Petro diz que o problema de Maduro é a ‘falta de democracia’, mas que não tem vínculo com o narcotráfico
Presidente colombiano afirma que tensões com os EUA estão ligadas ao petróleo
Internacional|Isa Soares, Vasco Cotovio e Mauricio Torres, da CNN Internacional
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Em meio às crescentes tensões entre os Estados Unidos e a Venezuela, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, disse à CNN Internacional nesta terça-feira (25) que seu país não detectou que o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, seja um líder do narcotráfico, como afirmam os EUA, e considerou que o problema de Maduro é a “falta de democracia e de diálogo” em sua nação.
Durante uma entrevista exclusiva com Isa Soares em Bogotá, Petro falou sobre a situação na região um dia depois que entrou em vigor a designação com a qual os EUA classificam como organização terrorista internacional o chamado Cartel de los Soles, um suposto grupo que, segundo Washington, dedica-se ao tráfico de narcóticos, lavagem de dinheiro e corrupção de funcionários, e cuja liderança atribui a Maduro. Caracas, por sua vez, rejeita tanto a existência do Cartel quanto as acusações contra Maduro.
“O problema de Maduro se chama democracia, eu reconheço assim, falta de democracia e de diálogo. Nenhuma investigação colombiana, que é independente do presidente e em anos em que eu não fui presidente, nos mostra uma relação do narcotráfico colombiano com Maduro”, disse Petro quando a CNN Internacional lhe perguntou se considera Maduro um líder do narcotráfico, em uma das poucas entrevistas internacionais que o presidente colombiano concedeu desde que assumiu o cargo, em agosto de 2022.
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Petro insistiu durante a entrevista que o problema de Maduro era a “falta de democracia” e acrescentou: “Não estou dizendo que não seja ditador, porque as ditaduras se encaixam no conceito da falta de democracia. Umas mais que outras, mas assim são”.
Também destacou que, de sua perspectiva, as tensões entre os EUA e a Venezuela se devem ao fato de que Washington quer o petróleo venezuelano e, ao mesmo tempo, Maduro não deu ouvidos aos chamados para que haja democracia na Venezuela.
“O que está por trás é o mesmo que está por trás da guerra da Ucrânia: petróleo, petróleo (...) A Venezuela tem uma das maiores ou a maior reserva do mundo em petróleo até agora, pesado, cuidado com essa definição, e na Ucrânia há reservas e, em geral, todas as guerras deste século tiveram a ver com o petróleo”, disse Petro.
“A lógica venezuelana de Maduro, não de toda a sociedade venezuelana, é permanecer no poder tal qual, com bases ilegítimas, sim. Porque eu disse a Maduro: ‘É hora de mudanças e é hora de eleições livres’. Antes, eu disse a Maduro: ‘Compartilhar o poder para ganhar confiança entre os dois lados e ter verdadeiras eleições livres’”, acrescentou o mandatário colombiano.
Maduro assumiu a Presidência da Venezuela em 2013, após a morte do então presidente Hugo Chávez, e em 2024 foi proclamado vencedor de eleições controversas cujos resultados a oposição desconheceu. Segundo o bloco opositor, o verdadeiro vencedor do pleito foi o ex-embaixador Edmundo González Urrutia, impulsionado pela líder opositora María Corina Machado, reconhecida este ano com o Prêmio Nobel da Paz.
Maduro diz que seu triunfo em 2024 foi legal e afirma que o objetivo das recentes manobras militares dos EUA em águas do Caribe e do Pacífico não é combater o narcotráfico, como assegura Washington, mas desestabilizar seu Governo.
Essas ações incluem o envio de navios e aviões de guerra para a zona e os ataques com os quais forças norte-americanas destruíram até agora 22 embarcações que supostamente transportavam drogas.
Questionado sobre isso durante a conversa desta terça-feira, Petro insistiu que o Governo de Donald Trump na realidade não quer acabar com os narcotraficantes, mas que os EUA buscam “uma negociação sobre petróleo”.
“Eu acredito que a lógica de Trump é essa mesma. Não está pensando na democratização da Venezuela nem muito menos no narcotráfico”, disse.
A CNN Internacional entrou em contato com a Casa Branca e com o Governo da Venezuela para pedir comentários sobre as declarações de Petro e aguarda resposta.
Por sua vez, um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA disse em um comunicado nesta quarta-feira (26) que o Governo de Trump “se mantém firme em suas operações contra as drogas no Caribe e em seu compromisso de proteger os norte-americanos do veneno letal do regime de Maduro”.
Petro também falou com a CNN Internacional sobre as tensões que seu próprio Governo mantém com os EUA.
A mais recente delas começou nesta semana, devido à publicação por um veículo de comunicação na Colômbia de que dois altos funcionários, o diretor de Inteligência, Wilmar Mejía, e o general Juan Miguel Huertas, supostamente têm vínculos com as dissidências da extinta guerrilha das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Tanto Mejía quanto Huertas negam que seja assim.
Na segunda-feira (24), o presidente da Colômbia publicou mensagens em suas redes sociais, nas quais rejeitou as acusações contra seus colaboradores e disse que a CIA (Agência Central de Inteligência) dos EUA está por trás delas.
Durante o encontro com a CNN Internacional nesta terça-feira, Petro insistiu que seus funcionários não têm nexos com as dissidências das FARC e assegurou que a CIA recebe informações errôneas e que ele apoiará sua permanência na Colômbia enquanto a Agência não “conspirar” contra a soberania do país.
“No Exército, busco a separação absoluta de qualquer oficial do crime”, disse o mandatário.
“A CIA continua aqui na Colômbia enquanto souber que persegue narcotraficantes, mas se está conspirando contra a soberania da Colômbia, pois não vai poder ser nossa parceira”, ressaltou.
A CNN Internacional entrou em contato com a CIA para pedir comentários e aguarda resposta.
Os desencontros entre os EUA e a Colômbia têm sido recorrentes ao longo do ano, por temas diversos como a migração ou as tarifas, e se intensificaram em outubro quando Trump acusou Petro de ser “um líder do narcotráfico que incentiva a produção massiva de drogas”.
O mandatário colombiano — que está em seus últimos nove meses de gestão e entregará o poder em agosto de 2026 — desde então rejeitou as acusações.
Mais ainda, Petro assegurou na entrevista desta terça-feira que, ao contrário do que afirma Trump, seu Governo combate o narcotráfico com força e fez apreensões históricas de drogas desde que ele assumiu o poder em 2022.
“Trump não foi capaz de me ouvir”, disse o mandatário, e atribuiu a situação ao fato de que seu par dos EUA age com “soberba” e acredita que ele é “um valentão, subversivo, terrorista, coisas do tipo”.
A CNN Internacional pediu comentários à Casa Branca sobre essas declarações de Petro e aguarda resposta.
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