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‘Ping-Pong’ de Gustavo Petro e Donald Trump pode custar caro

Conflito de retóricas elevam tensões entre Colômbia e Estados Unidos

Internacional|do R7, com Sebastián Jiménez Valencia, da CNN Internacional

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LEIA AQUI O RESUMO DA NOTÍCIA

  • Gustavo Petro e Donald Trump trocaram ofensas sobre o combate ao narcotráfico, resultando em um corte significativo de ajuda financeira dos EUA à Colômbia.
  • Após críticas à intervenção militar americana na Venezuela, Trump rotulou Petro como "bandido" e anunciou a suspensão de US$ 230 milhões em ajuda para o país.
  • A ajuda cortada representa uma quebra de uma relação de décadas entre Colômbia e EUA, impactando a luta contra o narcotráfico e a segurança interna.
  • Petro ignora as consequências do corte e intensifica sua retórica nacionalista, convocando mobilizações para contrabalançar a pressão externa e apoiar sua agenda política.

Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

Gustavo Petro, presidente da Colômbia, entrou em conflito com Donald Trump Fernando Frazão/Agência Brasil

Gustavo Petro, que enfrenta Donald Trump pelas ações militares contra o narcotráfico no Caribe e no Pacífico, quis em algum momento desta semana fazer controle de danos diplomáticos, mas depois dobrou a aposta e o chamou de “monstro”.

O presidente dos Estados Unidos, em resposta, o rotulou como “bandido” e cortou uma importante ajuda financeira.


O presidente da Colômbia quer manter sua retórica apesar das consequências no mundo real. As reivindicações políticas são uma prioridade acima da diplomacia, da cooperação e do comércio? Uma revisão dos fatos dá conta das consequências da “diplomacia” (ou falta dela) por tuítes e declarações.

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Depois de criticar, na semana passada, as “ações violentas” e uma possível intervenção militar americana na Venezuela, Petro teve que encarar o anúncio de Donald Trump sobre o fim da ajuda financeira à Colômbia, já cumprida, e uma ameaça de tarifas, que até o momento não foi executada.


O governo fez uma reunião com o encarregado de negócios dos EUA, John McNamara, para tentar diminuir a tensão após a ameaça de tarifas. Mas pouco depois retomou seu discurso contra Trump com epítetos e acusações.

No decorrer da semana, Petro disse que o “primeiro responsável” pela crise na Venezuela é Trump, que o presidente dos EUA foi “mal informado” sobre o suposto tráfico de cocaína da Colômbia para os EUA via Venezuela e assinalou que qualquer eventual ação terrestre dos Estados Unidos em território colombiano com o argumento de combater o narcotráfico “é invasão e ruptura da soberania nacional”.


Além disso, convocou a população a se concentrar nesta sexta-feira (24) na Praça de Bolívar de Bogotá, no que qualificou como um ato de defesa frente a “um monstro como Trump”.

O resultado das novas declarações? Na quarta-feira (22), Trump confirmou que os EUA suspenderam todos os pagamentos e subsídios à Colômbia, cumprindo assim a ameaça do fim de semana. “Ele é um bandido, é um cara muito mau que causou muito dano ao seu país”, disse Trump.


A suspensão da assistência financeira à Colômbia é uma ruptura de uma relação de décadas em matéria de segurança e luta contra o narcotráfico. Neste ano fiscal, Washington havia desembolsado US$ 230 milhões ao país (de US$ 413 aprovados), um valor que já representava uma forte redução frente aos US$ 720 milhões do ano anterior.

Petro desconsiderou na quinta-feira (23) a importância da ajuda suspensa, assegurando que afeta apenas “problemas pontuais” com os recursos militares.

“O que acontece se nos tirarem a ajuda? Na minha opinião, nada (…) Nunca vi no orçamento da Colômbia um único dólar de ajuda”, disse.

O mandatário assegurou que esse dinheiro “não é para o governo” da Colômbia, mas para “as ONGs que a USAID (a agora fechada Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) maneja … para eles mesmos”.

Mas o impacto, segundo analistas, também poderia se refletir em um enfraquecimento institucional e em um aumento dos cultivos de folha de coca no próximo balanço anual.

Especialistas advertem que o corte afetará diretamente unidades policiais e militares, assim como a implementação do acordo de paz com as FARC, em especial o ponto sobre drogas ilícitas.

O ex-presidente Juan Manuel Santos disse: “Quem ganha? O crime organizado!”, ao se referir à consequência natural da falta de cooperação na luta contra o narcotráfico pela ausência dessa assistência.

Enquanto isso, Petro continua falando. E, se as repercussões econômicas escalarem, o presidente deveria levar em conta que se trata do principal parceiro comercial do país. Em 2024, as exportações para os EUA foram de US$ 14,337 bilhões, que são 28,9% das exportações totais do país, segundo dados da Associação Nacional de Comércio Exterior. E as importações dos EUA foram de US$ 14,975 bilhões, as quais representaram 25,6%, de acordo com um relatório da Associação Nacional de Empresários.

Novas tarifas poderiam afetar severamente setores-chave como o das flores, que em 2024 registrou US$ 1,856 bilhão para os exportadores colombianos, segundo a Asocolflores; o das remessas, pois no ano passado chegaram US$ 11,848 bilhões em remessas à Colômbia, equivalentes a 2,3% do PIB, de acordo com o BBVA Research; e o do produto símbolo colombiano, o café, que teve receita de exportação de US$ 3,621 bilhões em 2024, segundo a Federação Nacional de Cafeicultores.

Vale lembrar que Petro e a Colômbia já passaram por esta situação: quando Petro bloqueou voos com deportados em janeiro, sua então chanceler Laura Sarabia teve que agir rápido para acalmar Trump.

As declarações incessantes de Petro são sua forma de fazer política, que não difere muito da de Trump e do próprio Nicolás Maduro: retórica para motivar suas bases, palavras chamativas que depois, no cenário da diplomacia, alguém deve amenizar.

O presidente da Câmara de Representantes dos EUA, Mike Johnson, teve que fazer o mesmo ao descrever como mera “sátira” o vídeo de IA publicado por Trump em que ele lança excrementos em quem protesta contra ele.

Mas Trump tem a faca e o queijo na mão, ou seja, o talão de cheques. E não é a primeira vez que critica um presidente da Colômbia, inclusive o fez em seu mandato anterior com o predecessor de Petro, Iván Duque, um governante de direita.

Em abril de 2019, Trump disse em tom de repreensão: “Ele é seu novo presidente, mas, infelizmente, o negócio das drogas aumentou 50% desde que ele chegou”.

A diferença? Duque não respondeu diretamente a Trump, disse que buscava “a solidariedade do mundo para enfrentar o narcotráfico com corresponsabilidade” e deixou a conversa nesse ponto.

Mas Petro se entrincheira em sua posição e aprofunda a disputa. Está informalmente em campanha, mira as eleições de 2026, busca falar em palanque e convoca mobilizações.

Em meio a este contexto, além disso, ele retomou a ideia de convocar uma Assembleia Nacional Constituinte. Na sua forma de fazer política, ele certamente considera que ter um inimigo externo o ajuda com seu eleitorado, apela ao nacionalismo também para que na agenda pública não esteja o desempenho de sua administração, e pode aspirar que criticar Trump funcione para ele como funcionou para Carney, no Canadá, ou para Lula, no Brasil.

Mas as pessoas não votam apenas pela indignação que Trump e seus ímpetos de intervenção militar na região possam ou não causar: votam também — e sobretudo — com o bolso e a percepção em relação à ordem pública.

Por um lado, no mandato de Petro a inflação baixou, mas é um aspecto que os especialistas atribuem à intervenção do Banco da República, com cuja diretoria o presidente tem se confrontado.

Em matéria de PIB, Petro brilha, pois houve uma queda acentuada no crescimento após a recuperação pós-pandemia, pouco antes de sua chegada ao poder. E no que o presidente é mais criticado é no déficit fiscal, que em 2024 chegou a 6,7%.

Uma pesquisa recente mostra que a situação econômica é uma das principais preocupações para os colombianos. Em ordem pública, a política de negociação conhecida como “paz total” não deu resultados concretos, mas sim muitas críticas internas.

E em um país tão polarizado como a Colômbia, Petro poderia levar em conta que não tem maiorias e que os ventos favoreceram seus opositores: Álvaro Uribe acaba de ser absolvido em seu caso judicial, e isso pode dar um impulso ao seu lado político e enfraquecer o candidato de esquerda, Iván Cepeda, próximo a Petro e que foi parte do processo contra o ex-presidente.

E as sanções de Trump têm sido capitalizadas pelos pré-candidatos da direita para fazer os eleitores verem que não convém ao país perder os milhões de dólares que provêm da assistência dos Estados Unidos, assim como o efeito colateral de um país com menos recursos para a segurança e o enfrentamento ao crime organizado.

A mobilização convocada para esta sexta-feira (outro ato de retórica, de expressão, mais do que de ação) pode não mudar o panorama, e não compensaria o que significam as consequências reais do fim da assistência financeira ou uma possível imposição de tarifas.

Mas Petro continuará pensando em manobrar a política, naquilo em que pretende ser hábil, enquanto Trump lhe dá um banho de realidade.

No pingue-pongue de insultos, Trump tem uma raquete maior e mais sofisticada: a que lhe é dada por ter os dólares que movem a defesa e o comércio colombianos. E nesse jogo, Petro e a Colômbia podem sair perdendo.

Com informações de Gonzalo Zegarra, Betsy Klein e Mauricio Torres, da CNN.

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