Paquistão concede condecoração civil a príncipe herdeiro saudita
Reputação de Mohammed bin Salman ficou abalada no cenário internacional por suposta responsabilidade no assassinato do jornalista Jamal Khashoggi
Internacional|Da EFE
O governo do Paquistão concedeu nesta segunda-feira (18) sua máxima condecoração civil ao príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, cuja reputação ficou abalada no cenário internacional por sua suposta responsabilidade no assassinato do jornalista Jamal Khashoggi.
Um dia depois do anúncio de um investimento multimilionário no Paquistão, o presidente deste país, Arif Alvi, concedeu a medalha Nishan-e-Pakistan a Bin Salman "por seu extraordinário apoio para revitalizar a relação bilateral entre o Paquistão e a Arábia Saudita" em um ato transmitido ao vivo pela emissora de televisão estatal do país do sul da Ásia.
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Bin Salman agradeceu a condecoração e afirmou que "as fraternais relações entre o reino e o Paquistão se concentram no princípio da solidariedade islâmica".
A cerimônia aconteceu no Palácio Presidencial com a presença do primeiro-ministro Imran Khan, do chefe do Estado-Maior do exército, Qamar Javed Bajwa, além de vários ministros e autoridades.
O príncipe saudita se reuniu separadamente antes da cerimônia com Alvi e com Bajwa e discutiu com este último as "iniciativas do Paquistão no processo de paz entre os Estados Unidos e os talibãs" afegãos.
Bin Salman chegou ontem a Islamabad, em um momento no qual sua reputação está abalada internacionalmente por sua suposta responsabilidade no assassinato do jornalista saudita crítico com o regime de Riad, Jamal Khashoggi, ocorrido em 2 de outubro do ano passado no consulado do reino sunita em Istambul, na Turquia.
Apesar disso, o príncipe herdeiro foi recebido com todas as honras no Paquistão, com caças de combate acompanhando seu avião. As máximas autoridades paquistanesas o receberam no aeroporto e Bin Salman se hospedou ontem à noite na residência oficial do primeiro-ministro.
A delegação saudita assinou ontem sete acordos comerciais e de investimento avaliados em US$ 20 bilhões em campos como a mineração, o petróleo e as energias renováveis.
Esses investimentos representam um salva-vidas para o Paquistão, que atravessa um difícil momento econômico com um déficit fiscal de 6,6% do PIB (Produto Interno Bruto), um déficit comercial e uma deficiência de divisas, por isso negocia com o FMI (Fundo Monetário Internacional) um empréstimo de até US$ 12 bilhões.
Em outro gesto de amizade com seu histórico aliado, Bin Salman determinou hoje a libertação de 2.107 paquistaneses presos na Arábia Saudita, segundo informou no Twitter o ministro de Informação, Fawad Hussain.
Cerca de 2,5 milhões de paquistaneses trabalham na Arábia Saudita e as remessas que enviam são fundamentais para a economia do Paquistão, mas existe a percepção de que os mesmos são alvos de maus-tratos em território saudita e milhares cumprem penas de prisão.
Além disso, a viagem do príncipe saudita acontece em um momento de tensão entre Índia e Paquistão por causa do atentado na última quinta-feira contra as forças de segurança na Caxemira indiana, no qual morreram pelo menos 42 policiais e do qual o governo indiano responsabiliza Islamabad.
Bin Salman deixará hoje o Paquistão e chegará amanhã à Índia, onde sua delegação tentará reduzir a tensão entre os dois países vizinhos, que são potências nucleares, segundo afirmou em uma conferência de imprensa o ministro de Relações Exteriores saudita, Adel al Jubeir.