Para não ser preso, Assange ficou 2.429 dias na embaixada do Equador
Perseguição a fundador do Wikileaks remonta a 2010, quando ele publicou informações confidenciais de governo dos EUA. Veja datas importantes
Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7
Preso nesta quinta-feira (11), o fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, passou exatos 2.429 dias na embaixada do Equador em Londres — tudo para evitar uma extradição para a Suécia e, posteriormente, para os Estados Unidos. A privação de liberdade começou em 12 de agosto de 2012, quando o jornalista, escritor e ciberativista foi admitido na legação equatoriana na capital do Reino Unido como asilado político.
A perseguição das autoridades a Assange, entretanto, data do início de 2010 — quando o fundador do site Wikileaks passou a publicar informações confidenciais vazadas de governos ou empresas. À época, a página havia veiculado um vídeo militar dos Estados Unidos mostrando um ataque de helicópteros a Bagdá que matou 12 pessoas no ano de 2007.
Em 31 de agosto de 2010, quando estava em Estocolmo, na Suécia, Assange foi questionado pelas autoridades locais por acusações de estupro e molestamento — que ele sempre negou. Em 18 de novembro de 2010, um mandado de prisão internacional foi emitido para o ciberativista para que ele pudesse responder pelas suspeitas de estupro, molestamento e coação ilegal.
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Assange se entregou para a polícia de Londres em 7 de dezembro de 2010 para ser questionado sobre as acusações e permaneceu sob custódia até 16 de dezembro de 2010 — quando recebeu liberdade condicional pelo pagamento de uma fiança de 240.000 libras (aproximadamente R$ 1.202.472, em valores atualizados), financiada por seus apoiadores.
No dia 2 de novembro de 2011, Assange perdeu, na Justiça, um recurso contra sua extradição para a Suécia, depois que um juiz entendeu que a medida não violaria seus direitos humanos.
Em junho de 2012, ao ser acusado de violar as condições de sua condicional, Assange solicitou asilo político na embaixada do Equador em Londres. A proteção foi concedida em agosto seguinte. Em 30 de dezembro de 2012, o ciberativista apareceu na porta da embaixada para dizer que as portas estavam abertas para que as autoridades pudessem conversar com ele afim de evitar sua extradição à Suécia.
Em 13 de junho de 2013, Julian Assange confirmou que não iria deixar a embaixada do Equador em Londres mesmo que as acusações envolvendo abusos sexuais na Suécia fossem arquivadas, por receio de ser extraditado para os Estados Unidos.
Em 16 de julho de 2014, um juiz decidiu manter o mandado de prisão internacional contra Assange pelas denúncias de estupro e molestamento. No mesmo ano, ele perdeu uma segunda apelação na Justiça. Depois de ser questionado a respeito dos casos por autoridades suecas na própria embaixada, parte das investigações sobre abusos foram suspensas em 13 de agosto de 2015.
Um grupo de trabalho da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre detenções arbitrárias declarou que Assange estava sendo "arbitrariamente detido" e pediu às autoridades internacionais que pusessem um fim à "privação de liberdade" do fundador do Wikileaks em 5 de fevereiro de 2016. Naquele ano, Assange foi questionado por autoridades suecas na embaixada de Londres a respeito das acusações de abuso sexual que ainda pendiam contra ele.
Já em 21 de abril de 2017, depois de especulações de que Assange poria um fim ao próprio exílio, o procurador-geral dos Estados Unidos, Jeff Sessions, declarou que a prisão do ciberativista continuava sendo uma prioridade para o país. Em 19 de maio de 2017, todas as acusações contra Assange envolvendo abusos sexuais na Suécia foram suspensas.
Em 28 de março de 2018, a embaixada do Equador em Londres suspendeu o acesso de Julian Assange à internet, alegando que ele havia violado os termos de seu asilo e interferido em assuntos de Estado. O fundador do Wikileaks foi submetido a novas regras para o asilo. Ao longo dos meses seguintes, o ciberativista contestou as normas, afirmando que elas violavam seus direitos humanos.
Assange ainda foi nomeado em um documento do Departamento de Justiça dos Estados Unidos no dia 26 de novembro de 2018 e o Wikileaks declarou que o ciberativista estava sendo processado em segredo no país.
Em 2 de abril de 2019, o presidente equatoriano, Lenín Moreno, declarou que o tratamento dispensado a Assange em relação ao asilo político estava em linha com a lei internacional, mas que sua situação na embaixada não poderia ser “estendida indefinidamente".
Dias depois, o Wikileaks divulgou que seu fundador vinha sendo alvo de uma operação de espionagem sofisticada na legação equatoriana. Finalmente, Julian Assange foi preso pela polícia britânica e retirado do local nesta quinta-feira (11), depois que o Equador revogou abruptamente seu asilo.
Em comunicado após a detenção, promotores norte-americanos disseram que Assange é denunciado pelo crime de conspiração por tentativa de acessar um computador secreto do governo dos Estados Unidos junto à ex-analista de inteligência do Exército Chelsea Manning no ano de 2010.