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Paraguai quer recuperar atraso de décadas e atrai empresas brasileiras para deixar de ser uma sociedade agrícola

País é um dos que mais crescem e, segundo economista, precisa entrar na era industrial

Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7

Mercosul
torna o Paraguai ainda mais atraente para empresas
Mercosul torna o Paraguai ainda mais atraente para empresas

À primeira vista, a ideia de um Paraguai moderno, com uma das maiores economias da América do Sul, alto nível de industrialização e investimentos chegando sem barreiras remete ao ano 1865. Depois o país foi devastado na famosa Guerra do Paraguai, da qual participaram Brasil, Argentina e Uruguai, com praticamente metade da população paraguaia tendo sido morta. Passado mais de um século e meio, a nação volta a sonhar em ser uma referência econômica no continente e, desta vez trocando o caminho da guerra pelo da integração, principalmente com o Brasil.

A Lei Maquila, criada em 2000, tem cada vez mais conquistado espaço e atraído empresas de outros países, boa parte brasileiras, com isenção de impostos para importar maquinários e matéria-prima, além de facilitar estas empresas a se instalarem no próprio país, com um custo muito menor, para realizar a própria produção e redirecioná-la aos seus países de origem.

Para o economista Denis Rappaport, mestre em Administração pela Duke University (EUA), a menor regulamentação (com impostos mais baixos) e leis trabalhistas e ambientais mais flexíveis tornam o custo de produção mais baixo, especificamente em cima de empresas caracterizadas pelo intenso uso de mão de obra. Ele acrescenta ainda que, por causa da integração do Mercosul, as facilidades para países como Brasil e Argentina aumentam ainda mais.

— Argentina e Brasil têm regulamentações mais pesadas, no mercado de trabalho elas são extremamente rígidas na Argentina e, apesar de menores, também são rígidas no Brasil. As empresas destes países acabam tendo condições de produzir com um custo mais baixo no Paraguai, com energia mais barata vinda de Itaipu (usina) e, por serem parceiros no Mercosul, podem vender sem o imposto de importação para os países de origem das empresas.


Ele se refere especificamente ao setor que utiliza mão de obra barata, já que setores como o tecnológico continuam incipientes no Paraguai e, segundo o economista, não têm poder atrativo neste momento. Rappaport acredita que a economia do Paraguai esteja vivendo um momento propício para dar um grande salto, que durará anos e se compara ao do Brasil nos anos 40,50 e 60 e ao da China a partir de metade do século passado. Atrair empresas, segundo ele, é uma estratégia fundamental para o Paraguai.

— Isso possibilita um crescimento contínuo. O Paraguai vai continuar sendo mais barato por muitos anos. Mas, neste período, tem a grande chance de fazer uma importante transição, de uma sociedade agrária para industrial. Esse seria o primeiro salto. O segundo, daqui a muitos anos, seria o da sociedade industrial para a pós-industrial, quando os países mais desenvolvidos têm a maior parte do PIB vinda dos serviços, no momento em que a necessidade de mão de obra também migra para este setor (em que se inclui tecnologia, por exemplo).


Ele considera este um caminho legítimo de desenvolvimento, sem entrar em questões ideológicas, mas defendendo que o Estado continue a ter um papel de facilitador para as empresas privadas investirem e produzirem com segurança e um mínimo de tranquilidade.

— A existência de condições mais favoráveis para a iniciativa privada sempre atrai o investidor privado. O governo tem de dar condições de logística para isso prosperar. A presença excessiva do governo em geral desestimula a iniciativa privada. O Paraguai neste momento está em um momento de desregulamentação da economia, o que torna a taxa de retorno mais atraente.


No momento, mais de 60 "maquiladoras", quase um terço vindas do Brasil, atuam em várias áreas no Paraguai, como indústria têxtil, confecção, indústria de plástico, brinquedos e autopeças. Há também empresas mistas, divididas entre investidores brasileiros, argentinos e locais e investimentos de empresas do Japão, Coreia do Sul e Espanha.

Geração para o futuro

Mesmo sendo uma economia ainda dependente em 50% das exportações agrícolas, o PIB do país chegou a ter o terceiro maior crescimento do mundo em 2013, chegando a 14,1%, segundo o Banco Mundial. E cresceu cerca de 4% em 2016. Por ser mais próximo do que a China, o Paraguai também se torna atraente como fornecedor de matéria-prima, segundo Rappaport.

Críticos deste sistema dizem que o Paraguai se tornou uma imensa fábrica de produtos de baixo valor agregado e que a desiguldade social, os baixos salários e o crime organizado são problemas que cresceram. Para Rappaport, porém, não há como pular etapas em um plano de desenvolvimento.

— A única maneira de aumentar os salários dos trabalhadores paraguaios em um médio prazo é gerando empregos. Isso (as empresas maquiladoras) vai permitir que as pessoas se qualifiquem, depois de um tempo passem a ganhar mais, mantenham seus filhos na escola para que as próximas gerações sejam mais qualificadas e ganhem ainda mais. Nenhuma economia tem como saltar degraus, o Paraguai tem de fazer essa primeira parte.

Metade das cidades mais caras para se viver na América Latina fica no Brasil

Não fazer nada para incrementar a indústria paraguaia aumentaria ainda mais os problemas sociais, segundo ele. Rappaport acredita que, assim como nos anos 50 no Brasil, com a vinda de multinacionais automobilísticas, o estímulo ao parque industrial será uma consequência para o Paraguai.

— As indústrias automobilísticas que vieram para o Brasil abriram espaço para a criação de outras indústrias no país, como a de autopeças. O fato de estarem sendo instaladas indústrias brasileiras no Paraguai vai permitr que indústrias locais se desenvolvam para fornecer para estas empresas de capital brasileiro. Assim se cria uma economia indireta que é muito melhor do que não ter nada. O Paraguai não pode aceitar ficar atrás economicamente e não fazer nada para recuperar essa defasagem.

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