomeço. É a primeira vez, desde o início do programa em 1999, que a empresa elege oficialmente um branco como protagonista dessa narrativa cromática anual.
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Cloud Dancer é apresentado pela Pantone como um “sussurro de paz em um mundo barulhento”, um tom que funciona como antídoto em meio a uma sociedade frenética, hiperconectada e marcada por conflitos. Segundo a diretora executiva do instituto, Leatrice Eiseman, o branco escolhido remete a um “novo começo” e a um desejo coletivo de “folha em branco”, capaz de simbolizar a vontade de abandonar pensamentos ultrapassados e abrir espaço para novas abordagens. Em um cenário recente de turbulência social e política, a cor é pensada como um convite à clareza e à introspecção.
Como a escolha é feita
O programa Pantone Cor do Ano nasceu justamente dessa intenção de traduzir a cultura pela linguagem visual. Criado em 1999, o projeto tinha como objetivo inicial engajar a comunidade de design e o público em discussões sobre cor, mostrando como acontecimentos globais se refletem nas paletas que cercam as pessoas. Ao completar 25 anos, a iniciativa se consolidou como símbolo cultural: suas escolhas influenciam desenvolvimento de produtos e decisões de compra em setores como moda, cosméticos, mobiliário, automotivo, design industrial, embalagem e decoração.
Por trás de cada escolha, há um processo de pesquisa que se estende ao longo do ano. Um time global de especialistas em cor faz uma verdadeira varredura pelo mundo, analisando influências que vão da indústria do entretenimento e dos filmes em produção a coleções de arte, novos artistas, moda, design em geral, destinos de viagem aspiracionais, novos estilos de vida e até grandes eventos esportivos. Condições socioeconômicas, novas tecnologias, materiais, texturas, efeitos visuais, plataformas de mídia social e movimentos de comportamento também entram na equação.
A partir desse panorama, os especialistas começam identificando famílias de cores que “borbulham” em diferentes áreas do design e do consumo. Em seguida, refinam a busca até chegar ao tom exato que sintetiza o momento. A escolha não é apenas técnica: envolve avaliar o significado emocional da cor e o que ela parece oferecer às pessoas naquele ponto da história. Segundo a vice-presidente do instituto, Laurie Pressman, a missão é “tomar a temperatura” do mundo e transformar esse diagnóstico em uma tonalidade que responda ao que as pessoas sentem que precisam.
O nome da cor é outro elemento decisivo. A Pantone destaca que, ao ouvir um nome, o público imediatamente cria uma imagem mental e associações afetivas. Por isso, a equipe avalia cuidadosamente como o batismo reforça a mensagem pretendida. No caso de Cloud Dancer (dançarino da nuvem, em tradução livre), além da ideia de leveza e movimento, a tonalidade foi calibrada para ter um equilíbrio entre subtons frios e quentes. Os especialistas explicam que um branco excessivamente brilhante poderia remeter à frieza, esterilidade e isolamento, o oposto da autenticidade e do acolhimento que buscavam comunicar.
O processo de seleção é descrito pela própria Pantone como “puro” e isento de agenda comercial. Os integrantes do Pantone Color Institute vêm de diferentes áreas do design, culturas e geografias, muitos com estúdios próprios, atuação em pesquisa de tendências e docência. O que os une é a capacidade de “ver o mundo pelas lentes da cor”. As conversas sobre a Cor do Ano não acontecem em uma única reunião, mas em um diálogo contínuo, em que perspectivas variadas são confrontadas até que se chegue a um consenso sobre a tonalidade que melhor traduz o momento.
Exemplos recentes ajudam a entender essa lógica. Mocha Mousse, eleito para 2025, é descrito como um marrom suave e envolvente, que evoca cacau, chocolate e café, associando-se a conforto, prazer cotidiano e conexão com a natureza. A escolha foi lida como resposta à busca por harmonia e sensação de “pés no chão”. Já Peach Fuzz, Cor do Ano de 2024, foi apresentada como um tom delicado e acolhedor, ligado a compaixão humana e vínculo emocional. Em anos específicos, a Pantone recorreu inclusive a pares de cores — como Rose Quartz e Serenity (2016) ou Ultimate Gray e Illuminating (2021) — ou criou um tom totalmente novo, caso de Very Peri em 2022, quando nenhum matiz existente parecia adequado à mensagem.
A partir do anúncio, o impacto se espalha em cascata pela economia criativa. Marcas de moda e beleza lançam coleções alinhadas ao tom eleito, designers de interiores o incorporam a paletas de ambientes, e campanhas publicitárias exploram a narrativa proposta pelo instituto. No caso de Mocha Mousse, por exemplo, a Pantone articulou parcerias com empresas de tecnologia, decoração e até iluminação urbana, reforçando a presença do marrom terroso em produtos, vitrines, fachadas e mídias digitais. A lógica se repete com Cloud Dancer, que tende a aparecer em roupas de linhas fluídas, tecidos naturais, objetos de decoração e projetos de identidade visual que buscam comunicar serenidade.
O que é a Pantone
A autoridade da Pantone nesse campo não surgiu do nada. A empresa nasceu de um problema prático do setor gráfico: como garantir que um vermelho ou um azul fossem reproduzidos exatamente igual em diferentes impressoras, materiais e lugares. A resposta foi o desenvolvimento, nos anos 1960, do Pantone Matching System, um sistema de padronização cromática que se tornou referência global e hoje reúne milhares de cores catalogadas. Ao longo das décadas, a companhia expandiu sua atuação para têxteis, plásticos e ambientes digitais, transformando sua cartela de códigos em uma espécie de “língua franca” da cor para designers e indústrias.
Essa trajetória se conecta a uma história ainda mais antiga, contada por naturalistas que tentavam descrever cientificamente as cores da natureza. No fim do século 19 e início do 20, o ornitólogo Robert Ridgway criou volumosos dicionários cromáticos para identificar com precisão tons de aves e outros elementos naturais, com centenas de amostras pintadas à mão. Esses trabalhos ajudaram a estabelecer uma base para sistemas de referência de cor, posteriormente apropriados e ampliados por empresas como a Pantone. Ao organizar, nomear e padronizar tonalidades, essas iniciativas tornaram possível falar sobre cor com rigor técnico e alcance global.
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